Diferente de seu antecessor, Bento XVI, que em oito anos de papado visitou apenas 24 países, o Papa Francisco, com apenas dois anos e meio já visitou 16 países, e, neste aspecto assemelha-se muito ao hoje, São João Paulo II, que era chamado de o Papa peregrino, pelas suas constantes viagens apostólicas a mais de 128 países durante seu pontificado de 17 anos.
Além de um vigor apostólico Francisco aos poucos vai consolidando seu pensamento e com coragem tem tocado aspectos controvertidos tanto dentro da Igreja quanto em questões seculares, exortando fiéis católicos e também de outras confissões religiosas e cutucando governantes e líderes mundiais sobre questões econômicas, sociais , políticas e culturais.
Francisco exorta os católicos que a Igreja deve ser pobre, missionária, inserida na comunidade, cultivando a fraternidade, a solidariedade, principalmente em relação aos excluídos e marginalizados, ou seja, seguir os passos de Jesus no compromisso com a verdade, com o amor e com a caridade voltada aos necessitados e que sofrem.
Mesmo sem tem o poder da força, das armas, sem ser um senhor da Guerra, Francisco não se cansa de criticar o egoismo, o materialismo, o consumismo, a violência, as guerras, a insensibilidade ante o sofrimento humano, como ocorre com milhões de refugiados e discriminados pelo mundo afora.
Depois de costurar a distenção entre EUA e Cuba, que possibilitou o reatamento das relações diplomáticas entre os dois países, Francisco não titubeou ao falar perante o Congresso Americano, principalmente `a maioria republicana, conservadora, de que a distenção só pode estar completa quando houver o desbloqueio economico. Ainda no Congresso americanao não titubeou em dizer que a pena de morte é uma verdadeira aberração e sugeriu que os EUA acabem com a pena capital e apostem mais na recuperação de criminosos.
Durante três dias de visita a Cuba, encontrou-se com os irmãos Castro que estão no poder há mais de seis décadas e durante anos restrigiram as liberdades, inclusive a religiosa, esquecendo-se de que a grande maioria da população, mais 90% dos cubanos são católicos ou professam outras religiões cristãs. Ao fazer uma crítica direta às ideologias totalitárias conseguiu dar o seu recado em favor da democracia, da liberdade e dos direitos das pessoas.
Outro momento significativo nesta viagem de Francisco foi quando fez seu pronunciamento na ONU, dando ênfase ao fim as guerras, condenando a cultura da morte e pedindo um apoio mais efetivo, por parte dos líderes mundiais, aos imigrantes que fogem de áreas em Guerra, principalmente em países do Oriente Médio e norte da África. O ponto alto foi quando falou sobre as questões ambientais, principalmente as mudnças climáticas, enfatizando que não podemos deixar para as próximas gerações o enfrentamento deste grave desafio, antes que seja tarde demais e a própria humanidade corra risco de pagar um custo elevadíssimo. Aproveitou também para criticar a perseguição de cristãos em países com maioria islâmica e contra o fanatismo religioso que , em nome de uma fé distorcida, destroem as pessoas.
Condenou mais uma vez, como o fez em sua Encíclica Verde há poucos mesess, o uso desenfreado dos recursos naturais, a degradação dos ecossistemas, motivados pela busca exagerada do lucro e do consumismo, que estão destruindo o planeta.
Na ONU, perante o maior número de chefes de Estado e de Governo seu recado foi incisivo ao dizer que “este é o nosso pecado: a exploração desmedida da terra, a degradação do meio ambiente, não permitindo que ela (a terra) nos dê o que pode e deve dar”. Este foi um recdo direto `aqueles que, na busca do lucro rápido, destroem o solo, envenenam os cursos d’água, abusam dos agrotóxicos, enfim, destroem a natureza e a saúde humana.
Outro recado de Francisco foi uma crítica direta ao capitalismo, a usura, a concentração de renda que ajudam a marginalizar e empobrecer bilhões de pessoas, isto é uma afronta `a dignidade humana. O combate `a fome e a pobreza so é alcançada através de formas produtivas mais solidárias.
Na Filadelfia, berço do nascimento dos EUA como um país independente, convocou tanto católicos quanto não católicos a reviverem os princípios e valores defendidos pelos chamados “pais da pátria”, incluindo as liberdades em geral, o humnismo, a tolerância e a solidariedade, principalmente em relação aos imigrantes, inclusive demonstrando solidariedade aos imigrantes ilegais, ao receber o apelo de uma menina nascida nos EUA e filha de imigrantes mexicanos ilegais, que pediu a Francisco para interceder junto ao Presidente OBAMA para que seus pais não sejam presos e deportados. Este foi um dos muitos momentos emocionantes da visita de Francisco, ao lado da visita que fez a um presidio na Pensilvânia, exortando os detentos a se arrependerem de seus crimes , única forma de poderem se reintegrar na sociedade e viverem de acordo com as normas sociais, jamais usando da violência como forma de ação.
Da mesma forma, Francisco reuniu-se com um grupo de pessoas que , em suas infâncias e juventude foram abusadas sexualmente por clérigos e disse que os culpados devem ser punidos e que Deus chora em solidariedade a essas vítimas e que isto é uma mancha, uma vergonha para a Igreja e não pode ser tolerado.
Finalmente, lançou luzes e abriu o debate em torno do aborto, da comunhão aos católicos separados e do casamento ou união entre pessoas do mesmo sexo, remetendo essas e outras questões doutrinárias para o Sínodo que irá debater em Roma, próximamente, as questões relacionadas com a família, célula mater de qualquer sociedade e grupo religioso, inclusive os católicos.
As repercusões desta viagem de Francisco, tanto no meio católico, quanto de outras religiões, entre políticos, empresários e a mídia, principalmente, foram extremamente positivas e serviram para reforçar sua liderança moral e diplomática. Afinal o Papa é ao mesmo tempo a maior autoridade para bilhões de católicos pelo mundo afora e o Chefe de Estado do Vaticano.
Seus passos sempre deixam um rastro de esperança, de solidariedade, de fraternidade e de preocupação com os destinos do planeta e da humanidade. Siga em frente Francisco, o mundo está ávido por um novo rumo!
Juacy da Silva, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia
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