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Jesus Cristo não é cabo eleitoral

Luiz Henrique Lima é professor e Auditor Substituto de Conselheiro do TCE-MT.
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Como aprendiz do Evangelho, fico indignado quando vejo o nome de Deus ou o de nosso Mestre Maior Jesus Cristo ser invocado para justificar a preferência por esse ou aquele candidato/candidata. Esse tipo de expediente tem sido banalizado, desde eleições para síndico de prédio, diretor de escola e conselheiro tutelar até cargos legislativos e mesmo presidente da República.

Apresenta-se determinado postulante como ungido pelo Altíssimo, desqualificando-se de imediato todos os demais. E frequentemente são nebulosos, contraditórios ou comprometedores os antecedentes de quem se traveste de porta-voz da divindade para, sempre com algum interesse material bem concreto, indicar aos fiéis a quem sufragar nas urnas.
Quando presencio tais despautérios, recordo-me de algumas passagens evangélicas:

“Nem todos os que me dizem: “Senhor! Senhor!” — entrarão no Reino dos Céus; apenas entrará aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus.” (Mateus, 7:21)
“Meu reino não é deste mundo.” (João, 18:33)
“Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus.” (Marcos, 12:16)

E ainda o Segundo Mandamento da lei mosaica: “Não pronunciareis em vão o nome do Senhor, vosso Deus.”
Na história humana, o resultado sempre foi trágico quando se utilizou a fé religiosa como instrumento de conquista ou de manutenção de poder. Intolerância, fundamentalismo, perseguições, fogueiras inquisitoriais, guerras religiosas, terrorismo, a lista é bem extensa.

Mas, ainda assim, proliferam tentativas de converter em guerra santa as disputas eleitorais republicanas.
Como cidadão, repudio essa prática.

Como cristão, enoja-me ver a sublime mensagem do Mestre do Amor e da Vida sendo profanada, distorcida, envenenada e reduzida a um mercadejar imundo de troca de favores mundanos.
Quem abraça a doutrina cristã adota a fraternidade, a igualdade e a liberdade como princípios norteadores de sua conduta.

Quem consegue absorver uma só linha da Boa Nova – a do amor ao próximo – jamais se alinhará com quem prega a violência, o ódio, a discriminação racial ou de gênero e a apologia a chacinas e a torturadores.
Quem aspira se tornar um fiel discípulo de Jesus Cristo não se ilude com “os falsos profetas, cobertos de peles de ovelhas e que por dentro são lobos rapaces” (Mateus, 7: 15).

Quem busca a luz e o caminho do bem não admite a manipulação eleitoreira de sua fé e não cairá nas armadilhas retóricas de espíritos trevosos.

 

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