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Nossos governantes deveriam falar menos e refletir mais

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Nas últimas semanas tenho feito algo bastante alheio a aquilo que costumo fazer e, diria, novo para mim: falar publicamente. Confesso que não me sinto a vontade, não quanto à questão de falar publicamente em si, pois isso até faço, afinal ministro aulas em Cuiabá e esporadicamente em outras partes do Brasil. Mas nesses casos, os assuntos são técnicos e inerentes à minha área médica de atuação e especialidade. Tenho falado sobre questões públicas, saúde pública e até, ora vejam vocês, sobre história política do Brasil e princípios básicos de Democracia.

Gosto de novos desafios, quem me conhece sabe, logo isso não me assusta. Igualmente, tenho um costume que tem me ajudado bastante, e me parece bastante salutar. Esse costume aprendi com meu pai e o fortaleci ao longo da vida, em especial com grandes mestres que tive aqui mesmo em Cuiabá durante meu tempo de graduação na FCM-UFMT, pós-graduação e no Mestrado. Uma regra simples: fale o que pensa, expresse posições, mas respeite seus ouvintes, portanto, LEIA, ESTUDE, REFLITA, amplie sua idéia de mundo e tome como referência a história, mas respalde-se naquilo que há de novo, moderno, e verdadeiramente sólido no tocante a formação de opinião na ATUALIDADE não só do nosso país, mas de todo o planeta. Em medicina chamamos isso de EVIDÊNCIAS. E, senhores, não é uma tarefa fácil: a informação viaja nos dias de hoje a ampla velocidade e para manter-nos atualizados precisamos, sim, LER E ESTUDAR MUITO!

Mas voltando ao nosso assunto, questões públicas, saúde pública, democracia, exercendo esse já citado "costume", deparei-me com a edição 1361, ano de 2009, do Jornal da Associação Médica Brasileira. Já de cara me perguntei, será que nossos gestores em saúde lêem o Jornal da Associação Médica Brasileira (JAMB) ou outros do gênero como o "the Journal of American Medical Association – JAMA"? Afinal militam na área de Saúde, bem, espero que sim, mas me parece que não.

Estudando o periódico me chamou atenção o artigo: OBAMA, O PRESIDENTE QUE OUVE OS MÉDICOS. Você pode concordar ou discordar das posturas políticas do Ilmo.sr. Barack Obama, mas creio que devemos estudá-las e acima de tudo respeita-las, afinal, esse homem hoje faz história em nível mundial, sendo sem dúvidas alguma consolidadamente uma das pessoas mais notórias de toda a humanidade (primeiro presidente negro dos EUA, sua história de vida, etc.). Não vou me reportar ou transcrever todo o artigo. Quem se interessar, está on line em http://www.amb.org.br/teste/imprensa/jamb.pdf via site da Associação Brasileira de Medicina (http://www.amb.org.br). Mas vou ressaltar um trecho apenas para a nossa reflexão:

"O presidente José Luiz Gomes do Amaral e o diretor de saúde pública, Florentino Cardoso Filho, representaram a AMB na Assembléia da Associação Médica Americana (AMA), realizada no dia 15 de junho, em Chicago. Na ocasião, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apresentou o plano de reforma do sistema de saúde americano à classe médica. No evento, Obama enfatizou não ser possível considerar um plano de reforma de saúde sem ouvir os médicos. Por isso, a AMA foi recebida na Casa Branca para discutir com o presidente e seus assessores os principais problemas de saúde do país.
Foi ao longo dessas discussões que se organizou a participação de Obama na assembléia da AMA. Antes do seu discurso, a presidente da AMA, Nancy Nielsen, assinalou as principais posições dos médicos frente ao sistema de saúde americano.".

Segue então o discurso proferido pelo presidente Obama naquela ocasião, de onde destaco textualmente os seguintes dizeres:

"Qualquer legislação enviada à minha mesa que não tenha esses objetivos, não merece ser chamada de reforma. Mas, minha assinatura em um projeto não é suficiente, preciso da ajuda de vocês, médicos. Para a maioria dos americanos, vocês são o sistema de saúde. Americanos, incluindo eu, apenas fazem o que vocês recomendam. Por isso eu os escutarei e trabalharemos juntos para conseguirmos uma reforma que funcione para vocês. E, juntos, se seguirmos todas essas medidas, poderemos diminuir despesas, aumentar a qualidade, e economizar centenas de bilhões de dólares em saúde, fazendo o sistema funcionar melhor para pacientes e médicos… Obrigado."

Isso não foi uma promessa de palanque. O presidente Obama estava reunido, discutindo olhos nos olhos com os médicos americanos e seus representantes. Posteriormente, o próprio presidente participou ativamente, palestrou e debateu, ouviu e foi ouvido na Assembléia da AMA.

É, meus caros amigos. Seria maravilhoso se nossos governantes falassem menos e nos conhecessem mais. Compartilhassem conosco nossos problemas. Estivéssemos ao nosso lado em nossas atividades do dia-a-dia ao invés de se acovardarem atrás da mesa de seus quase impenetráveis gabinetes. Conto com a reflexão de todos e vocês sobre o tema. E para terminar, deixo aqui meu registro agradecimento e admiração a esse líder, o que nos dá aqui uma lição de democracia.

Alberto Bicudo Salomão é medico em Cuiabá
CRM-MT 3841

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