Apesar de todos os anos ocorrerem fenômenos climáticos pelo mundo afora, nos últimos anos eles têm se intensificado em número e em profundidade. Enchentes são um exemplo disso. No mundo inteiro tem sido intensas cada ano mais e deixando mais estragos. No Brasil tem sido exatamente assim. No ano passado as enchentes varreram o Norte do Brasil, o Nordeste, o Sul, o Sudeste inteiro, especialmente Angra dos Reis e Niterói, no Rio de Janeiro, fazendo grandes estragos. Minas Gerais tem sido castigada ano após ano, mas cada vez mais sério. Há dois anos Santa Catarina teve temporais, deslizamentos e muitos prejuízos e mortes. O Paraná teve sucessivos temporais e vendavais. São Paulo está na mídia das enchentes cada vez mais sérias.
Tudo isso traz uma leitura óbvia: o clima está mudando. Mas não muda apenas porque muda. Tudo isso está acontecendo por duas vertentes claras. Uma é a própria maturidade do planeta que traz transformações de épocas em épocas. A outra é o desgaste gerado pela ocupação humana e animal na crosta do planeta. As duas causas se somam e abrem uma terceira vertente de discussão: o momento de transformação universal que repercute aqui.
Essa questão do apocalipse da bíblia que trata esse período de passagem do século 20 para o 21 como um castigo, na verdade reflete o pensamento ético e moral de uma época medieval. Naquele momento foi necessário criar códigos de freio social, sob pena das guerras e das adversidades como clima, doenças, guerras e fome comprometerem a própria evolução humana. Esse freio veio pelo cristianismo, o caminho mais organizado da época. Na realidade, o Livro da Revelação vai muito além da ameaça de castigo traduzida como apocalipse. Como revelação, fala de regeneração dos seres e do próprio planeta. É muito mais abrangente, mais complexo e mais racional do que se pretendeu quando surgiu como uma forma de castigo.
Quando se olha hoje o planeta, tudo está em ebulição. A política, a economia, os espaços de poder das nações tradicionais como Estados Unidos e países europeus, a convivência humana urbanizada e profundamente conflitada. As religiões, o conceito de família, de casamento, de educação, de segurança individual e coletiva, a tecnologia que mudou todos os sistemas de produção e atingiu profundamente a vida de todas as pessoas. Tudo isso está dentro desse conjunto de transformações. Acaba um ciclo e começa outro novo e diferente.
A propósito, pra encerrar, seria o caso de dizer que as enchentes no Sudeste brasileiro, justamente a região mais desenvolvida e urbanizada do Brasil, deixam clara uma nova linguagem de convivência entre o planeta e as pessoas que o habitam nesses regiões atingidas. Isso significa dizer que as águas movem terra, mudam e inundam rios, alagam cidades e fazem encostas e morros escorrerem.
Tudo está em transformação e se espera que a sociedade humana compreenda que vive uma transição muito grande, ainda desconhecida na totalidade das consequências. Mas inevitável. É o caso de se começar a repensar o Homem para o planeta dos novos tempos.
Onofre Ribeiro é jornalista em Cuiabá
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Secretário Adjunto de Imprensa