O ano de 2016 que termina poderia ser chamado de "o ano que não terminou". Ainda se pode dizer dele: 2016 vai prosseguir em 2017 e 2018. Pelo menos. É um ano complexíssimo. Começou em 2015 e veio caminhando entre curvas e despenhadeiros. Começou na controvertida eleição de Dilma Rousseff no fim de 2014 e entrou em 2015 com a cara de crise política e econômica. Em 2016 ela caiu e assumiu Temer. A crise não acabou e nem ameaça acabar. Virou-se a página do mesmo caderno e a escrito do outro lado é igual à anterior.
O que esperar em 2017? – perguntam os brasileiros.
Esperar-se gradual e constante derretimento das instituições e do mundo político. A política vai se transformar numa péssima alquimia. Lembrando que a alquimia, a mãe da química moderna, era uma ciência obscura na Idade Média onde velhos magos tentavam transformar ferro em ouro. Na atual política brasileira não há mais o que inventar. Vão tentar a alquimia pra transformar fero em ouro.l Não tem mais como! Por detrás dos velhos alquimistas medievais havia muitos propósitos éticos e espiritualistas. Na política atual já não há mais propósitos.
Veremos em 2018 o re-nascer de propósitos éticos, de representação social e re-construção de um país que derreteu nesses últimos anos sob fogo cerrado do banditismo. Aqui, sim, se assemelha aos antigos salteadores de estradas e caminhos na Idade Média. Começa a se formar de fato o inconsciente coletivo brasileiro, apoiado por um péssimo conselheiro: a indignação. Ela puxa a intolerância e a sensação de que é preciso respeitar a cidadania que foi afogada na bagunça.
Por inconsciente coletivo, que é um termo da psicanálise, entenda-se aquela onda que se forma dentro de um meio social, sem que tenha sido comunicada formalmente a todos, mas cobre-os como se fosse um véu da mesma informação. No Brasil o inconsciente coletivo está se formando pra cidadania com esses ingredientes. Não é um processo rápido. Longo e doloroso. Melhor tarde do que nunca.
Encerro este artigo lembrando Winston Churchill, quando assumiu em 1940 o posto de primeiro-ministro na Inglaterra, com o país bombardeado pelos alemães e disse: "Não tenho nada a oferecer, para além de sangue, sofrimento, lágrimas e suor."
É o que temos pra 2017!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso