sexta-feira, 20/setembro/2024
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O chauvinismo do Mato Grosso

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No Brasil são encontradas as maiores secções administrativas do mundo. O gigante paraense encontra-se nestes dias em frenéticos estertores para despertar do torpor que resulta de suas lonjuras aberrantes. Plebiscito marcado, verbas destinadas, clima político favorável: será dividido em três novos estados. Essas notícias despertam movimentos similares p"ra todo lado. Há sonhos de redivisões estaduais no Paraná, no Rio Grande do Sul, em Minas, mas nesses casos trata-se de probleminhas políticos, reminiscências mal resolvidas. Não é o caso de nossos sertões amazônicos.
Dez anos atrás éramos nós, matogrossenses, que estávamos fragorosamente empenhados na luta por uma nova divisão do Estado. Tínhamos significativo envolvimento popular, empresarial, organizações civis, tínhamos mapas da divisão, e tínhamos, algo mais importante que isso, uma considerável movimentação política, e apoio parlamentar de senadores e deputados de outros estados, como o Senador Mozarildo Cavalcante. José Serra, em campanha presidencial, desembarcou no aeroporto de Sinop, cercado por uma pequena multidão de jornalistas Sinopenses. A inevitável primeira pergunta: "o que o senhor acha da nova divisão do Mato Grosso". E o presidenciável responde seco: "p"ra que?" "p"ra que um novo Estado?" Estava atendendo a apelos de correligionários bairristas. Com efeito, quase todos os políticos importantes do Estado deasanimaram o anseio popular, com argumentos pífios. O que parece ser real é que eles acham bonitinho um Estado grandão.

O imenso e astronômico Mato Grosso já passou por diversas vicissitudes territoriais. Completando 163 anos na semana passada, já foi um dia a maior unidade federada do Brasil, maior que o próprio Amazonas, medindo cerca de 20% do território brasileiro. Cem anos antes de sua criação, a maior parte pertencia à Espanha, pelo tratado de Tordesilhas, e quando foi integrado ao Brasil pertenceu a São Paulo. Desentendimentos dividiram o Estado várias vezes. Quando foi proclamada a República apareceu o primeiro movimento divisionista, originado em Corumbá. Em 1932, com o apoio do sul do Estado à revolução daquele ano, nasceu o Estado do Maracaju, na região correspondente ao MS. Durou poucos meses, houve choques de tropas matogrossenses, e a derrota do movimento paulista de nove de julho. Onze anos depois o Mato Grosso foi redividido. Surgiram três novas entidades, com os territórios de Ponta Porã e o do Guaporé. O primeiro chegou a durar três anos, o último ainda existe, agora chama-se Rondônia. Mais trinta anos, e nova divisão, com a criação do Mato Grosso do Sul, em 1977.

Ninguém poderia ter imaginado nada melhor para os dois Estados. Conheci Cuiabá seis anos antes dessa da divisão. Era uma cidadezinha menor que Sinop, de cem mil habitantes. Só continuava sendo capital do Estado devido à pesada interferência pessoal de um Cuiabano ilustre, o ex presidente Dutra: bairrismo inconsequente. O grande Matogrossão acostumou-se com apadrinhamentos bairristas, mesmo contrariando sua vocação de progresso. O episódio do Zé Serra em 2002 no aeroporto de Sinop atendia a apelos "querencianos" do governador Dante. Em Cuiabá, falar em divisão é suicídio. A data da divisão é onze de outubro de 1977. No MS é comemorada como data patriótica, em Cuiabá passa disfarçadamente como data que envergonha os saudosistas.

Mato Grosso tem muito de que se orgulhar, mas preservar seu tamanho é obra de chauvinismo saudosista.
Dividido o Mato Grosso, ficou com trinta e poucos municípios, cheio de aberrações. Por exemplo, o maior município do mundo. Chapada limitava-se com os municípios de Cuiabá e de Altamira no Pará. Hoje, com mais de 140 municípios, cerca de dez por cento deles ainda estão a mais de mil km da capital. Alguns, bem mais que mil, como Vila Rica, São Felix, Novo Santo Antonio, e até mesmo a Santa Terezinha, a quase mil e quinhentos km da capital. O mais humilde, Araguainha, tem mil habitantes, e fica dentro de uma cratera de 24 km de diâmetro, produzida pelo maior meteoro caído na America do Sul. Quem conhece o Mato Grosso é o povo do sul.

Ainda há trechos no MT onde se anda mais de 200 km para encontrar um posto de combustível. Mas o Estado está maduro para nova divisão. Pode dar mais um ou dois novos Estados, como o Pará. Muita coisa melhorou. Em 1985 um candidato a governador (o que foi eleito) dizia a boca pequena, "no dia que nós perdermos o governo pra esse povo, (os migrados) nunca mais vamos recuperar". Pois já estamos nos encaminhando para o quarto mandato "alienígena": já tem até nome novo para depois do Silvaldo.

Emerson Ribeiro é médico em Sinop

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