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Guerra simbólica 2

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As eleições são cada vez mais um processo de teatralização. Os candidatos não são apenas pessoas filiadas a partidos. São personagens tentando representar papéis que sejam capazes de ativar o sistema simbólico dos eleitores, a sua platéia, para sensibilizá-los a dar-lhes o voto como prêmio. Isso tudo afasta a idéia rasa de teatralização como ilusão. Como diz Renato Janine Ribeiro, “teatralização é tudo, menos uma falsidade (…) Trata-se de um procedimento no qual extrema atenção se dá ao engate entre forma e conteúdo, significante e significado, operação e espírito”.

Além dos fatores já citados no artigo anterior (despolitização da massa, enfraquecimento dos partidos, etc.), há os fenômenos descritos por Guy Debord (Política como Espetáculo) e Bernard Manin (Democracia do Público). O primeiro indica que um “reduzido grupo de especialistas e políticos profissionais participa da cena política como atores, enquanto a grande maioria da população toma contato com esse mundo através da mídia na qualidade de espectadores (…)”; e o segundo sustenta que “esse modelo é marcado pelo enfraquecimento dos partidos, pela personalização do poder, pela forte presença da mídia e das pesquisas, pela transformação das características dos políticos, acentuando-se os seus atributos de comunicadores”. (SILVEIRA, Flávio Eduardo, 2000. KONRAD ADENAUER STIFTUNG).

Nessa busca pelo estabelecimento de uma relação cognitiva com os eleitores, os candidatos normalmente assumem quatro arquétipos básicos, como ensina Carlos Manhanelli nos seus cursos de marketing político: a) Homem Simples; b) Líder Charme; c) Pai de Todos ou Pai dos Pobres; e Herói ou Salvador da Pátria.

Há inúmeros outros arquétipos, evidentes, mas a maioria dos conhecidos deriva desses quatro. Exemplos podem ser encontrados nas campanhas de Lula desde 1989 (Pai dos Pobres), Fernando Collor na campanha presidencial (Herói travestido de Caçador de Marajás), e Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998 (Líder Charme, na figura do intelectual de esquerda, poliglota, professor universitário, etc.).

No artigo anterior explorei o exemplo de Wilson Santos, que vestiu o personagem de Galinho, “líder popular emergido do seu do povo”. Perfil que se encaixava, portanto, no Herói do Povo (embora WS seja professor de cursinho e possua boa retórica política).

Esse papel, nas próximas eleições, ao que parece pertencerá a outros candidatos. No presente momento, Walter Rabello e Sérgio Ricardo convencem mais nesse papel, por suas características naturais de políticos-comunicadores de linhagem popular, com forte exposição de mídia e domínio das técnicas televisivas e discursos simplificados.

Carlos Abicalil é o que mais se aproxima do Líder Charme. Sua bagagem intelectual, sua imagem ‘clean’ e seu vocabulário denso satisfazem o segmento mais intelectualizado dos eleitores. Já Valtenir Pereira está entre o Charme e Homem Simples, sobretudo por sua história pessoal envolvendo a morte do pai, em parte responsável por suas vitórias eleitorais até aqui.

Sobre os discursos, os elaborados e complexos, embora empolguem acadêmicos e intelectuais, são de pouca valia numa disputa eleitoral. O discurso eleitoral é feito para a massa, por meio de canais de massa. Ao falar na TV, o candidato fala para milhares ou milhões de pessoas invisíveis, que o percebem pela tela da TV ou pelo som do rádio. Uma a uma, mas simultaneamente. Isso é muito diferente do falar num diálogo entre poucas pessoas ou mesmo num comício com milhares.

E tudo que se destina à massa deve passar pelo processo de simplificação, porque o objetivo é atingir a maioria das pessoas, logo, deve-se equalizar o discurso para os de menor entendimento.

Discurso eleitoral é uma das principais formas de expressão dos símbolos eleitorais ou arquétipos. Mas, não é a única e em alguns momentos não é a mais importante. O personagem é visto por seu conjunto. Gestos, vestuário, expressões corporais, atitudes, jeito de andar, tom de voz, tudo compõe o personagem. Por isso não se deve montar um personagem artificialmente. O posicionamento proposto, para ser vitorioso (ou seja, para estabelecer uma relação simbólica com o eleitor) precisa basear-se em dados críveis, naturais, de certa forma espontâneos. Vestir o personagem inapropriado é igual a sapato apertado: mais cedo ou mais tarde calos surgirão e você começará a mancar.

Kleber Lima é jornalista pós-graduado em marketing e analista político.

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