Muitas pessoas, inclusive acadêmicos, pesquisadores e especialistas em teorias do desenvolvimento, acreditavam ou ainda acreditam piamente que pobreza é fruto do atraso e do subdesenvolvimento. Uma vez superada esta fase, dentro da ótica de um processo histórico, essa chaga e outras mazelas decorrentes ou ela (pobreza) associadas, este fato social seria coisa do passado. Essa idéia fundamenta uma teoria evolucionista, segundo a qual o mundo esta em constante evolução rumo a patamares mais elevados de bem-estar e qualidade de vida. Até mesmo pensadores considerados radicais, muitos dos quais se apegam a teoria e ideologia socialista/marxista ou mesmo social democrata, também imaginam que pobreza, miséria, exclusão social são frutos de uma ordem social capitalista e injusta e, uma vez, ocorrendo as transformações reformistas ou revolucionárias um mundo novo vai ser construído com mais igualdade e mais liberdade.
A análise do processo de desenvolvimento da Europa, dos EUA ou países capitalistas da Ásia como o Japão e Coréia do Sul demonstram que neste processo tem ocorrido uma grande concentração de renda e riqueza, cujos índices se aproximam muito dos existentes há quase um século quando tais países não ostentavam os níveis de modernização de suas estruturas econômicas e sociais.
Da mesma forma, se considerar alguns países que por mais de sete décadas viveu sob a forma socialista/comunista como a Rússia e alguns de seus satélites, a China cuja experiência socialista e de economia centralizada e controlada pelo Estado e por um partido único por mais de seis décadas, da Coréia do Norte e de Cuba, onde o mesmo tipo de regime tem sobrevivido por mais de meio século ainda experimentam elevados índices de pobreza e concentração de renda, riqueza e patrimônio, entender a questão da pobreza e da exclusão social é um exercício que ainda demanda muitas reflexões e análises.
É neste contexto que devemos analisar a realidade social e econômica da pobreza, em contraste com a opulência, nos EUA, podendo replicar essas reflexões para outros países já mencionados, ou seja, como entender a pobreza em países como a Rússia, a China, a Coréia do Norte e Cuba, por exemplo. Para se ater ao caso em tela, os EUA, basta mencionarem alguns dados que demonstram o fosso que existe entre a camada de 1% (a elite econômica, política e social americana) e a grande massa dos 20% ou 40% da população que está na parte de baixo da pirâmide social e econômica, sem esquecermos de uma camada excluída que alguns estudiosos denominam de sub-classe,lumpem (em inglês “ under-class”).
As 500 maiores corporações americanas representam o nível de grandeza e de opulência associado ao tamanho da economia do país e também sua posição hegemônica no contexto internacional. Mesmo que a participação relativa da economia dos EUA esteja sendo reduzida de pouco mais de um terço (34%) há algumas décadas para 23,1% em 2010, com projeção abaixo de 20% entre 2030 e 2040 o nível de concentração econômica apresenta a mesma tendência.
Essas 500 maiores corporações representam 0,007% do total de empresas em 2010 tiveram receitas em torno de 11 trilhões de dólares, lucro de mais de 700 bilhões, patrimônio de 33,8 trilhões, valor de mercado de 11,6 trilhões e empregavam mais de 25 milhões de trabalhadores (20,7% do total). Outro dado interessante que reflete este nível de opulência: o valor das 10 mansões mais valorizadas dos EUA representa 1,1 bilhões de dólares e as mil mais valorizadas representam mais de 30 bilhões de dólares, valor maior do que o PIB de 42 países.
Em 1960 os altos executivos das grandes corporações ganhavam 50 vezes mais que a média dos trabalhadores e em 2000 esta relação passou para 530 vezes. Entre 1990 e 2005 o salário real desses executivos aumentou em 300% e o aumento médio do salário real dos trabalhadores foi de apenas 4,3%. Em 2007 a parcela de 1% mais rica da população acumulava 42,7% do PIB enquanto 80% da população ficavam com apenas 7% do PIB.
Somando este aspecto de desigualdade de renda e a forma como o desemprego afeta a camada mais baixa de trabalhadores, principalmente os 10% do extrato inferior, possivelmente podemos melhor entender o ressurgimento da pobreza na maior econômica do mundo e, ao mesmo tempo, apontar caminhos para que o Brasil não repita a mesma experiência. Políticas compensatórias em longo prazo estão fadadas ao fracasso, caso o modelo de desenvolvimento continue o mesmo, pouco importa o país!
Juacy da Silva, professor universitário fundador, titular e aposentado UFMT, Ex-Diretor da ADUFMAT, ex-Ouvidor Geral de Cuiabá, mestre em sociologia e colaborador de Só Notícias