Ministra Kátia Abreu, a senhora tem condições de se candidatar à presidência da república na sucessão da presidenta Dilma. Só vai depender da sua habilidade em cuidar do agronegócio brasileiro. Este governo já nasce totalmente agrodependente. A senhora sabe, se os grãos não estão àquela maravilha – porém longe de qualquer crise –, a proteína animal, conforme o isento Rabobank informa: “Boi – demanda externa segura preços em alta no mercado interno. Frango – tem vantagem sobre outras carnes. Exportações e baixo custo dos grãos garantem margens. Suíno – mercado externo aquecido mantem preço elevado, mas deve haver aumento da produção”. O peixe não anda nos monitoramentos, mas será um tremendo nobre mercado, acredito no futuro do Pirarucu da Amazônia, sim… já está em produção em Rondônia (RO). Sem contar ovos, leite e seus derivados. Além do universo das rações, incluindo o fulgurante mundo pet. Logo, ministra Kátia, a senhora só precisará impedir que este governo cometa algum tipo de barbaridade bolivariana, venezuelana ou kirchineriana. Se for pra ser de esquerda, que seja autêntica, a chinesa mesmo – mas isso dá muito trabalho e nossos companheiros não são afeitos a essas análises concretas de situações concretas como explicava a velha Mao. Temos capacidade de expansão no trigo nacional com o talento e as sementes da Embrapa Cerrado, condições de melhorar a luta pelo custo de produção com o conhecimento das integrações lavoura/pecuária e ainda adicionar, para felicidade geral do planeta, a magia da floresta (sem lobo mau). Prezada ministra Kátia, use todo seu poder de sedução e talento, de sua amizade com a presidenta Dilma, e bote pra valer as obras de infraestrutura do País para revolucionar. Cuide com olhos de lince, muito próximo, da turma que ficou com os portos… não sei não ministra… não deixe a necessidade voraz de recursos do governo elevar tributos sobre o setor e desonere, pois de verdade, verdade mesmo, pra vender coisas brasileiras pelo mundo. A proteína animal por exemplo, já leva embutida a energia e proteína vegetal, sem contar a própria, a vegetal, também faz parte do show. Bem, laranja e café seguem ascendentes, arroz e feijão vão bem, e assuma o hortifrúti com vigor. Preste atenção ministra, notícias de inflação estarão sempre ligadas ao tomate, cenoura, alface, batata ou pimentão… cuide disso… reorganize o setor, use o pessoal valoroso que tem nos Ceasas, a Dra. Anita Gutierrez, por exemplo. Ela sabe tudo. Faça alianças estratégicas com os supermercados. Não brigue com eles. Negocie. Veja o potencial do programa R.A.M.A da Associação Brasileira de Supermercados (Abras, São Paulo/SP), por exemplo. Não se esqueça, pois falamos de agronegócio, e tudo começa lá nas gôndolas dos supermercados. Ou seja, estimada ministra, cuide para não haja nenhuma burrada que possa impedir o agronegócio de fazer, naturalmente, o que já está programado para fazer. Ah, ministra, olha também para o que ainda importamos dentro das cadeias do agro. Claro, faz parte importar, mas tem assuntos para cuidarmos aqui, a borracha, a cevada, o cacau, e até o alho branco ministra… o nosso alho roxo é muito melhor… e ainda é roxo mesmo… e, claro, as especiarias, a farmacêutica, as essências, as flores e o gigantesco potencial do agro turismo tropical.
Bem, temos a questão do micro, pequeno e médios produtores. Pelo amor de Deus, ministra Kátia, pegue na mão do cooperativismo. Não há possibilidade alguma de êxito do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA, Brasília/DF), de assentamentos ou de qualquer iniciativa do seu colega ministro Patrus Ananias, de ser bem sucedido, e eticamente escrever seu nome em um legado da pátria “by patrus”, sem o cooperativismo. Ouvi dizer ministra que tem gente que não gosta do cooperativismo. Não consigo entender isso. O cooperativismo significa emancipação, de verdade. E sabe ministra, como o novo lema do País é “Brasil: Pátria Educadora”, seria importantíssimo que todos lessem o digno e imortal pedagogo brasileiro – Paulo Freire. Ele dizia: educar significa emancipar. E, no mundo do concreto, da realidade, para emancipar precisa viver o mundo real, negociar, produzir, competir, vender, auferir renda, e isso, no universo dos micros e pequenos, pede cooperativismo. A pedagogia do oprimido só se resolverá por cooperativas, fico imaginando 70 mil famílias da Aurora (Chapecó/SC), o que são eles se não agricultura familiar muito bem sucedida, e não condenadas a vitimização pelo assistencialismo indigno? Ou ainda Rio Verde (GO), sem uma Comigo. Isso para não dizer que não falei de cooperativismo no Brasil central! Sabe ministra, vossa excelência deveria investigar quais as razões que fizeram com que sua grande amiga, a presidenta Dilma, não recebesse nunca o movimento cooperativista no governo anterior. Isso é vergonhoso para uma presidenta humanista, de convicções de esquerda sob a práxis dialética. O MDA não terá sustentabilidade sem cooperativas.
Ministra Kátia, seu caminho para a presidência estará ainda mais asfaltado se a senhora considerar as pesquisas que foram realizadas pela Associação Brasileira de Agronegócio juntamente com a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ABAG/Espm, ambas sediadas em São Paulo), no ano passado, no período pré-eleitoral. Está escrito no documento da ABAG: 13º Congresso Brasileiro do Agronegócio – anais 2014. Ali podemos constatar a importância que o eleitor brasileiro já dá ao agronegócio. Ministra, aproprie-se desse patrimônio. 91,2% dos eleitores entrevistados consideram o agronegócio muito importante para a econômica do País. Veja só o ativo eleitoral: 81,2% preferem um candidato que entenda de agronegócio. 92,8% querem um candidato que reduza os impostos dos alimentos. 84,3% dos eleitores se identificam com um candidato que tenha política para apoiar a agropecuária. 83,7% optam por um postulante que de maior atenção aos agricultores. 72,8% não votam em candidatos com descaso com a agricultura. E mais de 90% dos votantes concordam que o Brasil pode alimentar o mundo e que o agronegócio gera empregos nas cidades. Resgate o orgulho nacional ministra, tão destroçado com a enxurrada corruptiva e escandalosa. Para o Brasil, Pátria Educadora, precisamos de mestres educadores nos altos cargos, de exemplos. As pesquisas também mostraram que o povo considera agricultores dentro das cinco atividades mais vitais para suas vidas, ao lado de professor, médico, bombeiro e policial.
Ministra Kátia Abreu, não caia na conversa antiga, de líderes do passado que menosprezam a sabedoria da voz do povo. As coisas do agro podem não estar na superfície de suas mentes, mas basta cutucar um pouquinho para surgirem como grandes preocupações nacionais. Ministra afaste de si o ego dos intelectuais “bla blantes”, como dizia Paulo Freire. E ainda mais, o povo não acha que poderá ir viver no campo, mas deseja aspiracionalmente que esse campo chegue para ele na cidade. Agora em fevereiro tem o “Paris International Agriculture Business Show”, lá na Cidade Luz. Vai virar a capital mundial do alimento. Precisamos promover e trazer esse campo para os grandes centros votantes e onde se decidem as eleições. Afinal, queremos a senhora presidenta do País. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre, Curitiba, Manaus, Belém, Cuiabá, Goiânia, Brasília e a sua Palmas, e todas as capitais… lembre-se ministra, a coisa não é mais agronegócio, agora virou agrossociedade.
Por último ministra, mas não menos importante, ao ser dura, seja muito dura com os maus elementos que são nefastos do lado de dentro do próprio agronegócio. Os de má índole alimentam os adversários externos, mas o inimigo número um, é o malévolo do lado de dentro, corrupto, ilegal, criminoso, fraudulento. E candura ministra, candura. Tem mais falso candidato a líder no agronegócio brasileiro do que Helicoverpas reinantes.
Ministra Kátia, desenvolva sua capacidade de candura, de inclusão, de relacionamento e de envolvimento com toda sociedade urbana brasileira nas questões agroalimentares. Saiba também que o povo ama o nosso etanol, mas desconhece totalmente o trauma em que vive hoje. Beth Farina, outra competente mulher, lá na Unica (São Paulo/SP), chame, converse. É hora para se melhorar o diálogo e a comunicação. Ministra Kátia, não deixe de usar o conhecimento do monitoramento e governança das redes sociais. Comunicação em 2015 não é reflexo de 2005, ao contrário, precisa ir à 2025, e começar de frente para trás. O presente, agora, será o resultado do futuro. Ministra, crie um conselho de anciãos. De bons sábios. Os bons velhos já tropeçaram, caíram e desenvolveram cascas grossas nas suas peles. Convoque-os e ouça. Escute também os jovens, eles representam a esperança radical. Aplique o melhor da pedagogia dialógica, já que o Brasil, agora é a Pátria Educadora. E, sobre as questões das legislações trabalhista, ambientalista, tributarista, reforma agrária, questão indígena, reúna dados e números, e explique com fatos e razão, o que está certo e o que está errado. As utopias são valiosas, desde que não signifiquem aniquilar os próprios utópicos. Os sindicatos rurais, e os mais vocacionados e bem sucedidos empresários do agronegócio tem sim, também, o dever de reinvestir e de promover qualidade de vida em cada uma de suas cidades. Se Lucas do Rio Verde, MT, é um digno exemplo nacional, foi por que fizeram lá, lideraram e realizaram. Foi coisa de pessoas. E, para não perder a geografia dessa história está Marino Franz – que chegou lá levando sua roupa em um saco de adubo –, que liderou e fez muito das coisas ótimas ali… e agora ministra… mesmo não sendo da policial federal e nem juiz, acho estranho esse homem que conheci e admirei estar sob processos e, pelo que soube ministra, tudo de acusação anônima!? Esquisito demais ministra… é verdade e é possível o agronegócio fazer acontecer o progresso agrossocial, em todas as cidades do País. Se em Pojuca na Bahia tem a Fundação José Carvalho, foi por que um homem e seus seguidores fizeram. Se em Pompeia no Estado de São Paulo tem a Fundação Shunji Nishimura, foi por que um homem e seus liderados fizeram… e assim é a realidade. Quem tem vocação, capacidade empreendedora, e pode mais, precisa fazer e saber dar muito mais. Não há possibilidade fora de uma filosofia de sustentabilidade. Não há possibilidade fora da arte da negociação. Venha ministra para o pós-porteira das fazendas. Conheça os principais executivos e dirigentes das maiores corporações planetárias do agronegócio. Não brigue com eles. Negocie com eles. Mergulhe ministra no reino da alta ciência e tecnologia das corporações do antes da porteira. Conheça seus planos de investimentos em tecnologia globais, e o que está sendo alocado desses orçamentos para as condições tropicais brasileiras. Como na genética, por exemplo. Agronegócio é tecnologia, e tecnologia agora precisa de uma gestão inteligente e sustentável. Coloque do seu lado os melhores cientistas do País. Chame o CCAS (Conselho Científico para a Agricultura Sustentável), a genial Embrapa, os brasileiros e brasileiras de grande cuca e de graça. Não custa nada. E não brigue com as multinacionais, ministra. Negocie. Dialogue.
Enfim, estimada ministra Kátia Abreu do MAPA, como brasileiro, desejo seu sucesso. E, se a senhora cumprir a nobre missão no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, conquistando seus principais pares, para o bem nacional – ministros Joaquim Levy, Nelson Barbosa, e, faça do ministro Armando Monteiro do Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio (MDIC, Brasília/DF) aliado para o front de batalha. Transforme uma possível ruptura com o MDA, em uma digna disruptura, onde o cooperativismo é a única possibilidade de êxito, e compreenda que o segmento de hortifrutigranjeiros será um novo poder empreendedor nacional, atraindo e viabilizando a vida digna de milhões em um novo campo… ufa ministra. Chegaremos lá. Nosso amigo comum, Roberto Rodrigues diz: “Cinco são os pilares para se construir um projeto agropecuário: Sustentabilidade, competitividade, orientação a mercados, segurança jurídica e governança”. Eu acrescentaria: Cooperativismo empreendedor, diálogo, negociação e comunicação com o povo. Com o eleitor, o cliente de tudo isso. Ministra boa sorte, afinal sorte existe e faz parte. Faça amigos, e cuidado, os verdadeiros inimigos não são os dissidentes ou os adversários explícitos. Costumam ser os mais astuciosos, secretos e malevolentes sedutores de alta inteligência, costumam prevalecer emergindo do próprio seio dos nossos organismos. Assim sendo, ministra, mesmo que a senhora não vença as próximas eleições, com certeza deixará um legado indelével na história do País, e da sua alma. O Brasil é a causa suprema. Faça por merecer.
José Luiz Tejon Megido, diretor vice-presidente de Comunicação do Conselho Cientifico para a Agricultura Sustentável (CCAS), Dirige o núcleo de agronegócio da ESPM, Comentarista da Rede Estadão.
Artigo publicado na revista FEED&FOOD