Há na engenharia uma máxima de que é um mau negócio resolver um problema cirando outro maior. Engenheiros tendem a ser lógicos e usar um raciocínio cartesiano, que é particularmente útil em períodos de crise, nos quais a criatividade precisa ser coordenada com sinais que façam sentido na sociedade como um todo. E é numa crise que o governo de transição opera neste momento em nosso país.
Pois bem, o Brasil que encerra 2022 tem problemas bem conhecidos de todos os que não se iludem por discursos fáceis e analisam números e dados: uma inflação acima da desejada, contas públicas apontando um cenário deficitário, economia com crescimento baixo, famílias e empresas com alto endividamento e com alto custo de rolagem de suas dívidas são alguns deles. Há, portanto, questões fiscais e sociais pressionando os gestores públicos brasileiros, e em especial a equipe de transição do presidente eleito, que precisa conciliar promessas de campanha, expectativas da sociedade e o compromisso com as contas públicas.
Qualquer que seja o caminho a seguir, algumas certezas já existem no ar: a conhecida lua de mel do governo eleito com o povo, que costuma normalmente durar algo em torno de 100 dias, não vai existir, seja pela apertada margem com que Lula venceu as eleições, seja pelo imediatismo das respostas que a sociedade espera no mundo inteiro de seus governantes. A crise que existe requer manobras rápidas e precisas, como aquelas que Tom Cruise e seu imortal Tenente Maverick fazem nos filmes espetaculosos chamados de Top Gun: neles e no momento atual, qualquer movimento errado faz a aeronave se espatifar contra um morro ou ser abatida pelo fogo inimigo.
Qual seria então o caminho seguro? Como acalmar este impaciente Brasil?
A escolha de um ministro da economia capaz de se comprometer com os compromissos de campanha, manter a responsabilidade fiscal como pilar econômico e sinalizar ao mercado que terá respaldo e autonomia, capacidade de articulação política e credibilidade é algo fundamental. Penso que é por isso que Lula ainda não anunciou seu escolhido, e preferiu ele mesmo até o momento lançar algumas ideias no ar, como a PEC com autorização de gastos extra feito de maneira quase eterna, para sentir as reações políticas e econômicas. Testando o mercado com seu próprio capital político, ele evita a fritura prematura de ideias e nomes durante o período de transição. Mas a transição não pode durar para sempre, e em algum momento entre agora e começo de dezembro este importante passo, o anúncio do escolhido, será dado: o nome precisa ter mão firme e voz macia; paciência e tenacidade; credibilidade, capacidade de articulação política, alinhamento com o governo e autonomia para desagradar pequenos interesses em nome do bem maior. E não é fácil encontrar alguém com estas características.
Escolhido o nome, ele estará nos holofotes e precisará rapidamente sinalizar o caminho a percorrer. Esqueçam a tese da reativação da economia pelo estímulo ao consumo, a fórmula usada no passado recente da administração PT, porque com endividamento alto, crédito caro, inflação alta e recessão no ar as pessoas não vão sair consumindo só porque Luiz Inácio disse que poderiam. Para reativar de maneira sólida a economia, o governo precisa apontar em quanto tempo retoma as rédeas da inflação e como vai equilibrar as contas públicas, gerado com isso espaço para a redução dos juros reais no país, o que naturalmente vai reduzir as despesas do governo com juros e criar o chamado “espaço fiscal” para que o governo gaste mais com as necessidades reais do país e menos com o financiamento da dívida pública. Como bônus, o custo do crédito cairá de maneira geral e toda a sociedade vai poder se reorganizar para reativar a economia, ser mais produtiva e aumentar nossa taxa de investimento. Apoiar a reforma administrativa com foco na eficiência pública e sinalizar uma simplificação tributária no país não fariam mal tampouco ao novo governo.
Se tudo isso der certo, o Brasil pode ir para o segundo semestre de 2023 bem mais organizado, com taxas de juros menores, aporte de recursos externos, um câmbio que reduziria a pressão inflacionária e um novo nível de confiança empresarial e da população em geral, que fariam a roda da economia girar em um ritmo saudável e desejável.
Então, me perguntaria o leitor: se há um caminho óbvio, é nele que vamos seguir? Bom, como eu disse no começo do artigo, cartesianos e lógicos são os bons engenheiros. Quanto aos políticos, eles podem até se comportar desta maneira, mas para isso é preciso que sejam cobrados pela população e tenham opositores fiscalizando se eles estão seguindo o caminho seguro.