O plenário da Câmara dos Deputados aprovou no mês passado a realização do plebiscito para a criação de dois novos Estados brasileiros, o Carajás e o Tapajós. Uma semana depois de Brasília aprovar o plebiscito paraense, escrevi uma peça para publicar na internet, intitulada o “Chauvinsimo do Mato Grosso” (jornal sonoticias.com.br 16/5/2011). Nos dias seguintes comecei a receber manifestações sobre o artigo. Simultaneamente apareceram, em todo o Estado, novas manifestações para a re-divisão do Estado do Mato Grosso. Achei muito interessante o artigo do jornalista Leandro do Nascimento “É hora de dividir, e nascer o Araguaia” publicado no Olhar Direto, em 26/5. Muito interessante também, foi que “inteligentsia” cuiabana também se fez presente, com a usual pieguice com que trata o assunto, ainda traumatizada pela dolorosa amputação territorial ocorrida há 34 anos. Sempre às turras com o jamais perdoado MS, e festejando os 292 anos da capital, voltou-se então para o Araguaia e o Nortão.
O movimento para a melhora da federação brasileira está intenso. Encontra resistências, somente de políticos que pensam estar vivendo os píncaros da glória, (talvez seja o caso de nosso governador) e não querem saber de nada que possa lhes alterar a “dolce vita” política.
A maior parte dos projetos de divisão de Estados no Brasil é fruto de velhas escaramuças, que não têm sequer valor histórico. São casos como os Estadinhos do Pampa no RS, o do Iguassú no PR, e as idéias de repartir São Paulo em quatro estadinhos “europeus”. Esses pleitos particulares turvam a legitimidade das aspirações dos Estados setentrionais brasileiros. Em nosso caso as necessidades carregam o autêntico substrato político no que se refere à vida e a administração de nossos imensos sertões. Esse é o problema dos Estados jupiterianos da Amazônia brasileira. Tais absurdos só existem no Brasil. Isso é uma vergonha, como diria o sisudo Bóris, que lembra a Rússia: só a Rússia tem um departamento do tamanho do Estado do Amazonas, mas fica na Sibéria, é só gelo, e tem população menor a de Macapá.
A vizinha Bolívia, menor que o Pará, é dividida em dez Estados. O Peru, do tamanho do Pará, é dividido em 23 departamentos estaduais. Colômbia, mais de trinta. A Venezuela, que é do tamanho do nosso Estado, ou, para ser mais exato, apenas 5% maior que o Mato Grosso, tem 23 Estados.
A aprovação do plebiscito paraense no mês passado provocou a irrupção de discussões em toda a extensa paisagem amazônica, e também na nordestina. Além do Carajás e o Tapajós que já estão praticamente certos, reapareceram os planos de acabar com as bizarrices fundiárias desta parte do mundo. Há projetos para o Amazonas, com os Estados do Solimões, do Alto Rio Negro, os nossos Mato Grosso do Norte e o Araguaia, o Maranhão do Sul, também a Bahia com três novos Estados, o Piauí dois, Minas, e outros. Até o imenso Goiás, dividido há apenas 22 anos, está a ponto de parir seu terceiro filhote, (depois do Distrito Federal e o Tocantins), agora o Estado do Planalto Central, ao norte de Brasília.
Um respeitadíssimo jornalista cuiabano alega em um de seus artigos (Os dois Matogrossos), que o MT e o MS nunca se entenderam muito bem, porque suas origens são diferentes, suas demografias, gaucha, mineira, formação econômica etc. Leio Onofre sempre com renovada avidez, mas aqui discordo: somente isso jamais teria sido motivo da divisão. Caso o mote fosse válido o Mato Grosso atual teria de ser passado numa máquina de fazer cavacos, dava mil pedaços. Diversidade não é desavença, é riqueza.
O grande problema não é esse: são as lonjuras absurdas, os colonialismos que uma região exerce sobre outra, os privilégios e as injustiças inevitáveis, a rarefação jurídica e todas as demais contenciosidades federativas. E os descaminhos logísticos, que nem o milagre pós-moderno da internet é capaz de superar.
Emerson Ribeiro é médico em Sinop.