Perder uma partida de futebol para a Alemanha ou Argentina ou Holanda, não é vergonha. Vergonha é perder de goleada para a Colômbia, Chile, Costa Rica, Argentina, Uruguai e quase toda a América do Sul, Central e Caribe nos índices de qualidade da educação.
Perder uma partida de futebol e ser eliminado da Copa do Mundo não é uma tragédia. Tragédia são as dezenas de milhares de mortes em nosso país pela ausência de saneamento básico, pelo abuso de álcool por condutores no trânsito e pela violência nas periferias urbanas.
Perder uma partida é uma possibilidade do jogo. O que torna o futebol o esporte mais apaixonante do planeta é o seu elevado grau de imprevisibilidade. Uma bola na trave, um drible genial, um tropeço inesperado, a atuação espetacular de um goleiro, o erro num passe, o gol nos instantes finais e até mesmo a falha de um árbitro podem determinar resultados. Alguns dos melhores jogadores da história, como Zico, Cruijff e Platini, jamais venceram uma Copa do Mundo, enquanto outros bem menos talentosos conquistaram essa láurea assistindo os jogos do banco de reservas. Alguns dos melhores times de todos os tempos, como a Holanda de 1974 ou o Brasil de 1982 foram vencidos por equipes de menor brilho. Ao contrário de esportes individuais como o tênis ou a natação ou coletivos como o basquete nos quais é muito raro que os resultados surpreendam, no futebol não há uma só disputa que não esteja sujeita ao imponderável. No futebol, nem sempre os resultados são justos ou premiam os melhores, o que faz desse jogo uma fantástica metáfora da vida.
Quando a seleção brasileira perde uma partida, a nação inteira corre em busca de culpados: o zagueiro ou o goleiro que falharam, o atacante que não marcou, o meio-campista que foi expulso, o treinador que escalou mal o time, o árbitro que errou em lance decisivo etc. E quando o país atinge o 88º lugar no ranking da educação da Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura ou o 72º lugar no ranking da saúde pública da Organização Mundial de Saúde, quantos se preocupam em buscar as causas e os responsáveis? E, mais importante ainda: quantos se interessam em trabalhar com seriedade para reverter tal situação?
O país do futebol foi surpreendido com uma derrota nos gramados, de dimensões e contornos inesperados. Mas o país que ama o futebol não pode ficar surpreso de seus péssimos resultados nas políticas públicas. Planejamento deficiente, equipes improvisadas, métodos arcaicos e controles fragilizados são ingredientes que levam ao desastre tanto nas arenas esportivas como na gestão pública. Obras superfaturadas, de qualidade sofrível e muitas inacabadas, compõem o cenário que nos acompanhará quando os últimos turistas da Copa partirem levando a lembrança de um belo país com um povo acolhedor e amistoso. Neste último mês, tentamos mostrar ao mundo o melhor de nós mesmos e tivemos relativo sucesso. É preciso que tenhamos a mesma energia para enfrentar o que temos de pior. Não para mostrar aos turistas, mas para melhorar nossa vida.
Ganhe quem ganhar a Copa de 2014, continuaremos pentacampeões do mundo de futebol. Tomara um dia, possamos pelo menos uma vez subir ao pódio da educação de qualidade, da saúde pública decente, da probidade administrativa, da proteção ao meio ambiente, da mobilidade urbana, do saneamento básico e do respeito aos cidadãos.
Luiz Henrique Lima – auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT. Graduado em Ciências Econômicas, Especialização em Finanças Corporativas, Mestrado e Doutorado em Planejamento Ambiental, Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia