Na semana passada analisei a marolinha das declarações do senador Jarbas Vasconcelos, na sua súbita autocrítica, ao afirmar que o PMDB é um partido corrupto. Corrupção é um mal que assola não apenas os partidos, mas o Estado de uma maneira geral. E isso gera cultura, afeta os mercados, a tão decantada iniciativa privada. Qual a origem, por exemplo, da crise financeira mundial a que estamos todos submetidos, senão a corrupção de meia dúzia de parasitas do mercado financeiro americano?!
Mas, no artigo anterior, puxei o viés de que as críticas do quase irretocável Jarbas não eram necessariamente honestas, pois visavam tão somente azedar um pouco as articulações no interior de seu partido para levar o PMDB a uma aliança eleitoral, em 2010, mais próxima do PT. Jarbas, como se sabe, desejaria uma aliança em prol de José Serra.
Anteontem (09.03), durante aula inaugural que proferiu aos estudantes da PUC de Campinas, o irretocável senador Pedro Simon tratou do verdadeiro problema do PMDB, ao menos o seu principal: a falta de projeto de poder.
Ao seu estilo contumaz e loquaz, Simon afirmou que “a cúpula do PMDB se vende por qualquer dois mil réis” e que o partido não tem projeto para chegar à Presidência da República, mas sim para “conseguir alguns carguinhos”. A declaração, repercutida por toda a imprensa paulista, está no blog do próprio senador (http://senadorpedrosimon.blogspot.com/). E acrescentou: “O problema do PMDB – grave, mais do que os outros -, é que o PT é um partido que quer chegar ao governo, o PSDB é um partido que quer chegar ao governo e, no PMDB, a cúpula se vende por qualquer dois mil réis e não quer chegar no governo, quer pegar uns carguinhos”.
Pedro Simon sabe que o debate mais importante ao PMDB é este, muito mais que a marolinha do quase irretocável Jarbas. Fundado em 1966, como MDB (a resistência consentida aos militares), e refundado com a sigla atual em 1980, o PMDB há tempos ostenta o título de maior partido brasileiro, possui na atualidade o maior número de filiados, de prefeitos, de deputados estaduais e federais no país, detém a maior bancada de ministros no governo do presidente Lula e dirige as duas casas do Congresso Nacional. Mas nunca elegeu um presidente da república!
E ao que parece, nunca elegerá. E por uma razão muito simples: o partido se recusa a desenvolver um projeto concreto de poder, preferindo o jogo parlamentar de dar apoio em troca de cargos.
Além de seus próprios quadros, que são inúmeros, a conjuntura aponta para uma possibilidade real de o partido de Tancredo Neves, UIysses Guimarães e Teotônio Vilela buscar a filiação de Aécio Neves e disputar pela primeira vez na vida, com densidade e viabilidade eleitoral, a presidência da República. Mas, isso, se o projeto partidário de poder tomasse o lugar das disputas entre as castas internas por poder.
Essa característica peemedebista acaba por afetar seu comportamento em outros estados. Como em Mato Grosso. O partido tem pela primeira vez desde a eleição de Carlos Bezerra uma chance real de disputar o governo de Mato Grosso, com o nome do vice-governador Silval Barbosa.
Político habilidoso, diplomata, conciliador, cuja principal característica é cumprir os acordos, Silval tem conseguido, por exemplo, conviver com os atritos entre o governador Blairo Maggi e seu partido. E sem ser atingido, até o momento, por fogo amigo. Talvez alguns estilhaços lhe tenham acertado. Mas, apenas escoriações.
Os últimos movimentos até que são interessantes, segundo se lê nos jornais. A bancada estadual, que nunca foi situação tampouco oposição – ou seja, que tem sido genuinamente peemedebista! – teria concordado em deixar de fazer o jogo dos interesses meramente pessoais para finalmente compartilhar o jogo partidário. Carlos Bezerra até teria ralhado com Zé do Pátio, o menino maluquinho da sigla, na intenção de resolver um fosso tosco que restou da eleição de Rondonópolis entre o prefeito e o governador. Briga de perde-perde. Pirraça de meninos mimados.
Mas, no fundo, ainda não resolveu a questão principal: tornar Silval Barbosa oficialmente seu pré-candidato a governador, buscar o apoio do governador Blairo (simpático a Silval) e do PR (que acaba seguindo Blairo), mas não condicioná-lo, e buscar construir uma aliança representativa com os demais partidos da base da coalizão estadual. Curiosamente, esse malabarismo da relação do partido com o governo criou uma condição que permite ao PMDB, e somente ao PMDB, trabalhar também possibilidades de aliança com os grupos de oposição, caso não se viabilize a aliança na coalizão governista.
Ou seja, as condições de o PMDB viabilizar a eleição de Silval Barbosa ao governo são as melhores da história do partido em Mato Grosso, desde a eleição de Bezerra, em 1986. Resta saber se vai prevalecer aqui o espírito do quase irretocável Jarbas ou a do irretocável Simon.
Kleber Lima é jornalista e consultor de marketing em Mato Grosso