Há meses as manifestações de massa que vem ocorrendo no Brasil estão possibilitando a participação de alguns grupos, os chamados "black bloc", de caráter anarquista, no sentido politico e filosófico do termo, tem merecido destaque tanto por parte da opinião pública, quanto do aparato de repressão do chamado "estado democrático de direito", onde estão incluidas forças policiais e até mesmo a justiça.
Apenas para esclarecer, este e outros grupos que se lhes assemelham nas formas de ação, tem como princípio básico de que é possível viver em uma sociedade sem governo e sem organismos de repressão, suas origens remontam a mais de um século. Demonstrações semelhantes tem ocorrido ou ja ocorreram em diversos países, na Europa, nos EUA e de uma forma indireta nos países árabes.
Tais grupos e outros que se inspiram nos princípios do socialism, do marxismo, do leninismo, do trotskismo acreditam piamente que o uso da violência é um instrumento de luta política e social e disso não abrem mão, pouco importando o nível de repressão praticado pelo Estado contra tais manifestações.
Outro aspecto que merece atenção é a idéia de que o Estado, pouco importa se democrático de direito, como imaginam muitos que o Brasil esteja vivendo ou o Estado totalitário ou ditatorial, como também já experimentamos em diversos períodos de nossa história, capitaneado por civis ou militares, tem o chamado monopólio da violência e neste sentido pode usar todas as formas de violência tanto contra sua própria população quanto contra outras nações.
Vários dos partidos que fazem parte da base de apoio do governo federal atualmente tem em suas bases doutrinárias , ideológicas e filosóficas em termos de resquícios ou abertamente princípios bem próximos desta forma de agir do anarquismo e neste sentido são fruto do mesmo expectro ideológico.
É comum tanto para os agentes do Estado quanto para os "black blocs" o uso de mascaras para encobrir os seus rostos e suas identidades. Por inúmeras vezes policiais civis ou militares costumam subir morro, adentrar favelas usando toucas ninjas e deixando de portar crachás de identificação de nomes. É também comum torturadores em dependências policiais ou outras masmorras usarem tais toucas para cometerem toda sorte de violência física e psicológica para extrair falsas confissões, sejam presos políticos ou os chamados presos comuns. É também comum soldados de forças armadas em treinamento ou operações nos teatros de Guerra também terem seus rostos pintados de preto para dificultar a identificação por parte do inimigo. Também é comum em festas tanto religiosas quanto profanas, onde o carnval é o símbolo maior, usarem todo tipo de mascaras, principalmente para ridicularizar autoridades e figuras famosas. Quem não se lembra dos bailes de carnaval em salões majestosos onde se reune ou reunia a elite dominantes também portarem máscaras?
Enfim, o uso de máscaras em diversas situações é comum e normal em várias sociedades e uma forma de livre manifestação cultural, política e social. O problema então passa a ser o uso da violência, tanto por parte dos manifestantes quanto por parte das forças de repressão, quando usam balas mortíferas, balas de borracha, spray de pimenta ou armas químicas como está acontecendo na guerra civil na Síria ou pedras, estilingues, coqeteis Molotov, pistolas que dão choque paralizante e outros instrumentos de intimidação. A repressão, nesses casos, é uma forma do Estado e do governo tentando dizer que continua senhores da situação.
Mesmo as decisões judiciais proibindo o uso de máscaras em manifestações pacíficas tem sido contraditórias. No Rio de Janeiro o governo conseguiu extrair quase que a "forceps" por parte da justiça estadual uma liminar proibindo o uso de mascaras e dando autorização de revista e prisão de quem se recusa a retirar a máscara e a se identificar. Diferente foi a interpretação em Pernambuco e em São Paulo. Parece que este caso vai acabar no STF, para que de uma vez "por todas" interprete a Constituição e defina se o uso de mascara é um direito civil e em que extensão ou se deve ser criminalizado e banido do cenário politico brasileiro. Talvez esta questão acabe se inserindo no contexto da liberdade de rebelião de um povo contra governantes corruptos e prepotentes, ou da desobediência civil pacífica que tanto tem sido usada ao longo da história para promoverem mudanças que as elites e governantes de plantão não desejam ou permitam.
Enquanto os black bloc usam máscaras que tanta celeuma tem causado ultimamente, também as elites governantes usam as suas máscaras para dificultarem suas identificações por parte dos eleitores e contribintes como a corrupçao, a demagogia, a desonestidade, a incompetência, a falta de ética e de escrúpulos no trato da coisa pública, a mentira, o egoism, os privilégios, a intolerância, o uso da violência contra populações excluídas e indefesas, a incúria, a dissimulação e o engodo. Talvez essas mascaras que escodem a verdadeira face da ação política e a identidade de nossas elites também devessem ser proibidas, principalmente em períodos eleitorias! Vale a pena refletir sobre tudo o que está ocorrendo na atualidade brasileira, antes que seja tarde demais!
Juacy da Silva, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia.
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