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Pedro, do medo à perseguição

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Sou obrigado a confessar: não me causou surpresa a manobra de Pedro Taques para postergar a minha aposentadoria como conselheiro do Tribunal de Contas de Mato Grosso. Tenho aprendido nesses últimos dias, com essa cada vez mais pitoresca figura, que todo oportunismo e deslealdade pode-se esperar de quem age com medo. Pedro Taques está borrando-se de medo. Quer evitar a todo custo meu retorno à política partidária porque sabe que terá, em mim, um adversário desassombrado e que vai enfrentar os seus arroubos e denunciar sua ineficiência. O governo fracassou no campo ético, administrativo e político.

Foi nessa toada o nosso convívio institucional enquanto dirigentes de instituições públicas. Sempre deixei claro que Pedro estava governador e que ele não era o senhorzinho do Estado. Evidenciei o meu respeito ao cargo, mas nunca me curvei aos caprichos monárquicos de quem se arvorava com frequência a dono. Fez-lhe muito mal essa condição de chefe do Poder Executivo. Pedro Taques acha que essa qualidade lhe é literal e não simbólica. Com isso, apequena cada dia mais o cargo de governador.

O medo cria deslumbres e sandices. Ele, que já foi citado como bom jurista, agora quer transformar o Supremo Tribunal Federal (STF) em órgão de consulta. Foi pedir opinião à Suprema Corte se posso requerer e gozar o meu direito constitucional de aposentadoria voluntária. O Supremo não é órgão consultivo. O oportunismo leva à contradição e às atitudes duvidosas. A covardia desfigura o homem e destrói sua biografia. Deplorável!

Não bastasse isso, ele pede ao ministro do STF, Luiz Fux, que o benefício previdenciário não me seja concedido. O clamor revela o medo acobertado pela fantasia do zelo com aquilo que se diz público. Mas, no baile de máscaras se esconde o cuidado com os próprios interesses. Pedro Taques teme me encarar nos olhos e ficar frente a frente comigo numa eventual disputa. Rasteiro, prefere o tapetão.

Acuado, refugia-se na citação de um julgado que impediu um magistrado de ter acesso à aposentadoria por responder uma sindicância. Argumento frágil e pueril. Taques comete, portanto, um ato obsceno de desonestidade intelectual. Tenta jogar a opinião pública contra mim e induzir o ministro ao erro. Vale-se de uma bravata, quando tenta vender a ideia barata de que o caso é grave e complexo. Que fique claro, portanto: não respondo a qualquer sindicância ou Processo Administrativo Disciplinar (PAD). Logo, não há impedimento.

É importante salientar minha mera condição de investigado, o que não implica em culpa. Aliás, nesta condição ele também deveria estar, já que somos “coleguinhas” de delação. Vale destacar que não sou réu. Não existe denúncia contra mim, muito menos ação. E que também fique claro. Não tenho medo de investigação. A diferença é que para mim restou o pedido de abertura de inquérito, de afastamento do cargo de conselheiro, e busca e apreensão. A ele, absolutamente nada. Quais os motivos para seu ex-colega de instituição, o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, deixá-lo passar incólume?      

Num exercício de refresco à memória, lembro do trecho da colaboração premiada em que o ex-governador afirmou ter tratado de doação de dinheiro – supostamente fruto de propina – para abastecer o ‘caixa dois’ da campanha eleitoral de Taques. O acordo, firmado em reunião na casa do ex-prefeito de Cuiabá Mauro Mendes, seria para que o tucano ‘esquecesse o passado’. A contrapartida dada por Barbosa (além da contribuição financeira) era que não destinasse dinheiro para seu oponente, Lúdio Cabral. Não posso afirmar se de fato isso ocorreu. Não sou presunçoso. Mas a Procuradoria-Geral da República (PGR) precisa investigar este fato, para que não lhe recaia a dura pecha de, especialmente neste caso, ter prevaricado. 

Embora permaneça latente a impressão da existência de dois pesos e duas medidas, quero deixar claro que ainda confio na isenção e tenho fé e esperança no importante serviço prestado pelo Ministério Público Federal (MPF). Tenho sido cobrado por amigos, lideranças políticas e apoiadores constantemente. Todos querem saber quando denunciarei ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) os atos contínuos de Janot. Mas escolho acreditar que a instituição não fora contaminada pelo processo político-eleitoral.

 

Espero que Pedro Taques deixe o medo de lado e cumpra a formalidade de mandar a publicação do meu ato de aposentadoria voluntária para o Diário Oficial. O processo já foi instruído e assinado pelo presidente do Tribunal de Contas. Enquanto isso, infelizmente, Mato Grosso e todos nós temos que suportar por algum tempo Pedro Taques, um governador cada vez mais isolado e fragilizado. Tem sido zero em gestão administrativa, zero em relacionamento com outros dirigentes de instituições e com os servidores públicos. E zero na apregoada transformação. Aliás, de fato, Pedro tem transformado expectativas em caos. Nunca conseguirá ser Pedro I. Talvez deixe o cargo como pedro zero.

Antonio Joaquim já foi deputado estadual, deputado federal, secretário de Estado e é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Mato Grosso (TCE-MT).

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