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O mito Lula

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de 61 anos, foi reeleito para um novo mandato de quatro anos. O petista obteve mais de 58,2 milhões de votos (superando 60% dos válidos). O número bate a votação de 2002, quando Lula foi escolhido por quase 53 milhões de eleitores e representa a maior votação de um presidente no Ocidente – o recordista anterior era Ronald Reagan, com 54,5 milhões de votos em 1984. Na verdade, com essa votação, o petista entra para História como o presidente mais votado no mundo. Já seu adversário Geraldo Alckmin passará à História como o primeiro candidato a presidente da República no Brasil que teve no segundo turno menos votos do que no primeiro. Espantoso, pois não!
O PT saiu mais forte, ao contrário do que diziam em penca os cientistas e analistas políticos. Tem 81 deputados e elegeu 83. Elegeu 5 governadores, um recorde para a sigla. Já o PFL – dos coronéis ACM e Jorge Bornhaunsen, declarou que o Brasil ficaria livre do PT por uns 20 anos. Errou bonito. O PFL fracassou feio. Elegeu um mísero governador, no inexpressivo Distrito Federal. Perdeu a Bahia (com ACM derrotado e entrando em fase crepuscular na sigla). Perdeu no Maranhão (com Roseana Sarney). Outro grande perdedor foi a mídia conservadora – leia-se Veja, Estadão Folha e Rede Globo, que levou bordoadas de muita gente, a começar das desfechadas pelo jornalista Paulo Henrique Amorim em seu blog e da CartaCapital que denunciou o complô que levou a disputa eleitoral para o segundo turno – e que após os resultados das urnas teve que agüentar ver em manchete no diário o Dia do Rio de Janeiro a frase: “O povo não é bobo e elege Lula de novo”, em alusão a parcialidade da mídia em favor do candidato tucano.
Passada a eleição presidencial, contrários à eleição de Lula perguntam-se como o atual presidente foi reeleito e com uma votação tão expressiva. É simples: Porque decididamente, melhorou a vida de milhões de brasileiros. O conceito é válido e é ratificado por opiniões de grandes jornalistas brasileiros. Franklin Martins, jornalista político da TV Band, por exemplo, disse que a principal explicação para a expressiva vitória de Lula está na inclusão social. Para ele, ela é a grande vitoriosa nas urnas. Segundo o jornalista, apesar de todos os erros, Lula convenceu o país de que seu governo melhorou a vida das pessoas, reduziu a miséria e diminuiu as desigualdades sociais e regionais.
Luiz Carlos Azenha, repórter da Rede Globo, vai mais longe. “A tênue ascensão social que os trabalhadores tiveram nos últimos quatro anos está expressa no grande crescimento das vendas da linha branca de eletrodomésticos e no espetacular crescimento do número de aparelhos de telefonia celular no Brasil. Ou alguém acha que as Casas Bahia se tornaram um fenômeno de vendas por causa da freguesia dos Jardins paulistanos ou da Barra da Tijuca, a chamada elite brasileira?”.
No campo político, Franklin Martins, prega que o PSDB/PFL cometeu o mesmo erro que o PT cometeu na eleição de 1994. Brigou com os fatos. Naquela época, o PT e Lula passou a ampanha fazendo o discurso de que o Plano Real era eleitoreiro. Mas, como a vida das pessoas tinha melhorado, elas deixaram eles falando sozinhos. Agora, aconteceu a mesma coisa com a oposição. Ficou falando sozinha. E deu no que deu. A oposição sofreu uma dura derrota. Lula venceu em 20 das 27 unidades da Federação e em quatro das cinco regiões do país, desmontando a tese de que o país estaria dividido entre vermelhos ao Norte e azuis ao Sul.
Da mesma opinião é colunista político Ilmar Franco, de O Globo: “Estão equivocados e são preguiçosos intelectualmente os que atribuem a vitória do presidente Lula a uma deformação moral e a falta de formação e informação da maioria dos eleitores. Isso é um besteirol. Foi esse mesmo eleitorado, com suas conhecidas deficiências e qualidades, que teve a virtude de dar duas vitórias ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso”. Para ele, a coligação PSDB-PFL perdeu as eleições porque baseou toda sua campanha na ética. Para ele, a população brasileira tem sabedoria, sabe que nesse terreno ninguém tem condições morais de dar lição a ninguém. Esta campanha só poderia dar certo se o PSDB-PFL tivessem a imagem de campeões da ética junto à população. Mas isso não ocorre. Segundo Ilmar, a verdade é que a bandeira da ética no Brasil está associada ao que de pior existe na política nacional.
Mas para aquele ainda não enxergaram estas mudanças e ainda insistem em atribuir a popularidade de Lula a razões que vão das benesses do Bolsa Família à desinformação da maioria da população, vou parafrasear um parágrafo do jornalista Roberto Pompeu de Toledo, da Revista Veja (esta mesma que durante as eleições mostrou-se uma grande rival do presidente). Leia e entenda:
“Lula não é um político. Não é nem mesmo uma pessoa. É um mito. É o retirante nordestino e operário metalúrgico sem um dedo que virou presidente, discursa na ONU e passeia de carruagem com a rainha da Inglaterra. Vá se derrotar um mito! Vá se querer destituir Hércules depois de ele ter cumprido os doze trabalhos! Vá se desafiar Teseu depois de ele ter derrotado o Minotauro!”.
Em síntese: Lula é visto como um presidente que garante dignidade contra a injustiça. Desistir de Lula, para essas pessoas, seria o equivalente a desistir da luta delas mesmas, de suas chances de melhorar de vida. Lula recebeu apoio de quem espera resultados e sabe o valor do próprio voto. Agora é hora de descer do palanque, largar o preconceito de lado e seguir o exemplo de 85% dos brasileiros que acreditam que o Brasil pode melhor neste segundo mandato de Lula.
Em tempo: De um líder criticado e hostilizado pela classe produtora, o governador Blairo Maggi foi o grande vitorioso destas eleições ao lado de Lula, e agora passar a ser o maior representante dos segmentos do agronegócio junto ao governo federal. E os produtores já sinalizavam com esta possibilidade. E sabem que Blairo será o elo entre eles e o presidente Lula. O apoio à reeleição de Lula foi uma sacada inteligente do governador. Lula fez uma série de promessas de obras e de recursos para Mato Grosso e, a pedido de Maggi, ainda assegurou que atenderá quase todas as reivindicações do agronegócio e ganhou importância e destaque nacional.
No Estado, Maggi mostrou força política. Tanto que Alckmim conquistou míseros 8.807 a mais que Lula. Mas se comparado a performance que teve no primeiro turno, o candidato do PSDB pode ser declarado como o grande derrotado. No 2º turno, Maggi entrou de “corpo e alma” na campanha de Lula. O esforço valeu a pena. Alckmin teve, menos votos que no primeiro. Em outubro, o tucano saiu de Mato Grosso com 790.320 votos e Lula com apenas 557.244. No segundo turno, o ex-governador de São Paulo terminou com 719.922 e Lula com 711.177 votos. Numa reação considerada fantástica, presidente Lula, assim, ampliou sua votação em 11,04% a mais que no primeiro turno, saindo de 38,65% para 49,59% ficando a míseros 1% de que Alckmin caiu de 54,82% para 50,41%.

*Paulo Teixeira é redator em Sinop

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