Tem um ditado popular muito conhecido que diz: casa onde falta pão, todo mundo briga e ninguém tem razão. Esse é o caso da saúde em Mato Grosso, mas principalmente em Cuiabá, sua capital. Entra prefeito, sai prefeito, entra governo, sai governo, e a crise só agrava. E quem paga o pato é a população carente e desvalida que precisa de atendimento médico e não pode pagar um plano de saúde. O caos é total. A saúde entrou em colapso. Mas talvez, tal qual a fênix da mitologia grega, desse caos talvez nasça a solução. O que não pode é continuar como está.
Já está na hora de sentarem na mesma mesa as autoridades políticas envolvidas, de todos os poderes, tanto do Estado como dos Municípios, juntamente com as entidades de classe, como o SINDMED e o SINTEM, bem como outros interessados, com os espíritos desarmados, para buscarem uma solução para o problema, sem os ranços políticos observados em passado recente. O problema da saúde em Cuiabá, e de resto em todo o Estado, não se resolve apenas com discursos inflamados e críticas. Diversas Audiências Públicas já foram realizadas para tratar do assunto, mas o que se vê nessas reuniões é um desfilar de vaidades, com a única preocupação de apontar culpados. Após as reuniões as pessoas saem, como no dizer de Odorico Paraguaçu, com a alma lava e enxaguada pelos desabafos, porém sem nenhuma proposta concreta de solução. Até mesmo uma CPI já foi aberta na Assembléia Legislativa, todo mundo jogando para as platéias, mas resultado, que é bom, ninguém conhece. E a situação se agrava a cada dia
Hoje, até mesmo pessoas que tiveram a oportunidade de resolver o problema no passado, e nada fizeram, julgam-se no direito de criticar, de jogar pedras, como se a população não tivesse memória. Não é preciso muito esforço para reconhecer: culpados somos todos nós, por termos permitido que a saúde de Cuiabá, para não dizer a de Mato Grosso, ter chegado ao fundo do poço, como chegou. A sociedade, essa sim, vitima de generalizadas ações sinuosas e claudicantes, não suporta mais a licenciosidade dos agentes políticos e tem pressa. Porém, o problema somente se resolverá se o conjunto da sociedade se envolver no processo buscando construir uma solução de consenso.
Na busca dessa solução algumas premissas básicas devem ser levadas em consideração. Em primeiro lugar, deve-se ter a consciência de que não adianta se sentar à mesa de discussões, cheio de razão, porque nesse caso ninguém a tem. É preciso, antes de tudo ter a humildade para reconhecer que todos nós temos sido incompetentes para resolver o problema. Portanto, vir para a negociação, cheio de títulos, pompas e circunstâncias de nada vai ajudar. Nesse momento é preciso, antes de tudo humildade e disposição para ouvir. Deixar o problema somente para o município é empurrar o problema com a barriga. Cuiabá não tem recursos sequer para resolver seus próprios problemas, quanto mais para servir de escoadouro dos problemas dos outros municípios, como acontece hoje. O fato concreto é que somos a única Capital de Estado que não conta com, pelo menos, um hospital estadual de referência e de urgência e emergência. Recife, por exemplo, somente no atual governo, construiu três.
Além do mais, os hospitais regionais, em funcionamento no interior, não contam com estrutura adequada, nem em termos de gente, nem de equipamentos para disponibilizar as especialidades necessárias e a única opção é a ambulancioterapia, comprometendo ainda mais a já precária estrutura do Pronto Socorro de Cuiabá.
Acho que seria pertinente criar nos termos dos artigos 5º e 6º, da Lei Complementar nº 359/09, que criou a Região Metropolitana do Vale do Rio Cuiabá, lei essa que nunca foi regulamentada, um Comitê Executivo de Saúde, com representantes de todos os municípios envolvidos, e presidida pelo Secretário Estadual de Saúde, para gerir a saúde da região, pois a solução de Cuiabá depende da solução dos municípios do seu entorno. Fica aí a sugestão.
Waldir Serafim é economista em Mato Grosso
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