Todos os jornais de grande circulação noticiam que a reforma da previdência está travada na Câmara Federal, desde quando a Presidência da República apresentou a proposta de mudanças nas regras a serem aplicadas aos militares, que traz benefícios não concedidos aos trabalhadores civis.
Bradaram muitos deputados federais no sentido de que o governo e sua equipe econômica têm que ir ao Congresso para explicar o porquê desse tratamento desigual, quando a promessa era de que todos seriam tratados de forma isonômica.
Isso me faz lembrar o que escreveu Platão, em sua obra A República. Para o filósofo grego, o Estado é formado por três classes: Governantes, Operários e Guerreiros, cada qual possuidora da respectiva virtude, quais sejam: sabedoria, temperança e coragem. Sabedoria é necessária aos governantes para que possam conduzir com correção os rumos da nação.
Aos operários é preciso temperança para aceitarem dividir a produção com as demais classes, permitindo-as subsistir. Os guerreiros, que nada produzem, são importantes para a defesa do Estado e da sociedade.
Hoje em dia, parece que os guerreiros também estão precisando de temperança, não lhes bastando mais só a coragem, pois ao que parece estão querendo mais privilégios do que os operários, estes sim a força de sustentação da coletividade, sem os quais nenhuma classe poderia se manter.
Nada contra os guerreiros, apenas chamo a atenção para uma equação lógica, sem me iludir com a inafastável constatação de que atualmente os guerreiros são governantes e os governantes são guerreiros.
A esperança é que o governante ainda possa lembrar que agora, ao contrário do apregoado por Platão, mudou de classe, mas a principal lição do mestre, a base de tudo, é invencível: os guerreiros não devem ansiar por privilégios, mas sim por uma vida razoável para que possam subsistir sem produzir, mas nunca perdendo de vista que os operários, que sustentam a nação, não são escravos para bancar privilégios de ninguém.
*Arnaldo Justino da Silva é Promotor de Justiça em Mato Grosso.