No primeiro artigo que escrevemos buscamos dar ao leitor uma dimensão do tamanho da crise que estava surgindo, suas conseqüências e medidas profiláticas. No segundo artigo observamos que a crise chegou, e qual o nosso nível de preparo interno para assimilar seus efeitos e, no terceiro, alertamos a sociedade para os perigos de o Brasil compor o G7 (grupo dos sete países mais ricos do mundo), dada a sua posição de relativo conforto, mas não de imunidade a crise.
Pois bem, embora estejamos no Centro Geodésico da América do Sul e, ao mesmo tempo, perifericamente aos acontecimentos mundiais, todas as nossas previsões e análises se materializaram. No último artigo, por exemplo, desconfiávamos do convite para participar do G7, com receio de sermos usados por meio das nossas reservas cambiais para socorrer economias externas.
Como num passe de mágica, já na ultima sexta-feira (10.10), após reunião propalada do G7, anunciaram a criação de um plano de ação para enfrentar a crise financeira internacional o que pressupõe a necessidade de dinheiro novo, cujos principais objetivos são desbloquear crédito; mercados monetários e hipotecários com dinheiro novo tanto público como privado; e compra de ações de bancos privados, caracterizando quase que certa nacionalização do sistema financeiro, atitude antes defenestrada tanto pelos xiitas da economia quanto pelos mais elementares defensores do capitalismo com baixa participação estatal no sistema financeiro bancário.
Dito isso, gostaria de registrar que não há precedentes nos últimos 100 anos de uma crise tão aguda e generalizada de falta de confiança no mercado financeiro e de capitais e, com certeza, seus desdobramentos alcançarão a economia brasileira e mato-grossense. A dimensão do impacto ainda é uma incógnita, mas acontecerá, e, notadamente, esses efeitos terão maiores reflexos na economia estadual em 2010. Contudo, em 2009, teremos que adotar medidas de controles internos na máquina pública ainda mais severos, bem como a iniciativa privada deverá planejar e criar ações estratégicas que diminuam os estragos eminentes.
Pontuando os efeitos que me parecem inevitáveis e previsíveis na economia mundial, pode-se afirmar que os principais pontos são a presença de uma desconfiança generalizada do mercado financeiro e de capitais, redução de crédito e redução do consumo. Já os efeitos sobre a economia brasileira podem ocorrer com a fuga de capitais, redução de investimentos produtivos no Brasil, retração do crédito, redução do consumo doméstico, e redução do consumo das commodities brasileiras agrícolas e metálicas.
Na economia mato-grossense acreditamos que haverá um efeito dominó, com retração de crédito para o agronegócio, uma realidade já presente; retração de investimentos industriais; aumento dos custos de insumos agrícolas; queda dos preços das commodities agrícolas e redução das exportações. Mesmo os mais conservadores, que comercializaram suas safras com proteção de variação de moeda, estão tendo dificuldades, pois travaram o aumento do dólar num patamar entre R$ 1,80 e R$ 2,15, ou seja, quando a desvalorização do real atinge níveis fora dessas margens de trava, o exportador deve comparecer com mais garantias.
Outro fato relevante é que muitos fizeram excelentes negócios travados em R$ 1,70, na média, sendo que esses compromissos estão vencendo e, com a dificuldade de crédito, poderão não honrar essas dívidas no vencimento, o que remete a dívida hoje numa trava mínima de R$ 2,10. Imaginem só o prejuízo. O dinheiro liberado pelo Banco Central para irrigar o mercado brasileiro precisa sair da toca e chegar efetivamente e com rapidez ao produtor, sob pena de “quebrar a produção primária brasileira”, lembrando que esses efeitos terão maiores reflexos em 2010.
Se a possibilidade de um desaquecimento da demanda mundial acontecer na plenitude, é lógico que reduzirá o consumo de commodities agrícolas, principal locomotiva da economia de Mato Grosso e responsável pelo expressivo crescimento das exportações do Estado nas últimas décadas. Isso poderá causar retração do emprego e, como conseqüência, reduzir o consumo interno, diminuindo o ritmo chinês do nosso crescimento verificado nas últimas duas décadas.
No entanto, se fizermos bem a lição de casa no âmbito macroeconômico brasileiro, bem como no âmbito estadual, com rigidez e pulso firme na condução da política monetária, tributária e de desenvolvimento, sairemos bem dessa crise e fortalecidos perante a economia mundial. Então, “e há, agora o quê qué esse? Larga mão de ficá igual bode peado! O Brasil e Mato Grosso tão digoresti prá enfrentá a crise!”.
Eder de Moraes Dias é Secretário de Fazenda de Mato Grosso