Que em 2024 nós tenhamos pressa. Não no trânsito e nem no sexo, mas no mundo inteiro que há dentro de cada um de nós, e nas pontes entre o nosso eu e os de quem amamos ou com quem convivemos. Pressa de mudar, crescer, aprender; de abandonar aqueles hábitos, ah, que réveillon após réveillon prometemos a nós mesmos que iriamos deixar, e também de criar os hábitos que já decidimos que iríamos adquirir. Pressa de demonstrar sentimentos bons; de perdoar, de pedir perdão e virar páginas que pesam a vida – a nossa, e a dos outros. Pressa em vencer os medos, a insegurança e a procrastinação, para tirar do papel sonhos e projetos, e fazer a vida acontecer.
Cartola cantou que a vida é um moinho. A pressa do cotidiano – massacrante porém necessário – rouba nossa atenção do que é importante: estamos sempre cuidando do urgente, até que outro ano termina e a lista de prioridades continua lá, só na lista. Não depende das circunstâncias, por mais que facilitem, mas de como está dentro de nós, de perceber e resolver os conflitos conosco mesmos e com o mundo, os problemas que todos temos e não enxergamos, ocultos pela nossa mente como mecanismo de defesa: autoengano. Por isso, dos aparentemente mais fracassados aos supostamente bem-sucedidos, tá todo mundo adoecendo em silêncio enquanto posta selfie.
Experiência pessoal: Jesus resolve, mas terapia acelera – infelizmente, ainda há preconceito com esta e o Poder Público não oferece; deveria. Sem saúde mental não há felicidade, e a tendência é roubarmos a alegria de quem está ao nosso redor, também matando seu leão por dia lá fora e por dentro. A vida que captamos pelos nossos sentidos é compreendida a partir do que há na mente, e se ela está em sofrimento, a busca pelo sucesso é compensação compulsiva, como beber litros de água sem jamais se saciar. Que em 2024 tenhamos pressa em matar a sede pra viver em paz, plenos, eliminando grilos e descarregando bagagens desnecessárias; pressa em amar e se amar.
A velocidade do Século XXI pede pressa por saúde mental.