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Pão e circo

Claiton Cavalcante é contador em Mato Grosso
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Tudo começou a muito tempo atrás mais precisamente na Roma antiga, lá pelos idos do século II a.C. De lá pra cá, volta e meia a cena se repete. Mudam-se os atores, mas o enredo permanece inalterado.

Dentre tantos, temos um picadeiro montado a quase seis meses, visto que suas apresentações iniciaram em 27 de abril. Coincidência ou não, fato é que naquela época (século II a.C.) para os espetáculos eram também reservados 180 dias no ano (para cada dia útil havia um ou dois dias de feriado).

É impressionante a similaridade das situações, pois desde o início do pão e circo é exatamente nos tempos de crise, em especial em tempos de pandemia e embates político-ideológico, que as autoridades acalmam o povo com a construção de enormes encenações bancadas com dinheiro público.

Nessas encenações os organizadores despreparados e outros desqualificados realizam sangrentos espetáculos envolvendo gladiadores, seres desrespeitosos, pirotecnias, espetáculos com palhaços e muitas máscaras.

Nesse nosso espetáculo da vida real até o último dia 30 de setembro, 60 atores passaram pelo palco, alguns protagonizaram situações das mais constrangedoras e também não menos desqualificadas foram as atuações de alguns dos entrevistadores integrantes do Senado Federal.

O espetáculo denominado CPI da COVID-19, tem nos entristecido com cenas e atuações estapafúrdias, pois da mesma forma que é conduzida por alguns membros de reputação duvidosa a maioria dos convidados também se comportam como se atores fossem. Não depreciando os atores na acepção da palavra! Mas atores desprovidos de noção do ridículo.

Para quem está acompanhando pela televisão a referida CPI sabe muito bem do que estou falando. Em razão disso tenho lampejos em acreditar que estava correto o escritor francês, Carcopino, quando disse que a plebe romana era controlada por meio de lazeres e diversão, para que assim não tivesse tempo livre para pensar em revoltas contra os senhores finórios.

Durante as sessões da CPI alguns senadores tem se prestado a protagonizar espetáculos grotescos que só avilta a imagem do Senado. Chego a pensar que ao fazerem certos tipos de perguntas aos convidados ou testemunhas da CPI os senadores estão na verdade é insultando a inteligência do cidadão brasileiro.

Por outro lado, temos presenciado por parte dos convidados ou testemunhas, total desrespeito com as autoridades constituídas, em que pese algumas daquelas autoridades terem o teto de vidro. Longe disso, a instituição Senado Federal merece e deve ser respeitado.

Nas oitivas tem acontecido de tudo um pouco, temos patriota trajado quase a caráter, sustentando placas onde estava escrito ‘não me deixam falar’ e ‘liberdade de expressão’, digo “quase a caráter” porque a testemunha vestia paletó verde, gravata amarela, camisa branca e ausência da calça azul, por essa ausência não nos faz lembrar da Bandeira nacional.

Se temos patriotas, temos também senadores que tem baixado o nível, tem sido autoritários, desrespeitosos e em alguns casos não cumpre o que prometem, ao menos durante as oitivas. Pois prometem e exigem respeito, no entanto, na primeira oportunidade ou na primeira ‘saia ou calça justa’ atacam o depoente com adjetivos hostis.

Em recente sessão da CPI, senadores xingaram o Ministro da Controladoria Geral da União, Wagner do Rosário, de “moleque”, “moleque de recado”, “garoto mimado” o adjetivo menos agressivo foi “desqualificado para o cargo”.

De modo que, o Ministro ao demonstrar demasiado despreparo emocional, nas dependências da Câmara alta, ataca uma senadora da República chamando-a de ‘descontrolada’. Para muitos isso foi um furioso ataque machista. Para mim, um desrespeito a Instituição.

A presepada mais recente ocorreu quinta-feira (30), quando um empresário que estava sendo ouvido fez comentários homofóbicos contra o senador Fabiano Contarato. O empresário após perceber a meleca que fez tentou se desculpar, mas o constrangimento já tinha tomando proporções gigantes dentro da CPI. Muitos esquecem que orientação sexual não define o caráter, nem mesmo de um senador.

Enfim, presepadas a parte, para findar e ao mesmo tempo apimentar essa discussão quero crer que tudo isso não seja mesmo pão e circo, visto que como dito por Carcopino, a classe política entende que por ter muito tempo livre e por ser ociosa, a plebe pode revoltar-se contra o governo, e para que isso não ocorra é necessário criar espetáculos mirabolantes para prender a atenção e com isso manter o povaréu despolitizado.

Oxalá que o escritor francês esteja quadradamente equivocado!

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