Tenho visto bons exemplos de pessoas lutando contra a malandragem, a corrupção e o desvio do dinheiro público. Para isso, é preciso ter espírito cívico. Sem essa vontade, tudo se resume a apenas marketing para promoção pessoal.
São tantas as batalhas, e tão poucos heróis. Isso porque o mundo real é muito perigoso. Assim, apenas o espírito público não basta. Tem-se que ter muita coragem para a luta, porque quem se aventura nessa empreitada está sujeito aos mais variados tipos de perseguição, correndo até risco à integridade física.
Quem nunca ouviu falar de Ulisses, o habilidoso, astuto, esperto, ágil e inteligente Rei e guerreiro grego de Ítaca, personagem de Ilíada e Odisséia, épicos de Homero. Além de amor à pátria, tinha muita coragem.
Cada época com suas metáforas e forma peculiar de narrar a realidade de bandidos e mocinhos, de vilões e heróis.
Na atualidade, prefiro o expressionismo, realismo, naturalismo e impressionismo do escritor brasileiro, Raul Pompeia, que no romance “O Ateneu”, descreve um grande internato escolar masculino, no fim do século XIX, localizado no Rio de Janeiro, de regras rígidas, onde o mais forte sempre se dava bem e os mais abastados eram os preferidos pelo diretor do estabelecimento escolar.
Naquela época, qualquer família respeitável tinha que ter pelo menos um filho estudando lá. Narra a história que Franco, que sofria do abandono dos pais, filho de um juiz de Cuiabá, estudou ali. Infelizmente morreu de febre, moleque terrível no imaginário do escritor. Visando vingar-se dos insultos, colocou cacos de vidro no tanque onde os meninos tomavam banho, para que eles cortassem seus pés.
Mas, chama bastante a atenção, a parte da narrativa que retrata o episódio quando o pai deixa seu filho Sérgio na porta da escola para início dos estudos. Disse o genitor ao menino acostumado às barras da saia da mãe: – Vais encontrar o mundo. Coragem para a luta.
E logo o garoto descobriu que a realidade, a selva do dia a dia da convivência social,
nada se parece com aqueles dias festivos, de tapinhas nas costas, de fingimentos de amizade, de paparicação.
Por isso, deve ser dito aos jovens idealistas que se empenham em combater à corrupção: vais conhecer o mundo, coragem para a luta.
O mundo não muda. Olhe para as crianças e tente achar notícia de que alguma andou antes dos dez meses ou depois de 01 ano e pouco. Se houver, é exceção.
Quem verdadeiramente luta contra a corrupção com a coragem necessária, é uma agradável exceção, pois não é fácil pisar firme em areia movediça. A cada um Deus dá o seu dom. Se a você deu coragem para lutar contra os corruptos, honre-a, porque isso é bom.
Arnaldo Justino da Silva é Promotor de Justiça em Mato Grosso