Assisti no último domingo no programa Fantástico a história de uma cabeleireira, mãe de um dependente químico, que recorreu ao quadro O Conciliador para tentar um acordo com um determinado plano de saúde e com a clínica onde seu filho esteve internado.
Sem dinheiro e endividada, Rosalina Arantes gostaria que seu filho pudesse dar continuidade ao tratamento, pois, o mesmo precisa de acompanhamento psiquiátrico constante.
O jovem mineiro começou aos 13 anos experimentando maconha e aos 19 conheceu o crack. Hoje com 28 anos perdeu emprego, amigos e a noiva, após roubá-la para comprar drogas.
Recentemente durante uma audiência na 5.a Vara de Execução penal um cliente ao ser indagado a quanto tempo usava drogas, respondeu: maconha não é droga não… é só uma erva que deixa a gente bobo.
Bom, não vou entrar no mérito se maconha é droga ou não, se vicia ou não porque acho que essa questão é muito relativa e pessoal. Cada organismo responde de um jeito à determinada substância. Afinal, somos seres individuais!
Da mesma forma que existem pessoas que precisam evitar o primeiro gole, penso que devam existir pessoas que precisam evitar o primeiro “tapa”.
Anualmente, o álcool é a causa de dois milhões de mortes em todo o mundo. Em 1998, o Brasil ocupava o primeiro lugar do mundo no consumo de cachaça, sendo o quinto maior produtor de cerveja, da qual só a Ambev produzia 35 milhões de garrafas por dia. O álcool é a droga preferida dos (das) brasileiros (as) (69% do total), seguido pelo tabaco, maconha, cola, estimulantes, ansiolíticos, cocaína, xaropes e estimulantes, nessa ordem.1
Segundo um estudo do Hospital da Universidade de Valladolid (Espanha) realizado entre 1980 e 1984, as internações por abuso ou dependência do álcool tendem a ser de homens pobres. A pesquisa realizada com base nos registros de 150 casos do Departamento de Psiquiatria do hospital indicou que os pacientes eram tipicamente trabalhadores braçais sem qualificações, com nível educacional baixo (apenas o curso primário), com idade em torno de 45 anos, casados, moradores de áreas urbanas e com renda baixa (CONDE LOPES, 1990).2
Mesmo não acompanhando os estudos e pesquisas nessa área, eu arriscaria dizer que Mato Grosso não difere de Valladolid. Por vezes, os (as) acusados (os) de cometerem infrações, em seus interrogatórios, alegam que são pobres, trabalhadores (as) braçais e dependentes químicos desde crianças ou adolescentes, além de estarem bêbados(as)/drogados(as) no momento da prática criminosa.
Hoje atuando na Vara de Violência Doméstica e Familiar tenho me deparado com situações extremamente tristes de famílias completamente desagregadas em razão do uso de algum tipo de droga por um de seus integrantes.
No dia 26 de Junho comemora-se o Dia Internacional de Combates às Drogas e penso que a sociedade precisa se posicionar a respeito da legalização da maconha e do uso abusivo de bebidas alcoólicas. Sugiro a organização de uma marcha em favor da sobriedade.
Os nossos jovens precisam ser conscientizados de que as drogas (lícitas ou ilícitas) fazem mal a saúde, podem causar dependência e são fatores determinantes no aumento da violência, além de serem substâncias capazes de adoecer a família inteira, gerando disfuncionalidade em todos os seus membros.
Tânia Regina de Matos
Defensora Pública nas varas de Violência Doméstica e Familiar e Execução Penal de Várzea Grande
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1 e 2 A Questão de Gênero no Brasil Maria Valéria Junho Pena, Maria C. Correia, Bernice Van Bronkhorst, Isabel Ribeiro de Oliveira