O fato de ter sido eleito no poder executivo municipal, numa área metropolitana de uma capital europeia, Lisboa, leva amigos a mostrarem-se curiosos a respeito do meu olhar sobre o Brasil. A cada período eleitoral esse interesse desperta mais questionamentos, aos quais sempre busco responder de forma objetiva e sincera. Ao fazê-lo procuro também não estabelecer comparações, por entender que isso pouco ajuda à equação, pois o que mais interessa são os propósitos específicos de cada sociedade e os imperativos que dela emanam na justa expectativa de uma melhoria do bem estar das populações. Efetivamente, nos momentos eleitorais intensificam-se as exposições políticas, esforçam-se as relações e são alvitrados mecanismos para concretização de objetivos. Circunstância que oferece condições para uma particular observação dos comportamentos e concepções sociais que, no meu entender, são os efetivos alicerces da sociedade, assim como os principais fatores responsáveis pelas impactantes consequências que essa mesma sociedade seguidamente nos impõe.
Sem pretender colocar a mão sobre quaisquer cabeça e muito menos estendê-la a algo escuso, neste momento não consigo desviar o olhar da generalizada prática de antropofagia no Brasil. Um canibalismo preconizado por cidadãos sedento de sangue e dinheiro que dessa forma compromete uma saudável união dos diferentes brasileiros e lhes nega pensar grande, profundo e longínquo. Nessa carnificina, outros aspectos pairam sobre todos. Paira o espectro de uma robusta incompetência que quando eleita ou indicada para administrar a coisa pública o faz em benefício próprio e vezes de forma imprópria. Propaga-se uma projeção insana de sociedade em resultado da alternância de pensamentos que variam entre momentos de total alheamento da realidade e momentos de prostada alienação. E não cessa a reprodução de uma postura inconsequente acoberta de uma displicência barata, fajuta e altiva, alegremente ensinada desde tenra idade. Perante esse cenário grotesco, em certas ocasiões alguém fala: nunca desisto, sou brasileiro. Mas essa expressão popular que pretende evidenciar perseverança e determinação no jeito de ser brasileiro, o meu olhar interpreta-a como um grito de auto-repulsa por: não desisto de ser maltratado, de ser enganado e roubado.
Não se trata aqui de escárnio ou mal dizer da minha parte. Não se trata de olho gordo ou da inveja de que minha querida sogra me alertou logo à chegada. E muito menos se trata de oposição política, profecias ou leitura de escrituras. Trata-se sim de uma indignação proporcional há indignação de qualquer brasileiro que rejeita e se sente profundamente violentado com esta forma completamente desqualificada de se estar na vida pública e privada. E quando alguns tentam encobrir isso dizendo que assim se é por questões de sobrevivência, é falso. É sim uma simples questão de vivência e prova disso é que muitos outros com semelhantes históricos ou similares problemas acabaram por enveredar por outros caminhos que os levaram a outros lugares. É um sufoco esta teimosia em querer-se edificar uma sociedade nesses moldes e com essas pessoas. Já não tem mais cabimento responsabilizar os navegadores e colonizadores que aqui chegaram há 500 anos, assim como não resulta culpar os pais dos meus avós pelo que se passa dentro na minha casa.
Soluções? Grandes problemas normalmente requerem um conjunto de medidas, não uma só. Mas uma dessas medidas possíveis de implementar de imediato é não votar em mentiroso, malandro, gatuno, corrupto, despreparado e por ai vai. Você sabe do que eu estou falando. Não dê moral a esse tipo de gente. Vote sério!