Às vezes fico imaginando como deve ser difícil a vida de um presidente ou presidenta, não tanto nos aspectos pessoais, mas muito mais em relação ao processo de tomadas de decisão. Costuma-se dizer que os altos mandatários, mesmo que sejam envolvidos por um grande séquito de auxiliares, assessores, amigos e, talvez em maior número, de bajuladores e interesseiros, acabam ficando isolados quando tem por obrigação tomar as decisões. Este isolamento e angústia devem ser maiores quanto mais complexas e controvertidas sejam as decisões.
No caso da Presidente/a Dilma, os fatores que devem influenciar suas decisões podem ser resumidos em cinco ou seis fases: primeira, a sua história pessoal de militante de esquerda, integrante de um grupo que optou pela luta armada para derrubar o governo militar de então, ex-presa política; a segunda categoria é seu engajamento político pós redemocratização, iniciando pela militância no PDT e depois no PT/RS e ocupante de cargos na esfera estadual; a terceira é a sua chegada a Esplanada dos Ministérios em Brasília para ser ministra do Governo Lula, a quem passou ser uma auxiliar extremamente devotada no Ministério das Minas e Energia; a quarta foi sua ascensão a chefia da Casa Civil em substituição ao todo-poderoso Ministro José Dirceu (que todos imaginavam seria o sucessor de Lula, não fora o escândalo do “mensalão”).
Foi como Ministra Chefe da Casa Civil que Dilma empolgou de vez o Presidente, seja pela sua lealdade acima de qualquer suspeita seja pelas suas características de acompanhar, cobrar, fiscalizar o andamento das ações dos demais ministérios. Esta última qualidade levou que muitos, até Lula, a considerá-la uma “gerentona”, eficiente e durona nas cobranças aos demais ministros e auxiliares diretos e ao mesmo tempo a credenciasse para ser a escolhida pelo Presidente para ser sua sucessora. Mesmo que muitos afirmassem então que Dilma não tinha experiência política tanto a nível de militância no PT quanto no trato com os meandros parlamentares. Mas Lula teria admitido que seu prestígio pudesse levar o povo a eleger até mesmo um poste e o resto da estória todos conhecem.
A eleição e posse de Dilma representam a quinta fase, onde passou a ter contato direto tanto com os políticos e suas formas de ação (inclusive o fisiologismo, a corrupção etc) e com o povo, com suas angustias, sofrimento e também esperanças de um amanhã melhor. Esta curta fase que durou praticamente um ano a qualificou para o início de seu exercício ou parafraseando o meio artístico e musical, construir sua “carreira solo”, livre das amarras do passado e da tutela de seu criador, que sempre tem dados sinais de que gostou tanto do poder que já esta se preparando para tentar voltar em 2014, anulando em parte a carreira de sua pupila.
A fase atual, que tem apenas oito meses já tem sido suficiente para que o povo possa melhor conhecer Dilma, uma mulher de fibra, determinada, corajosa, mas também uma pessoa um tanto fragilizada que deve estar sofrendo pressões enormes por parte de inúmeros grupos de interesse, máfias que sempre se locupletaram dos favores que emanam das estruturas governamentais, quadrilhas que tem se especializado na arte de furtar o dinheiro publico, caciques que sempre foram e continuam sendo donos de partidos políticos e nesta condição usam do fisiologismo e de expedientes escusos para não perderem espaço político, principalmente nas altas esferas do Poder.
Essas forças do mal não têm escrúpulos, não cultivam princípios éticos e morais quando se trata de burlar as leis e outros princípios da Constituição Federal em relação a administração pública e, pior do que tudo isto, usam da chantagem como arma política e tentam desestabilizar e infernizar a vida da presidente e sua luta para fazer uma faxina geral no Governo Federal e zelar mais pelo dinheiro do contribuinte.
Assim podemos compreender porque Dilma teve coragem para dar uma geral no Ministério dos Transportes, demitindo ou fazendo demitirem-se quase trinta altos servidores e não está tendo o mesmo procedimento quando se trata dos ministérios da agricultura e do turismo. O primeiro era como uma propriedade do PR e os dois últimos do PMDB. Ficam faltando outros que são do PT, do PTB, PDT, PCdoB, PSB e demais partidos da base aliada.
Este é uma parte do dilema que Dilma enfrenta, complementado pela pressão dos partidos de oposição e também da sociedade civil organizada que almejam a constituição de uma CPI da Corrupção, possibilitando uma investigação mais profunda nas práticas de corrupção que estão no Governo Federal há décadas e chegaram a este patamar de lamaçal nos últimos meses.
A frente parlamentar formada no Senado, sob inspiração do senador Pedro Simon, para constituir uma base de apoio suprapartidária para que a Presidente Dilma possa levar avante sua faxina e colocar os corruptos fora do governo e de preferência na cadeia, devolvendo o dinheiro roubado, é mais do que importante e merece aplausos da sociedade brasileira. Fazendo isto, Dilma vai conquistar de fato apoio popular e deixar de ser refém de partidos, grupos de interesse e ate mesmo da tutela de seu antecessor, para o bem do povo e felicidade geral do Brasil!
Juacy da Silva, professor universitário, fundador, titular e aposentado UFMT, Ex-Diretor da ADUFMAT, Ex-Ouvidor Geral de Cuiaba, mestre em sociologia, colaborador de So Noticias,