Quando nos graduamos em Medicina um dos momentos mais esperados, tanto pelos estudantes quanto por suas famílias, é o do chamado Juramento de Hipócrates. Presentes nos atos solenes de formatura, as palavras escritas pelo médico grego por volta do século V a.C trazem consigo significado e aplicações atuais, aos olhos da ética e da dignidade. Aplicações estas que podem – e devem, pelo bem comum – nortear o comportamento dos profissionais da área da saúde.
Vivemos tempos que, certamente, não imaginávamos viver. Os efeitos caóticos da pandemia da Covid-19 drenam nossas forças e ânimo, hora após hora. Nas estatísticas, galopam os índices de vidas abrupta e dolorosamente abreviadas. Todos sofrem. Nós, profissionais da saúde, vivenciamos nossas dores e testemunhamos o sofrimento de nossos pacientes, seus familiares e amigos. Hoje, mais do que nunca, nos é premente considerar os princípios apregoados pelo Pai da Medicina.
Nossa tarefa é acolher, mesmo nas situações mais adversas. Acolher as pessoas e cuidar delas unindo ciência e empatia, conhecimento e respeito, aparelhamento e afeto. Neste período, ainda demasiadamente conturbado – mesmo com o avanço da cobertura vacinal, essencial é zelar pelo próximo, praticando a justiça. Este precisa ser o plano, o foco e o propósito do nosso labor.
Neste sentido, avalio ser importante termos em mente que, nestes dias de incontáveis dificuldades resultantes dos efeitos do coronavírus, estamos todos vulneráveis e somos, todos, potenciais pacientes. É fundamental lembrarmos dos colegas e amigos da saúde que perdemos, cuja história foi abreviada pela pandemia. E, mais do que os mantermos vivos em nossa memória, é imperioso que nós, profissionais da saúde, sigamos alicerçados em dedicação, honrando, com nosso trabalho e atitudes, aqueles que hoje vivem em nossos corações e mentes.
Tomo a liberdade de usar este espaço para trazer ponderações que avalio serem úteis e oportunas a todos nós, neste Dia do Médico. Temos estado exaustos, trabalhando mais do que nossas forças permitem, lutando pela vida. Enfrentamos falta de estrutura, de retaguarda, de profissionais. Cada dia findado é, de fato, um dia vencido – que vem acompanhado da certeza que dias melhores ainda devem demorar por vir. E é por isso gostaria de expressar aqui, minha mais profunda admiração a todos os profissionais de saúde que, neste período tão sensível, têm feito da superação sua meta permanente. É uma honra poder chamá-los de colegas.
Que suas forças sejam renovadas juntamente ao nascer do sol. A presença de vocês em cada unidade de saúde, pública ou privada, cuidando das pessoas, evidencia que a ética e a empatia – apregoadas por Hipócrates – seguem latentes nos preciosos profissionais que fazem da saúde a sua verdade vital, sua vocação.