Tenho ouvido e feito a pergunta em escopo de e para muita gente nos últimos dias. Todos queremos saber se a crise do mensalão vai acabar em pizza, se vai resultar na cassação de pelo menos uma dúzia de deputados e, o mais importante, como afetará o presidente Lula.
As respostas, em geral, trazem mais perguntas e dúvidas do que certezas. Sinal de que a crise é mais grave e mais profunda do que imaginávamos quando ela começou.
Penso que há duas possibilidades básicas para o desfecho da crise. A primeira que vejo é uma solução conservadora. Seria construída a partir de uma bem ordenada “operação abafa” para salvar o que der. Nesse caso, vão-se os anéis, os dedos (sem nenhuma alusão preconceituosa ao presidente), e talvez até os braços. Mas, no final salvar-se-ia as vidas de muita gente.
Para isso, contudo, o presidente precisaria do apoio de dois grandes partidos. Um seria o PMDB, já com um pé dentro do governo. O outro seria o PFL. Muita gente não acredita nisso. O senador Luiz Soares, por exemplo, descarta essa possibilidade, alegando que o PFL está muito mais próximo do PSDB. Insisto porque o faro do PFL e do PMDB pelo poder, qualquer, é uma de suas melhores qualidades. E teriam o argumento da estabilidade institucional, etc.
Mas nessa solução Lula só se manteria no governo entregando o poder a esses dois partidos. Nunca governaria, de fato. Se antes o presidente era Zé Dirceu, nesse eventual cenário passaria a ser ACM ou Zé Sarney.
A outra é mais aterradora. Seria evolução crescente da crise a ponto de ninguém mais acreditar que o presidente de fato não sabia de nada. Se isso acontecer, não há outra solução senão a abertura do processo de impeachment.
Os cenários vão se construir agora a partir do comportamento do bloco majoritário da oposição. O PSDB iniciou o processo com muita serenidade, apostando na permanência de um Lula fraco o suficiente para não ser problema ano que vem. Ocorre que quando isso começou ninguém poderia imaginar que pegaria o PT da maneira que pegou. A crise, na verdade, saiu do controle.
Esse fato novo deve mudar muitas das estratégias iniciais de todos os lados. Se Lula for ligado incontroversamente ao esquema de corrupção, adeus apoio popular, e o próprio Congresso seria pressionado pelas ruas a agir com rigor. Ninguém segura uma onda popular, que só ainda não ocorreu porque Lula é um símbolo nacional, uma entidade. Mas, que já começa a virar lenda, como indicam as últimas pesquisas.
kleber Lima é jornalista e Consultor de Comunicação da KGM