Ao longo do tempo convencionou-se dizer que campanha eleitoral é algo que nasce chata, desenvolve-se de forma cansativa e se encerra de maneira insuportável – podendo haver variação entre o tempo e o adjetivo. A campanha em andamento tem sido uma particular exceção. Todos os adjetivos usados para condenar o período foram escancarados logo no início.
A culpa?!
Bem, a culpa poderia ser das chamadas mídias sociais, mas como elas por si nada fazem, penso que devemos chamar à responsabilidade aqueles que estão por trás, alimentando a fornalha desse trem desgovernado que tem sido a maneira de se chegar ao eleitor.
A sucessão de erros começa com uma assessora enviando a outra uma relação de e-mails dos veículos de comunicação e profissionais das mesmas. Nada errado, não fosse o fato de que mandou a lista pra quem pediu e para todos os que seriam objeto da mesma, deixando claro o amadorismo no uso da ferramenta mailing. O que deveria ser um exemplo do que não fazer, tornou-se exemplo do que fazer. Desde então, todo material enviado tem deixado a mostra a relação de e-mails dos destinatários.
Quando acredito que nada mais possa me surpreender nesta campanha pela pressa e falta de atenção, eis que recebo um e-mail vindo da assessoria de comunicação do "Jed Clampet" sinopense. A mensagem trazendo ao topo o personagem com seu indefectível sombrero, começa tentando me fazer acreditar que sou o culpado pela chaga; ou seja, se a recebo é porque "implorei" por isso. Naturalmente que implorar não foi a palavra usada. Abrandaram o termo, sem abrandar a essência da ação, dizendo que eu me inscrevi no serviço ao acessar o site do candidato. Óras; sequer sabia que ele tinha um endereço na web, e mesmo que soubesse não perderia meu tempo visitando, tanto quanto não o faria por candidato algum que tenha se apresentado para as próximas eleições. Não fosse esse um problema considerável a administrar, descubro que o link para autoexclusão não funciona. Remete para uma página inacabada ou com código truncado.
Não há em minhas declarações qualquer traço de aversão aos candidatos, mídias usadas e muito menos às propostas (todas manjadas), mas a forma desastrada com que esse trabalho tem sido feito. Além do mais, o esforço dispendido em alimentar os veículos com as fresquinhas do candidato é infrutífero por duas básicas razões:
– A legislação eleitoral pode punir o veículo se não houver espaço igual para todos (e acreditem; nunca há e isso se dá pela segunda razão).
– Cada veículo tem seu representante previamente escolhido e se não podem encher da bola do seu também não podem esvaziar a do outro.
Feito o desabafo, aproveito para agradecer aos tantos endereços de e-mail que recebi nos últimos dias. Em breve hão de me ser útil, com a promessa de que não repetir o erro dos especialistas em campanha; o de invadir sistematicamente a privacidade de quem quer que seja.
Clayton Cruz é entusiasta das letras, radialista em Sinop e blogueiro aposentado; ou melhor, em estado de hibernação.