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Os caminhos do futuro 3

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O desenvolvimento e a segurança de um país e o nível de bem-estar que o mesmo oferece ao povo dependem de dois fatores fundamentais: a existência de um projeto nacional que determina a visão de futuro de longo prazo (pelo menos duas ou três décadas) e também a presença da chamada “vontade nacional”, como o ingrediente capaz de colocar este projeto em execução. Algumas teorias clássicas de desenvolvimento, principalmente as de cunho geopolítico e estratégico, apontam também como condições necessárias fatores como território, posição geográfica, recursos naturais abundantes, população numerosa e capital para custear os investimentos necessários ao salto qualitativo para romper com as amarras do atraso e do subdesenvolvimento.

As teorias mais modernas também mencionam como fatores importantes neste processo a existência de estruturas e instituições modernas e ágeis a começar pelo Estado que deve presidir o processo, a qualidade das elites governantes e dos quadros que aparelham tais instituições, a capacidade e qualidade da gestão, tanto pública quanto privada e também do terceiro setor, a existência de um sistema educacional que facilite o preparo da mão-de-obra e também o desenvolvimento da ciência e da tecnologia que irão dinamizar o referido processo. Existem alguns países que não possuem grande território, nem população numerosa para os padrões do pensamento geopolítico, também não contam com abundância de matérias-primas necessárias ao desenvolvimento industrial, mas que conseguem superar essas limitações com a construção de um projeto nacional centrado na educação, na ciência e na tecnologia, enfim, que valoriza o conhecimento como o seu diferencial e vantagem comparativa em termos de competição no cenário internacional.

Assim, para melhor entender e avaliar o processo de desenvolvimento pode-se tomar como “estudo de caso” o exemplo da Coréia do Sul em contraposição ao que ocorreu na Coréia do Norte. Ambos os países têm uma mesma base geográfica, étnica, cultural e faziam parte até 1905 do Império Coreano. Após a Guerra Russo-Japonesa a península coreana foi anexada pelo Japão durante quatro décadas e em 1945, com o fim da segunda guerra e a derrota do Japão, foi dividida em duas zonas de ocupação; uma pela Rússia (a parte norte) e a outra no Sul pelos Estados Unidos, dentro do espírito da guerra-fria que tinha seu início no pós-guerra.

Ambas as zonas de ocupação pretendiam ter soberania total sobre a península e a Coréia do Norte rejeitou a realização das eleições propostas pela ONU e em 1950 invadiu a parte Sul, dando origem a guerra da Coréia que durou de 1950 a 1953, com a destruição da maior parte da infra-estrutura física das duas Coréias e a morte de 2,5 milhões de pessoas, sendo encerrada com um armistício, mantendo o estado de guerra ato o presente. A partir daí, cada Coréia passou a ter um projeto de desenvolvimento nacional diferente. O norte aderiu ao modelo sino-soviético de Estado e de sociedade, de ideologia socialista/marxista, um Estado totalitário, de partido único (Partido dos Trabalhadores da Coréia). O Sul aderiu ao modelo ocidental de democracia representativa, que para alguns é a chamada democracia burguesa, um Estado laico, pluripartidário e indutor do processo de desenvolvimento, a busca de uma economia de mercado forte, dinâmica e moderna, colocando-se entre os países que mais cresceram nas últimas décadas.

Ao longo dessas quase seis décadas, podemos ver consolidados dois modelos em termos de caminhos do futuro. Analisando alguns dados podemos perceber que a Coréia do Sul conseguiu avançar mais termos econômicos, sociais e políticos, tendo como base de seu processo ou modelo de desenvolvimento a educação, a ciência e a tecnologia.
Com uma área de 99.720 km2, pouco maior do que os Estados de Pernambuco e de Santa Catarina e com uma população de 48,6 milhões de habitantes, a Coréia do Sul em 2009 era a 15ª economia mundial com um PIB de 1,4 trilhões de dólares, uma renda per capita de US$28.806 dólares (30ª no ranking mundial), IDH 0, 877 (12ª posição) e mortalidade infantil de 4,1 por mil nascidos vivos. Enquanto isto, a Coréia do Norte, com uma área de 120,5 mil km2 (aproximadamente um terço de Mato Grosso do Sul), população de 23,9 milhões de habitantes apresenta os piores indicadores entre os países do mundo. PIB de US$40 bilhões (2,9% do PIB da Coréia do Norte), ocupando a 95ª posição mundial; renda per capita de US$1.800,00 dólares (189ª posição mundial) e mortalidade infantil de 48,2 por nascidos vivos.

É importante que no Brasil também possamos refletir sobre os caminhos que nos levam ao futuro e que tipo de projeto nacional de desenvolvimento pretendemos estabelecer como nossa bússola. Esta é uma discussão que deve ser feita em profundidade tanto pelos nossos governantes e partidos políticos, quanto pela sociedade em geral em todos os setores, principalmente nas universidades que são ou devem ser os centros de geração de novas idéias e de conhecimento, jamais aparelhos ideológicos dos governos de plantão. Voltaremos ao assunto inserindo indicadores brasileiros no quadro comparativo com a Coréia do Sul e outros países que estão rompendo com o círculo vicioso da miséria, corrupção e do subdesenvolvimento.

Juacy da Silva, professor universitário, mestre em sociologia

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