Mais uma vez um parlamentar mato-grossense, tido como o "rei dos fichas suja" foi notícia em veículo de comunicação nacional (agora no Jornal "O Globo"), espaço da mídia onde ele não consegue impor sua censura, seja pelo força do dinheiro das verbas de publicidade, seja pelas liminares que a justiça lhe concede, impedindo a publicação de críticas.
E me pus a pensar.
Procurando tratar de maneira como seria o imponderável, me pus a fazer um exercício mental. Pensei na possibilidade remota de um dado (pequeno cubo usado em jogos) ao ser jogado, cair 12 vezes com o número 1 para cima.
Impossível? O imponderável pode fazer acontecer.
Pensei na possibilidade de um candidato a deputado estadual ganhar uma eleição gastando menos de 100 mil de reais.
Impossível? O imponderável pode fazer acontecer.
Esses temas não me fascinaram e aí lembrei-me de um assunto interessante relativo a um político local que consegue ser notícia na Revista Veja, no Jornal Folha de São Paulo e no Globo, emporcalhando (de novo) a imagem do nosso estado de Mato Grosso. Ele nega que seja culpado, "amarra" o andamento dos processos há 20 anos e vocifera contra juízes que ousam proferir decisões contra ele.
Mas veja, poderia o Deputado mais processado do país, uma espécie de campeão dos fichas sujas do Brasil, com mais de 100 processos ser inocente e estar sendo injustiçado?
Impossível? O imponderável pode fazer acontecer.
Já pensaram que existe a remotíssima possibilidade do brilhante (ao menos na careca) político, ser inocente nos 116 processos (até a data de hoje, pois segundo a revista VEJA, à sua "capivara" são acrescentados uma média de um processo novo a cada três dias)? Imagine que ele nunca comprou votos para se eleger, como dizem, nem pressionou o delegado civil de Campo Verde, que o investigou. Que ele nunca trocou cheques da Assembleia Legislativa em "factoring" de João Arcanjo Ribeiro, que nunca formou quadrilha, que nunca praticou peculato, que nunca prevaricou e que não é rico, que não é dono de garimpo, que não gasta com a mídia 25 milhões por ano de verba pública, que não praticou trabalho escravo em suas fazendas.
Divague-se ainda mais.
Imaginem que ele nunca fez dobradinha com um outro acusado, ex-deputado e hoje conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (caiu nas mãos da Ministra Eliana Calmon). Imagine que ele nunca teve poder sobre os demais membros do legislativo estadual, ao ponto de se reeleger por unanimidade, com recorrência. Imaginem que sua mulher nunca foi presa em operação da Polícia Federal e que nunca houve crime ambiental em suas terras. Imagine que ele não conseguiu eleger o genro (um ilustre desconhecido) como o mais votado vereador de Cuiabá (no "esquemão" do ex vereador Edivá) e depois o fez presidente da Câmara Municipal?
Tudo isso é possível. Mas é muita imaginação para um pobre mortal. Nem o maior escritor de romance policial de todos os tempos ousaria escrever tal folhetim.
Se tudo que falam desse político for mentira, calúnia, invenção do Ministério Público, intriga do Tribunal Eleitoral, perseguição da justiça, birra de seus adversários e imaginação do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitora), então o moço deveria se candidatar a Presidente da República e mereceria nosso apoio, incondicionalmente. E mais, seria o presidente de honra do MCCE em Mato Grosso e faria jus – como desagravo – a uma estátua em sua homenagem na sede da Transparência Internacional. Colheria assinaturas de um pedido de desculpa coletivo por ter sido enganado pela justiça que conseguiu transformar um cidadão de bem em uma imagem do mal.
A sorte é que eu acordo desse devaneio metafísico de lidar com o impossível, restando conviver indelevelmente com a triste realidade, de que Mato Grosso se notabiliza por adotar como filho um cidadão de folha pregressa tão deplorável, que provoca um rombo nas contas públicas de montante suficiente que daria para resolver definitivamente o problema da saúde pública no nosso Estado.
Lembremos que há um "buraco" de 800 milhões nas contas públicas de Mato Grosso e que a Assembleia "contribui" com meio bilhão (que ela vai "torrar" em 2013). Quantas pessoas seriam curadas, e quantas não morreriam, e quanta dor seria suprimida e quantos sorrisos brotariam nos lábios, se esse meio bilhão fosse usado para o bem do povo?
Que pena, mas há casos em que o imponderável não existe!
*Antonio Cavalcante Filho e Vilson Nery são ativistas do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral) em Mato Grosso.