O Presidente Lula está devendo explicações cabais e definitivas à Nação sobre o gigantesco esquema de corrupção eleitoral e de compra de deputados montado em seu governo e comandado a partir do Palácio do Planalto.
As investigações das CPIs dos Correios, do Mensalão e dos Bingos, as audiências promovidas pelo Conselho de Ética da Câmara, as diligências da Polícia Federal e os depoimentos já colhidos pelo Procurador Geral da República não deixam dúvidas. Desde janeiro de 2003 funciona dentro do governo um sistema organizado de manipulação de concorrências, achaques a empresas e empresários e desvio de recursos públicos para o caixa 2 das agências do carequinha Marcos Valério para financiar o PT e os partidos da chamada base de apoio do governo no Congresso.
Não se descobriu até agora, é bem verdade, nenhuma prova documental que envolva o Presidente da República com este esquema e que seria o bastante para a sua denúncia por corrupção e para instaurar um processo de impeachment.
Mas todas as informações já levantadas apontam para o Palácio do Planalto. A sociedade brasileira já constatou que um esquema dessa envergadura não poderia funcionar sem a coordenação dos principais assessores do Presidente e sem o conhecimento do próprio chefe do governo.
A responsabilidade política de Lula está evidente, é irrefutável. Daí porque as pesquisas de opinião já mostram a queda na confiança dos brasileiros na figura do Presidente da República. Só mesmo as pessoas menos esclarecidas, que não acompanham o noticiário e as investigações, ainda dão ao Presidente o beneplácito da dúvida. Mas esse grupo da opinião pública vem diminuindo a cada dia. O desgaste da imagem do Presidente já vem de longo tempo, mas agora se aprofundou, ganhou velocidade.
Desde fevereiro de 2004, quando a revista Época trouxe a fita com Waldomiro Diniz tentando achacar o bicheiro Carlos Cachoeira, venho alertando o Senado e a sociedade sobre a corrupção no governo. Na época, pedi a demissão do ministro Zé Dirceu, chefe imediato de Waldomiro e uma investigação profunda das relações entre o governo e o jogo ilegal. O governo fingiu investigar, afastou Waldomiro a pedido, mas Dirceu continuou lá no Palácio do Planalto.
De lá pra cá, denunciei vários casos suspeitos de corrupção no governo, chamei a atenção das autoridades sobre negócios esquisitos efetuados pela administração federal, sobre o aparelhamento da máquina do governo e a falta de transparência nas relações entre o PT e os seus dirigentes maiores instalados no Palácio do Planalto. O governo continuou mudo, não reagiu e nada fez para apurar.
Roberto Jefferson mostrou agora o tamanho do escândalo e a gravidade do caso. Mas o Presidente finge que não perceber isso. Desde as primeiras denúnicas do deputado Roberto Jefferson, Lula deu uma de avestruz. Meteu a cabeça na areia para não tomar conhecimento.
Pressionado pela sociedade, Lula acabou se rendendo às evidências e afastou do Palácio do Planalto o ministro da Casa Civil, o todo poderoso José Dirceu, apontado como o maestro da banda podre do governo. Depois, foi trocando um a um os assessores contaminados pelo escândalo, demitiu presidentes e diretores de estatais. Mas sem nunca admitir publicamente que a gravidade das denúncias de corrupção estavam na raiz desssas mudanças na equipe.
Nas últimas duas semanas, o Presidente Lula resolveu fugir da crise. Em vez de se aconselhar com seus assessores políticos, ouviu os marqueteiros. Montou uma agenda alucinada de viagens aos estados, para encontros com os representantes das camadas mais populares, onde sua popularidade foi menos atingida. E passou a fazer discurso em cima de discurso, condenando “as elites”, pedindo apoio aos pobres para continuar a governar.
Esta semana, se apropriou de uma frase de Zagallo, o penta-campeão de futebol, e anunciou que, se resolver disputar a reeleição,”eles” (os da elite) vão ter de me engolir”.
Lula passou dos limites. Seus discursos revelam total falta de sintonia com a o pensamento da sociedade e absoluta irresponsabilidade diante das denúncias contra seu governo. Parece acometido de autismo. Ignora a realidade e vive num mundo à parte, que começa e termina nele mesmo.
Mas essa tática não funciona por muito tempo. Lula perdeu o carisma e o respeito dos cidadãos. Não lidera, nem empolga. Deveria saber que ninguém pode enganar a todos o tempo todo. O Brasil já está cansado dessas pirotecnias presidenciais. Acabou a boa vontade que ainda havia para com a figura do Presidente.
É hora de Lula descer do palanque e assumir suas responsabilidades de chefe do governo, de chefe-maior do PT e de chefe de estado. Ele não pode mais ficar calado e nem alegar que só vai responder perante o juiz.
Antero Paes de Barros é radialista, jornalista e senador licenciado pelo PSDB-MT