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Inadvertidos

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Aprendi com o amigo Benedito Zacarias, ou simplesmente Professor Zacarias, dia desses, um conceito filosófico sobre inadvertência. O inadvertido seria aquele sujeito que, muito embora todas as evidências de um processo estejam colocadas bem diante de seu nariz, ainda assim ele não consegue racionalizar o processo.

Os inadvertidos são acríticos, mesmo que o óbvio ululante os esmague. Não refletem. Não abstraem. Não ampliam seu foco. Não problematizam nada. Decerto são daqueles que pensam: “O que não tem solução, solucionado está”. Mas se esquecem da conclusão dessa frase de Plutarco: “É preciso viver, não apenas existir”.

Eu me lembrei da conversa que tive com o Professor Zacarias, em minha casa, na companhia do amigo advogado Diogo Sachs, há cerca de duas semanas, ao ler o noticiário do final de semana, informando que os vereadores de Cuiabá aprovaram um projeto de lei restringindo o uso do passe livre pelos estudantes somente ao período escolar. E em seguida, a reação do prefeito Wilson Santos, que anuncia que não irá sancionar tal projeto por uma razão muito simples: a medida geraria muito desgaste num setor em que ele já está deveras desgastado.

E o que tem isso a ver com inadvertência?, deve estar se preocupando aquele que se deu ao trabalho de acompanhar o texto até aqui. Explico.

A maioria dos vereadores de Cuiabá recebeu, pelo menos uma semana antes de tal votação, uma pesquisa da KGM intitulada “Percepção dos Cuiabanos sobre os Vereadores de Cuiabá”.

Entre outros dados relevantes sobre como são percebidos pela população, os nobres edis (ao menos os que leram o estudo) descobriram que uma das poucas positividades da Câmara Municipal é a aprovação do Passe-Livre para os estudantes.

Para a pergunta “você se lembra de alguma ação ou medida importante que um vereador tenha feito por Cuiabá”, 80,4% disseram que não se lembravam. Entretanto, dos 19,6% que responderam afirmativamente, 43,9% apontaram espontaneamente “o passe livre para estudantes” como a medida ou ação mais importante que os vereadores fizeram por Cuiabá.

Ora, no meio de tantas negatividades, ignorar o fato de o passe livre corresponder à metade dos inputs positivos de memória da população sobre seu trabalho, segundo a amostra pesquisada, faz dos 15 vereadores que aprovaram o tal projeto de lei exemplos insofismáveis de inadvertência política.

Inadvertência, apenas para nos lembrarmos do que nos ensina o Professor Zacarias, é o ato de ignorar os fatos, preferindo agarrar-se à fantasia. O dicionário nos dá definições mais simples, tais como “distração” e “irreflexão”.

E essa inadvertência pode custar ainda mais caro aos vereadores, na medida em que o prefeito anuncia que não sancionará o projeto restringindo o passe livre (que Wilson Santos tem vendido aos quatro cantos como o “maior programa de transferência de renda do Brasil”).

O que fazer agora? Enfrentar o prefeito, derrubar seu veto e promulgá-lo assim mesmo? Isso não aumentaria sua inadvertência? E consequentemente isso não aumentaria a insatisfação da sociedade com a medida? Ou vai retratar-se perante o público, admitindo, simplesmente, que votou inadvertidamente o projeto? Creio que esta última seria a melhor opção. Quer dizer, a segunda melhor. Porque a melhor mesmo é ficar mais advertido doravante, e entender que embora o microcosmo do Plenário da Câmara possa se parecer com o mundo, não o é. O mundo é grande, como dizia Drummond.

Kleber Lima é jornalista pós-graduado em marketing e consultor político [email protected]

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