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Estatística duvidosa e responsabilidade

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A análise de dados estatísticos requer do pesquisador um conhecimento científico sobre o real papel dos resultados. Isso começa no planejamento do estudo, o qual vai determinar a confiabilidade e a qualidade da pesquisa. A escolha dos dados estatísticos obedece a critérios metodológicos para que haja o rigor científico e credibilidade nas análises.

Faço essas prévias explanações para comentar a divulgação, da Agência Brasil, dias atrás (13 janeiro), sobre os dados estatísticos originados por uma organização não-governamental mexicana. Essa entidade colocou 14 cidades brasileiras como as mais violentas, dentro das 50 cidades mais violentas do mundo. E, entre as cidades mais violentas, a capital de Mato Grosso.

Todo pesquisador científico sabe que equações matemáticas, testes ou pacotes estatísticos podem fornecer uma resposta ou resultado, caso sejam fornecidos questionários homogêneos para todos os ambientes. No entanto, o fato de haver um resultado, não quer dizer, necessariamente, que este tenha algum significado, isoladamente.

A recopilação dos dados estatísticos do site da organização mexicana, feita pela agência de notícias governamental – replicada pela imprensa nacional e local – não traz informação sobre a origem e confiabilidade dessa entidade denominada Conselho Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal. Nem sequer a Agência Brasil cita como foi feita e originada a pesquisa.

Para aquele que teve o cuidado em realizar uma apuração mais minuciosa sobre a origem da pesquisa no site da entidade mexicana, logo tem a informação, no texto da própria pesquisa, de que os dados foram coletados nos sites do mundo, os quais trazem estatísticas sobre violência.

Ora, sabemos que as estatísticas sobre violência variam de lugar para lugar e de entidade para entidade. O Ministério da Saúde, por exemplo, classifica as mortes violentas como homicídio, ocorridas até por acidentes. Já as entidades brasileiras, reconhecidas por sua relevância e confiabilidade, estudam e fazem o mapa específico sobre a violência no Brasil, para orientação nas políticas públicas – como o Instituto Sangari e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública – classificam como homicídios as mortes por violência e crime de agressão.

Outro ponto crucial da estatística mexicana, não levantado pela repórter responsável pela transcrição dos dados estatísticos, é que os autores da pesquisa fazem a observação que "as informações são consistentes com os números, devemos considerar que faltam dados oficiais confiáveis em alguns casos de cidades e entidades federativas." E nessa pesquisa, nem sequer apareceram cidades africanas e asiáticas, o que demonstra que não pode ser classificada como mundial.

Não posso deixar de destacar que o México, neste ano, está em plena campanha para eleger novo presidente. E a pesquisa destaca 12 cidades mexicanas entre as 50 mais violentas do mundo, numa provável estratégia eleitoral.

E só para complementar: no Anuário postado no site do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Mato Grosso é apontado com a tendência de redução de homicídio. Entre 2001 e 2010 a taxa estadual cai de 38,5 para 31,7 homicídios em cada 100 mil habitantes. Em Cuiabá, nesse mesmo período, houve uma significativa queda nas taxas de homicídios: de 69,5 para 40,1 homicídios em 100 mil habitantes, representando um decréscimo de 42,3%, segundo o Instituto Sangari.

A responsabilidade em divulgar estatísticas de organizações desconhecidas, sem analisar os contextos da origem dessas pesquisas, é um enorme equívoco, o qual pode gerar prejuízos não só políticos, como econômicos e sociais, levando até ao pânico coletivo e insegurança social.

José Lacerda é secretário-chefe da Casa Civil do Governo de Mato Grosso.

 

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