PUBLICIDADE

Mar… ia 

Emanuel Filartiga Escalane Ribeiro  é promotor de Justiça em Mato Grosso 
PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Todos escrevemos, mesmo que não seja no papel. Ainda que não escrevamos estritamente, lançamos palavras e dizeres nas linhas da vida. Mas para aqueles que vivem, de modo incorrigível, distraídos das coisas mais importantes. Aqueles que, com o comum correr quotidiano, se aquietam, ficando autômatos, esquecem-se de muito. Digo isto. 

Escrever não pede rigorosamente especialização, letramento ou gramática. Não exige que eu passe numa prova, ou mesmo que eu obtenha nota acima de 7 (sete). Não preciso de diploma, publicação. Nem grande tempo, nem muito trabalho me solicita a escrita. Porque viver não me pede nada disso. 

Mas me quer a inteireza, algo mais dentro do que a minha inteligência, uma coisa mais do que eu posso conter, do que eu possa exercer a ação restrita. 

Pede-me amor. Como o amor impede a morte! 

Requer de mim coragem para que eu arranque do meu dia a dia o invisível, o mistério, o quebrado. Viver é um rasgar-se e remendar-se. 

Um cuidado no olhar e no ouvir. Angelus Silesius disse: “Temos dois olhos. Com um contemplamos as coisas do tempo, efêmeras, que desaparecem. Com o outro contemplamos as coisas da alma, eternas, que permanecem”. Rubem Alves emendou: “Temos dois ouvidos. Com um, escutamos os ruídos do tempo, passageiros, que desaparecem. Com o outro ouvimos a música da alma, eterna, que permanece.” 

Quando escrevemos o livro da vida somos pescadores… quem sabe querendo um pegamos outro. 

Ao escrever vejo um pouco do que sou, vejo meu caminho – não há caminho – e embora saibamos que o amor nos conduz, não sabemos para onde. Escrever é uma montanha crescendo. 

E da tristeza. Ora! isso não é coisa nova nem especial, é comum e justa. Adélia ensaiou: “por prazer da tristeza eu vivo alegre”. Porque escrever é ter compaixão, é sentir a tristeza de um outro. 

Jamais termina meu caminhar, meu andar em textos, procurando palavras. E minha vontade de alegria, de criar amor e nascer palavras, não pertencem a mim. 

Estou no avião, minha vizinha de poltrona perguntou para onde viajávamos. Disse que estava levando minha filha para ver o mar. A moça disse que ela não vai querer ver mais nada depois de ver o mar. Sorrimos! Ela vai querer ver o mar, o martudo, depois de ver o mar. Espero que não suje os olhos. 

COMPARTILHAR

PUBLICIDADE
PUBLICIDADE

Mais notícias

Conviver com a violência

Todo dia recebemos notícias de um conhecido ou amigo...

A sustentabilidade registrada

Em ano de COP29, em Baku e G20, no...

O caso de um pescador…

Atuando em processos em segunda instância no Tribunal de...

Cada um ao seu tempo

O tempo é apenas um meio de nos prepararmos,...