Engana-se quem pensa que as atitudes não permanecem vivas durante longo tempo causando repercussões. O Brasil foi dividido entre ideologias que não representam a alma dos brasileiros. Na prática foi o "nós" e "eles". Legitimidade zero!!! Neste momento profundo clima de instabilidade assola o país. Sua solução não implicará na solução do conflito. Ao contrário, parece que vai aumentá-lo por conta do clima pesado de intolerância que se estabeleceu.
Se, de um lado, é um desafio pra política, pros partidos, pros agentes públicos se adequarem minimamente ao novo desejo coletivo, por outro lado, a sociedade também está em cheque porque perdeu a sua capacidade de pensar coletivamente os seus interesses. Podemos então admitir que estamos no fim de uma era de separação entre o Estado e os cidadãos. A morte dos partidos políticos, gradual e firme nesses últimos 20 anos, matou a representação dos cidadãos através dos parlamentos. Sem partidos vivos, parlamentares estão sem representação viva.
Talvez mais difícil do que recuperar o país em frangalhos seja recuperar a serenidade entre todos os protagonistas desta crise: governo, governantes, parlamentares, partidos políticos, cidadãos. Criou-se um abismo muito intolerante separando todos esses agentes. Desde o pagamento dos impostos sem o respectivo serviço público, até a ausência formal do Estado nas coisas mínimas dos cidadãos. Começa na falta da creche e termina na escola ruim. Passa pela cadeia, pela penitenciária e termina nas estradas sucateadas e nos portos controlados por sindicatos ideológicos que não embarcam e nem desembarcam mercadorias à altura da necessidade nacional. E por aí afora…
A falta de fé dos cidadãos é coisa que leva tempo pra ser recuperada. O aprendizado de pacificação vai levar tempo, porque todos os setores da sociedade estão intolerantes e raivosos. Em casos de guerra, leva décadas até as pessoas retomarem à vida normal dentro das novas condições. Será o caso do Brasil. Aqui tem tudo pra fazer: política, economia, gestão pública, espírito público, espírito dos cidadãos. Será como sair de uma guerra que durou muito, Nada do que funcionava antes funciona agora. Mas terá que funcionar.
Teremos nesses próximos tempos um longo aprendizado de sobrevivência.
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso