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O Covid-19 e o Planejamento Urbano

Eduardo Chiletto, arquiteto e urbanista, presidente da AAU-MT,
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A Arquitetura e Urbanismo tem impacto direto na saúde pública. O potencial de colaboração entre saúde pública e planejamento urbano é enorme. Mas como o planejamento das nossas cidades poderia contribuir no enfrentamento e combate à pandemia do coronavírus (Covid-19)?

É importante destacar que, por muitos séculos, a estratégia urbana em todo o mundo – e também no Brasil – gerou as piores condições de saúde, potencializando riscos a diversas doenças, como cólera, diarreia, tuberculose, entre outras infecções graves que ainda são frequentes.

A falta de acesso à água tratada, ao saneamento básico e às ações de higiene afetam gravemente a saúde humana, principalmente nas periferias. Segundo dados de 2018 do IBGE, Mato Grosso possui mais de 1,1 milhão de domicílios, dos quais 70,2% não possuem rede de esgoto ou fossas ligadas à rede. Na Capital, 33,4% deles despejam o esgoto diretamente em córregos ou outros lugares impróprios.

Outro grave problema que fica muito nítido neste momento se refere à inclusão social. Mais de 120 mil pessoas vivem hoje nas ruas do Brasil. Então, eu lhes pergunto, como elas atenderão as medidas de restrição obrigatórias? De que maneira esse contingente de pessoas de rua e/ou sem acesso à água potável poderá lavar as mãos com água e sabão e se higienizar para combater o Covid-19?

O principal impacto pela falta de água potável, antes dessa pandemia, eram os surtos de diarreia e, consequente, o aumento da mortalidade infantil, por exemplo. Mas há ainda uma série de outras doenças relacionadas a esses problemas de “falta de planejamento urbano”, como desnutrição, dengue, hanseníase e outras doenças tropicais negligenciadas.

Percebem o quanto o projeto de arquitetura e de urbanismo repercute diretamente na saúde da população? Existem estudos internacionais que apontam que habitações “insalubres” afetam diretamente à economia, uma vez que deve se investir, por consequência, em saúde pública para minimizar os impactos negativos gerados.

Um bom exemplo, o mais palpável de ser vislumbrado, é o projeto residencial: uma casa que não tem ventilação adequada e possui ambiente úmido facilita a proliferação de diversos tipos de bactérias, causando quadros alérgicos e de rinite, além de outras doenças respiratórias, mesmo a tuberculose.

Já na área do urbanismo, temos a construção das nossas cidades, vilas, comunidades. Como isso tem sido pensado e feito pelas lideranças políticas? Porque não é difícil associá-las a um status de saúde ou doença, o que exige por parte da população uma nova postura, mais participativa e de cobrança de ações preventivas.

Neste momento, despertamos para a importância da saúde pública nos ambientes urbanos, por causa da capacidade de disseminação rápida do coronavírus. Mas eu deixo a pergunta, de que forma deveria ser o desenho dos nossos centros urbanos? Penso que da forma como existem hoje, já ficou comprovado que potencializam a disseminação de doenças.

Desse modo, construções e intervenções nas cidades, vilas e comunidades devem ser pensadas pela administração pública e privada como ferramentas para melhoria da saúde, o que comprovadamente melhoram o desenho urbano e a forma de utilizar e usar os espaços, gerando bem-estar às famílias e à própria cidade.

Outra questão importantíssima para o planejamento urbano e territorial é o desenvolvimento de políticas de equidade, com um desenho urbano que privilegie áreas centrais e periféricas, beneficiando a maior parte da população, de tal forma que possa diminuir as desigualdades socioeconômicas e ambientais.

É importante destacar que pessoas saudáveis possuem cidades saudáveis, sem desigualdades e bem planejadas por arquitetos e urbanistas. O inverso também é verdadeiro, cidades saudáveis corroboram para pessoa saudáveis.

Que possamos sair deste momento de crise mais conscientes do que realmente importa e do quanto planejar em médio e longo prazo faz a diferença para nós e as cidades onde vivemos. Inevitavelmente, temos que repensar nossas condutas individuais e coletivas e o momento é agora!

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