Brasil, 5 de agosto de 2012.
Nesta semana, a greve das IFES – Instituições Federais de Ensino -, bem como de diversas categorias do serviço público, completa 80 dias, sendo a maior greve realizada pelo movimento sindical. Segundo o Andes, são 91 IFES em greve e mais de um milhão de alunos sem aulas. Nesta pauta, estão exigências que, senão, justas, são minimamente dignas para a continuidade da excelência de ensino dessas instituições e respeito aos seus docentes e alunos. O país vivencia uma fase única na qual estão sendo abertas inúmeras vagas para o ensino superior nas universidades e centros técnicos federais, o Reuni. Essa iniciativa apregoa, segundo o portal do MEC, dobrar o número de alunos nos cursos de graduação em dez anos. Iniciativa mais que louvável, principalmente, na atual fase econômica do país, a qual exige mão de obra qualificada para não frear o desenvolvimento.
O problema maior é a presente falta de estrutura que as IFES enfrentam: não há espaço físico para acolher esses estudantes, tampouco professores para tal. Enquanto esperavam pela abertura de novos concursos de docentes pelo governo federal, os professores e alunos convivem com salas lotadas, cargas horárias extenuantes e falta de infraestrutura. Em não raras universidades, professores possuem em suas salas, 70 alunos matriculados em estruturas de metal, nas quais, em dias de chuva, não há possibilidade de continuidade das aulas devido ao barulho. A proposta lançada pelo governo federal disponível no site do MEC em http://portal.mec.gov.br/, diz que o governo está disposto a reajustar o atual salário de alguns dos docentes em 45% ao longo de três anos. Estudos apontam, em contrapartida, que essa proposta gerará achatamento dos salários nesses três anos, ao invés do aumento real pedido. Nada foi dito em relação à infraestrutura das universidades, o corpo técnico administrativo, também em greve, é ignorado e as propostas para o plano de carreira dos docentes são vagas.
O governo, que se diz interessado na evolução tecnológica do país, simplesmente negligencia a presença da maior parte dos pesquisadores brasileiros dentro dessas instituições, os quais possuem os maiores graus de qualificação profissional possíveis e salários não pertinentes perante tais qualificações. Não são raras as descobertas desses pesquisadores, as quais são muito importantes para o país, não somente em termos educacionais, mas também econômicos- por meio da criação de patentes- além de gerar uma visibilidade internacional positiva para o país.
Infelizmente, o problema da desvalorização dos profissionais da educação no Brasil é histórico e chega a ser cultural. É de domínio público que a carreira da educação aqui é sinônimo de baixos salários e falta de reconhecimento profissional. É vergonhoso, mas, principalmente, triste, ver o descaso como a educação é tratada no país. É inconcebível que um país do porte como o Brasil não aceite a proposta de investir 10% do seu PIB, em valores crescentes até o ano de 2023, no setor primordial para o desenvolvimento econômico e em um último nível, humano, de qualquer país: educação. Essa não só é a receita de diversos países, como os novos tigres asiáticos e todos os países desenvolvidos, mas também, é uma exigência da Unesco- Organização das Nações Unidas pela Educação, Ciência e Cultura.
O Ministro da Fazenda, Guido Mantega simplesmente diz não possuir verbas para tal reforma e afirma que com essas cotas "o Estado brasileiro quebra". Estranho é imaginar um país que irá sediar uma Copa do Mundo em 2014 e uma Olimpíada em 2016, as quais deixarão "alguns" legados permanentes para a população, se diz sem verba. Ora, senhores governantes, sabemos que muitas dessas verbas partirão da iniciativa privada, mas que boa parte delas, que não são poucas, sairão do governo. Não é uma questão de fazer dinheiro surgir, ou retirar investimentos de áreas importantes, e, sim, remanejar investimentos de áreas que não são prioritárias para aquelas que são, o que é totalmente viável. Não somos contra a Copa do Mundo ou as Olimpíadas, mas também não estamos vendados o suficiente para não saber que há verbas sim e exigimos que essas sejam aplicadas nos setores que realmente interessam à população deste país.
Esperamos por medidas que realmente interessem a nós e nossos educadores.
Alunos das IFES