Kabengele Munanga já ensinava há muito tempo que o racismo brasileiro “não é o pior, nem o melhor, mas ele tem as suas peculiaridades, entre as quais o silêncio, o não dito”.
E uma das suas peculiaridades é esta proeza de existir de maneira silenciosa e invisível, de ser marcante e não ser percebido; marcante no aprofundamento de desigualdades e injustiças para milhões de negros brasileiros e com tamanha naturalidade, sem que seus malefícios à vida destes milhões sejam sequer notados pela parcela mais privilegiada da nossa estrutura social.
Outra de suas peculiaridades é essa característica bem curiosa da pessoa não-negra que não sofre racismo pretender ensinar aos negros que o sofrem diariamente, o que é ou não é racismo. Querer ensinar à vítima, sem viver a sua realidade, e sem conhecer a sua experiência pessoal de humilhação e de sofrimento, quando deve ou não manifestar a sua dor, dor esta que aflora no fundo da alma, e que só é conhecida na devida extensão e profundidade por quem verdadeiramente a vivencia. A quem não a sofre – e nem a conhece – cabe respeitar o sentimento alheio, e condenar sim o agente criminoso que pratica o racismo, mas não a sua vítima.
Em verdade, por exemplo, o persistente racismo suportado por Vinicius Jr. nos campos de futebol espanhóis (e sim, ele o suporta bravamente e com a dignidade altiva de quem luta e resiste) nos leva a uma inequívoca constatação: se nem a fortuna e a notoriedade por ele alcançados merecidamente o protegem do ódio e do racismo, imagine a humilhação e constrangimento a que são submetidos os milhões de negros anônimos por este Brasil brasileiro de preconceitos mil e inconfessáveis!
O racismo em nosso País é um problema sério e grave, e muito mais complexo do que o simplismo da ausência de empatia de quem não vive a sua triste experiência! Não conseguir enxergar que a maioria populacional negra deste País é uma maioria sem poder e marginalizada pela desigualdade de uma sociedade construída em quase quatrocentos anos de escravidão e racismo, é o exemplo acabado de quem só enxerga o mundo pela lente apenas dos seus próprios olhos e pelo interesse do seu próprio umbigo, completamente indiferente à sorte do seu semelhante!
Não é favor e nem mimimi proteger as minorias marginalizadas, é um mandamento constitucional determinado pela Lei Maior do País, a Constituição da República Federativa do Brasil, em seu art. 3°: “Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I- construir uma sociedade, livre, justa e solidária; e IV- promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”.
Cabe absolutamente a todos obedecer e cumprir a Constituição Federal, pois como bem lembra o Prêmio Nobel da Paz, Martin Luther King: “Quem aceita o mal sem protestar, coopera com ele”.