Vivemos hoje um momento excêntrico em que a natureza está nos enviando uma mensagem via rede global, mostrando que a vida como a conhecemos está colapsando com a pandemia do coronavírus.
Cerca de 60% das doenças infecciosas humanas e 75% das doenças infecciosas emergentes são zoonóticas, ou seja, transmitidas através de animais e posso elucidar. Alguns exemplos que surgiram recentemente são o Ebola, a gripe aviária, o Zikavírus e, agora, o Covid-19, todos ligados à atividade humana no meio ambiente.
Enfrentar a pandemia de coronavírus e nos proteger das futuras ameaças globais requer o gerenciamento correto do saneamento básico nas cidades, de resíduos médicos e químicos perigosos, do comprometimento social com os despossuídos, da administração consistente e global da natureza e da biodiversidade e do comprometimento com a reconstrução da sociedade.
Conviver com a natureza é algo que tem sido valorizado pelo ser humano nos dias atuais em que as TIC – tecnologias de comunicação e informação paulatinamente nos afastam dos abraços, afagos e carinhos, do o olho no olho, mas e a nossa cidade? Por acaso sabemos o que os gestores municipais estão fazendo para gerar melhorias sem prejudicar a natureza? E como o meio ambiente urbano se relaciona com as pandemias?
Vivemos atualmente em um mundo conturbado e inquieto em que o convívio e o compartilhamento não estão sendo construídos, o que resulta em novas formas de violência, segregação e exclusão. O lugar, o meio ambiente urbano ou rural, assume importância cada vez maior, na medida em que se constitui na possibilidade de mudança, de ruptura deste “status quo” que vivemos.
Como os profissionais arquitetos e urbanistas que possuem competência e habilidade profissional por Lei para conceber espaços e que possuem o espaço como objeto de trabalho, posicionam-se nesse novo horizonte de humanidade que começa a se vislumbrar pós pandemia do Covid-19?
Para que possamos encontrar respostas para essa questão, é importante lembrarmos que todos nós, da espécie humana, somos seres datados e situados. Ao entender que o nosso corpo é espaço expressivo e expressão de todos os espaços, o filósofo fenomenólogo francês Merleau-Ponty nos ensinou que o homem mora no espaço e no tempo. Isto quer dizer que não estamos dentro do espaço e do tempo e sim que nós os habitamos.
Desta forma, as novas cidades precisam ser concebidas para gerar condições para que o ser humano possa construir relações saudáveis, desenvolvendo sua inteligência, competências e habilidades a partir das relações que estabelece com as pessoas e com o entorno, despertando o uso consciente e sustentável dos recursos disponíveis.
Com disse Le-Corbusier: “Imóvel ou circulante, ele (o ser humano) tem necessidade de uma superfície, bem como de uma altura, de locais apropriados a seus gestos. Móveis ou arranjos são como que prolongamento de seus membros ou de suas funções. Necessidades biológicas impostas por hábitos milenares, que serviram pouco a pouco, para constituir a própria natureza, requerem a presença de elementos e de condições precisas, sob ameaça de estiolamento: sol, espaço, vegetação. Para seus pulmões uma determinada quantidade de ar. Para seus ouvidos, um quantum suficiente de silêncio. Para seus olhos uma luz favorável…”.
É hora de acordar. De tomar consciência. De repensar nossa relação com o meio ambiente e a ocupação do ser humano com a construção de nossas cidades no território. Elas necessitam ser redesenhadas pelo ponto de vista da inclusão social, reduzindo as grandes aglomerações, que são fatores de transmissão de diversos tipos de doenças infectocontagiosas, criando espaços de convivência sadia e em harmonia com a natureza.
A humanidade depende de ação imediata para um futuro resiliente e sustentável. É hora de agir. O Dia Mundial do Meio Ambiente é a hora da Natureza.