No Brasil as verdades mais sérias sempre são distas durante os discursos. É a nossa visão luso de dizer coisas usando metáforas, gestos, entonação de voz, ditas em tom dramático. Poderia ser de outra forma, curta e objetiva.
Desse modo, um discurso de posse como o do governador Pedro Taques é um indicativo de múltiplas faces. Pode-se dizer que fez , no mínimo quatro discursos;
1 – Transformação – prometeu um choque de gestão, na ordem: o choque antes. Disse compreender a inevitabilidade do futuro, tanto que não governará olhando para o passado;
2 – Diálogo – admitiu a oposição como indispensável e a imprensa como foro de prestação de contas e de cobranças á gestão. Respeito à independência dos poderes. Ouvir de verdade a sociedade, quando citou o papel da imprensa;
3 – Pobres – governará olhando para os pobres. “governar para todos os mato-grossenses. Governar especialmente para os pobres”;
4 – Despojamento – encerrou o discurso com o poema de Fernando Pessoa "Não sou nada. Nunca serei nada, não posso querer ser nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."
No corpo do discurso informações sobre o perfil da gestão que pretende implantar: “não roubo, não deixo roubar e puno quem rouba”.
Recado para a corrupção. Promessa de não varrer corrupção para debaixo dos trilhos do VLT, demissão de cerca de dois mil comissionados para economizar e realizar investimentos. Educação, saúde e segurança, as prioridades.
Simplificação do cipoal tributário estadual, citou a educação pra transformar a sociedade.
O propósito esteve ao fundo no painel da posse: Estado da Transformação. Esse talvez tenha sido o principal elemento do discurso da posse.
Em certo momento do discurso, não pude deixar de me lembrar do discurso de posse do então governador Júlio Campos, em 1983, “companheiro de Júlio Campos não fica na estrada”.
Pedro Taques repetiu a mesma frase dita no plural minutos antes pelo vice-governador Calor Fávaro: “Não vou deixar ninguém pra trás”.
Na entrevista à imprensa foi direto sobre as auditorias prometidas para a próxima semana nos contratos e nas contas do governador Silval Barbosa: “não é devassa, nem caixa preta”.
Bom ter dito isso, porque em 2003 o ex-governador Blairo Maggi anunciou a devassa na caixa preta do ex-governador Dante de Oliveira, e encontrou só contas a pagar desde 20 anos antes.
A idéia de auditar é mais saudável e mais apropriada porque não cheira a revanche.
Agora é ação!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso.