A pobreza, principalmente em sua manifestação mais cruel e desumana que é a miséria, ao lado da concentração de renda, riqueza e oportunidades, da corrupção e da gestão pública ineficiente, ineficaz e atrasada são os principais desafios da grande maioria das sociedades atuais, principalmente das que ainda estão em um estágio de desenvolvimento bem aquém do que o mundo desenvolvido já alcançou há mais de um século. Nosso país, apesar do crescimento econômico das últimas décadas, ainda está neste primeiro grupo.
O Brasil, por exemplo, está entre os dez países com maiores índices de concentração de renda e esta concentração é muito maior na área rural do que na urbana e na região nordeste do que no centro-sul do país. A constatação de que o percentual e o total de idosos tem aumentado de forma muito maior do que o crescimento populacional em geral e que dentro de mais duas décadas o peso dos idosos será muito maior ainda.
O importante para definir as políticas públicas, de forma integrada com vistas a resultados mais efetivos, necessário se torna identificar melhor quem são os idosos no Brasil, quais são suas características sociais, econômicas, culturais, composição de gênero e racial. A população idosa, de certa forma, é um recorte da realidade brasileira, ou seja, uma sociedade estratificada em classes, onde uma minoria de no máximo 10% se apropria de praticamente 50% do PIB enquanto os 20% mais pobres, apropriam de apenas 1% do PIB. A diferença do PIB per capita entre os 20% mais pobres e os 5% mais ricos é de 45 vezes, uma das maiores do mundo.
Em 2010 5,3 milhões de famílias viviam com renda per capita de apenas R$127,50 (um quarto do salário mínimo), 10,6 milhões com meio salário mínimo per capita e 16,4 milhões com no máximo um salário mínimo per capita, ou seja, 58,9% da população brasileira (112,4 milhões de pessoas) tinha uma renda per capita de até um salário mínimo que era de R$510,00 (quinhentos e dez reais). O DIEESE há décadas vem enfatizando que o valor do salário mínimo deveria ser pelo menos 3,5 vezes maior do que o oficialmente definido pelo governo. Em 2011 o salário mínimo era de R$622,00 quando pelos calculus do DIEESE deveria ser de R$2.195,76 reais, para attender o que preceitua a constituição e o poder de compra perdido ao longo de mais de setenta anos, corroido pela inflação.
As informações divulgadas recentemente pelas agências governamentais, como IBGE, Ministério da Previdência e outros estudos indicam 59,7% dos idosos são aposentados, 9,9% são pensionistas e 7,2% são aposentados e também pensionistas, ou seja, 76,8% do total de idosos possuem alguma cobertura de renda de fontes oficiais (sistema de previdência) e 23,2% vivem, sobrevivem ou vegetam sem qualquer fonte de renda certa, dependendo de familiares ou da caridade pública e privada para sobreviverem.
Dos idosos que tem cobertura do sistema de previdência 49% recebem no máximo um salário mínimo e 23,4% recebem entre um e no máximo dois salários minimos. Cabendo aqui um destaque para o fato de mais de 25% dos idosos acabam sendo a única fonte de renda para o sustento familiar. Estima-se que entre 15% a 20% dos idosos vivem abaixo da linha de pobreza.
Outro aspecto que deve ser enfatizado é que 60% da renda dos idosos que ganham até dois salários minimos são gastos com medicamentos, principalmente com doenças crônicas que atngem 75% dos idosos de forma insidiosa e cujos medicamentos e cuidados medicos são elevados.
Menos de 25% dos idosos possuem planos de saúde e ficam na dependência do SUS (sistema público de saúde) e outros programas oficiais, inclusive a chamada farmácia de alto custo e outros programas assistencialistas, cujo funcionamento continua um veradeiro caos em nosso país.
No momento em que o governo e a grande imprensa, a serviço dos interesses dominantes, louvam a "nova classe média" pouco se tem falado que milhões de idosos fazem parte de uma grande massa de pobres e miseráveis que continuam presentes em nosso país, praticamente abandonados pelas familias que também vivem na pobreza e pelos poderes públicos, a quem deveria caber a responsabilidade das ações para resgatar a dignidade e a cidadania de quem no passado, com certeza, contribuiu para a sociedade. Triste do país que não cuida de suas crianças e também abandona seus idosos! Que future esperar?
Juacy da Silva, professor universitário, UFMT, mestre em sociologia, colaborador de Só Notícias.
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