A geração nem-nem é um termo utilizado para descrever pessoas que não estudam nem trabalham. São geralmente jovens, de idade entre 18 e 24 anos, que não estão ocupados em nenhuma atividade profissional ou estudantil.
Com base apenas no termo, podemos ser induzidos a imaginar jovens em boas condições financeiras, que passam o dia deitados, mexendo no celular ou jogando vídeo game com os amigos, desmotivados a estudar e trabalhar.
Contudo, por mais que existam jovens nessas circunstâncias financeiras e de comodismo, a geração nem-nem é o coletivo dos jovens em situação de vulnerabilidade social que não conseguem emprego e também não estudam.
É o que constatam inúmeras pesquisas sobre o assunto. No mundo, um quinto dos indivíduos com idade entre 15 e 24 anos são classificados como nem nem. No Brasil, 35,9% dos jovens de 18 a 24 anos estão nessa situação, de acordo com um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apresentado no Education at a Glance 2022.
Em artigo publicado no Journal of youth Studies, em 2022, tendo o Brasil como estudo de caso sobre a exclusão social juvenil, os autores identificaram que os locais com maiores coeficientes de desigualdade social e níveis de criminalidade são mais propensos a ter maior proporção de jovens fora das instituições de ensino e do mercado de trabalho.
O especialista em políticas públicas, Armando Simões, analisou os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), no período 2001 a 2012, e constatou que o perfil do nem nem “tem um forte viés de gênero e de renda, atinge desproporcionalmente as mulheres, e, dentre essas, as mães das camadas de renda mais baixa…”
Em 2009, a Organização Internacional do Trabalho já alertava sobre a geração nem nem afirmando que “a exclusão social, a precária inserção no mercado de trabalho e a falta de uma educação de qualidade e do acesso a um trabalho decente não apenas impedem o pleno exercício dos direitos de cidadania de um grande contingente de jovens brasileiros, como também comprometem sua vida futura.”
O impacto na educação é revelado no censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, que aponta aumento nas desistências dos cursos superiores. Em 2020, a taxa de desistência acumulada foi de 59%.
Em relação ao trabalho, deve-se considerar que esses jovens fazem parte da População Economicamente Ativa-PEA. Com um grande número que não trabalham e nem estudam, a PEA pode ser afetada negativamente. Isso porque muitos podem se tornar dependentes de programas sociais, o que aumenta os gastos do governo com assistência social.
Por ser um fenômeno de múltiplos fatores, é necessária a adoção de medidas para amenizar ou sanar esse problema complexo, que envolva o comprometimento de toda a sociedade.
As políticas públicas devem convergir para garantir trabalho e educação aos jovens, sendo aprimoradas para garantir o ingresso e a permanência dos estudantes na escola e na educação superior. Por parte da iniciativa privada, as instituições de ensino devem fomentar bolsas de estudos para jovens carentes, que necessitam desse suporte.
Em relação ao mundo do trabalho, as políticas devem ser no sentido de favorecer o primeiro emprego e, por meio de leis e incentivos fiscais, apoiar as empresas na contratação de jovens. Por fim, os direcionamentos devem ser tomados considerando as diversas combinações entre trabalho, estudos e vida familiar da juventude brasileira.