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O sorriso de Zilda

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Começou-se a estudar o sorriso, não faz muito tempo. O sorriso é a mais bela e mais expressiva manifestação da linguagem universal. Embora não falado, é pouco compreendido em sua complexidade, mas é entendido em todas as línguas. Escreve-se livros, palestras, procura-se entender esse grande mistério da humanidade.

O sorriso de uma pessoa que já atingiu o nirvana do amadurecimento espiritual é um fenômeno de rara beleza, e dificílimo de encontrar. Mas eu posso dizer que conheci um sorriso assim, o sorriso de Zilda, que ontem morreu.

O que estava Zilda fazendo lá? Naquele fim-de-mundo?

Estava exercendo a coerência de sua vida. Ou seja, fazendo exatamente aquilo que dizia, o que escrevia, o que acreditava. E em silêncio, sem alarde nenhum, famosa que era, mais famosa no exterior do que no Brasil. Estava no Haiti, praticando humanismo.

Porque Zilda sorria? Sorria, exatamente porque conseguira a perfeita harmonia entre seu verbo e sua vida. Quase oitenta anos de idade, dos quais meio século de médica. Zilda, porém, não era médica, na acepção contemporânea da palavra: era, isto sim, humanista. (Médico, hoje, é só um cara que pede exames.)

Morreu dona Zilda Arns, uma das maiores personalidades do Brasil.

Quer Ayrton Senna, Ulisses Guimarães, Garrincha ou quem quiser, ninguém teve igual importância para a personalidade nacional, embora desconhecida aqui neste Haitizão, onde se conhece muito bem, um tal de Cazuza. E por favor, especialmente neste ano eleitoral, não confundam Zilda com Dilma…

Zilda sorria um sorriso de completo encanto. Sorriso místico de quem conseguiu entender que compaixão indulgência e perdão são coisas que se confundem, e é desnecessário entendê-las. Seu sorriso diáfano e perene, era misteriosamente envolvente. Era impossível não prestar atenção em Zilda, mesmo que ela estivesse falando num microfone, sobre um palco, a cinqüenta metros de distancia. E próxima, era simplesmente inesquecível.

Nunca a vi sem aquele sorriso maravilhoso, na TV, em filme, fotografia, entrevista, fico pensando, como ela conseguia, um sorriso tão explendidamente feliz, durante tantas décadas em que a vi, em tantas circunstancias diferentes. Só pode ser obra de elevadíssimo nível espiritual. Deus a abençoe.

Emerson Ribeiro é médico em Sinop

 

 

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