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Paulo Borges: um homem do bem

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Conheci Paulo Borges nos meados dos anos oitenta, quando eu, rapaz ainda, assessorava o então deputado federal Jonas Pinheiro em Brasília e ele, vereador da capital de primeiro mandato, buscava regularizar sua situação funcional junto ao Ministério da Educação, pois era funcionário da UFMT. Durante alguns anos, cuidava pessoalmente de enviar toda documentação para ele. 
 
Voltamos a nos encontrar em 1988, eu, um jovem advogado recém-formado e vereador eleito por Cuiabá, com apenas 23 anos de idade, e ele vereador reeleito, experimentado  e muito bem relacionado na cuiabania.  Naquele tempo, foi eleita uma das mais emblemáticas legislaturas da história da Câmara Municipal de Cuiabá, formada por jovens vereadores que achavam que mudariam o mundo naquele momento, mesclado com experientes vereadores que mostravam que o mundo não se muda do dia para noite, iria continuar existindo e que tudo tem seu tempo. Nesse contexto, dentre outros, se destacava a figura amável, ponderada e carismática de Paulo de Campos Borges.
 
Na época, foi eleito prefeito Frederico Campos, e Paulo Borges foi convidado para ser seu líder. Vinculou aceitar o convite à minha indicação para vice-líder. Um período ímpar na minha vida pública, uma escola, um aprendizado, que até hoje carrego seus ensinamentos. Nunca entendi ao certo o que o motivou a isso. Mas hoje acredito que foi devido à amizade que sua família sempre teve com meu saudoso pai. Paulinho era gentil, conciliador, educado, de fino trato, entretanto, de personalidade forte, emocional e apaixonado. Sem nunca perder a ternura. Cuidava de mim preocupado com possíveis excessos próprios dos arroubos da juventude. Sempre me orientava e incentivava. Sentia muito segurança nele e ficamos cada vez mais próximos e amigos.
 
Relembro com saudades dos “natu nobilis”’ nas noites no restaurante do Ivan, o Tarantella, ou das cervejinhas nos finais da manhã dos sábados na mercearia do seu Fernando. Ambos ambientes funcionavam  na pacata e tradicional Praça Popular, onde Paulo morava. Hoje nossos pontos de encontro viraram Pizza na Pedra e Ditado Popular, respectivamente, e a praça transformou-se no símbolo da agitada noite cuiabana. Momentos inesquecíveis, lembrando o passado, articulando o presente e projetando o futuro. Com frequência, desfilavam em nossa mesa figuras ilustres da cuiabania, sempre recebidos com alegria. Nesse cenário, inclusive, nasceu a construção da vitoriosa candidatura de Paulo Borges à presidência da Câmara Municipal. Foi um grande presidente, sempre presente, zeloso e ético. Seu trabalho foi tão destacado, que se reelegeu como o vereador mais votado nas eleições de 1992.
 
Durante quase 8 anos fomos amigos inseparáveis. Para coroar essa relação, o convidei para ser meu padrinho de casamento. Foi um grande momento, Aceitou com emoção e me convidou para um almoço de comemoração pelo convite, juntamente com minha noiva Márcia, e passamos uma tarde inteira tomando cerveja e ouvindo-o falar sobre a vida de casado e a vida em geral. Inesquecível! Até hoje relembro com nostalgia aquela tarde.
 
Homem despojado de vaidade, pacificador, alegre, sincero, compreensivo e amigo leal e dedicado, eis alguns adjetivos que podem classificar Paulo Borges. Agarrava com paixão e emoção tudo que fazia. Foi assim na advocacia, nos tempos áureos do nosso azulão da colina, o Clube Dom Bosco, na UFMT, na maçonaria, na Fundação Júlio Muller e, por fim, na política. Paulinho era pura lealdade, entusiasmo e emoção, contagiando a todos que com ele se envolvia. Graças a DEUS fui um desses privilegiados.
 
Era notório e contagiante seu amor pela família. Recordo sua voz embargada toda vez que se referia a seus pais bem como seu orgulho do irmão e das irmãs. Sua relação fraterna com os cunhados era marcante. Penso como deve ter sofrido ao se despedir do seu grande companheiro e irmão Cid , falecido há pouco mais de 30 dias. Quis o destino que mais uma vez estivesse ausente de Cuiabá e não pude me despedir do querido amigo de família Cid Borges. Em poucos dias, nesse início de ano, a família Campos Borges perde dois pilares e a cuiabania, duas referências. Assim é a vida…
 
Sua maior paixão, razão de viver, era sua esposa e filhos. Recordo-me do carinho e reconhecimento que sempre expressava ao falar da querida companheira Vanilza. Por muitas vezes conversamos sobre sua relação familiar e me emocionava seu amor desmedido pelos filhos. Seu amor e preocupação com o futuro da Karla; sua paixão e orgulho por Cláudia Gorette, e seu amor e realização de continuidade na figura do seu garoto Paulo Borges Junior. Confesso que só comecei a entender esse “amor”’ depois que nasceram meus dois filhos.
 
O lado bom da política nos uniu e o lado ruim da política nos afastou. Não tínhamos muito contato nos últimos anos. Nossa vida mudou bastante mas ficou marcado o carinho, respeito e gratidão por tudo que Paulo Borges representou para mim no começo da minha vida pública. Estava tão preocupado em vê-lo que recentemente encontrei um grande amigo da família Borges, o Edgar, e combinamos fazer uma visita pra ele no seu apartamento assim que eu retornasse de viagem. Não deu tempo… não imaginava que estava muito próximo a partida do meu incentivador. Ah, se eu imaginasse, jamais deixaria para depois a última conversa, o último sorriso, o último conselho, o último abraço…
 
Obrigado por tudo Paulinho! Que o Grande Arquiteto do Universo te receba de braços abertos. Com certeza o céu está em festa com a sua chegada. Tomara que por aí tenha um Serabá, uma peixaria do Jairo, um Tarantella ou uns botecos pra você alegrar a eternidade enquanto aguarda a nossa chegada. 
 
Descanse em paz, homem de bem!
 
 Emanuel Pinheiro é deputado estadual pelo Partido da República em Mato Grosso
 

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