Para além dos discursos e “comezinhos” fomentadores dos debates, quando o tema é educação, é interessante indagar em quais campos ideológicos a “luta de classes” se trava. O SINTEP, instância deliberativa e legítima, representante dos profissionais da educação, faz um chamamento histórico à classe para de “braços cruzados” exigirem do Governo do Estado de Mato Grosso: Piso salarial de R$ 1.312, ingresso dos aprovados no último concurso público e pagamento das horas atividades aos professores interinos como condição para a Carreira e Valorização Profissional com Qualidade na Aprendizagem.
Os pontos da pauta, fundamentada numa demanda significativa, provoca e fomenta o embate do ponto de vista ideológico que só se consolida e fortalece na luta. Como diz Marx, “de nada valem as idéias sem homens que possam pô-las em prática”. Por essa razão, é imprescindível que os profissionais da educação, na militância, atendam a esse chamamento, fazendo jus ao Sindicato que os representa e com mais de quatro décadas de Luta por uma Educação Pública Laica e com Qualidade na Aprendizagem. Essa práxis exige ação emancipadora e libertária. A greve como instrumento heróico, consolida os ideais de uma classe que protagoniza sua história de luta. Que “ensina” e na práxis, exerce a cidadania.
Assim, segue a reflexão: Discutir Educação, sob a ótica do senso comum, como consequência, efeito e produto, é incorrer na perversa artimanha dos Legisladores e Gestores, que em seus discursos e práticas, em defesa da lógica do impacto, da mercadoria barata e desqualificada, isenta de mercantilismos, ludibriam a sensatez humana. Essa condição, que nega o processo, a construção histórica, é uma forma de velar/ocultar as ideologias subjacentes a essas práticas: A manutenção e reprodução da ideologia dominante.
Nesse sentido, os trabalhadores, Profissionais da Educação, no exercício da função educativa, devem por excelência desvelar essa trama ideológica como práxis pedagógica problematizadora, indagando as causas, efeitos e (im)possibilidades dos eventos: Qual a concepção de Educação e de sociedade dos trabalhadores em Educação? Por quais razões a Educação não se constitui prioridade? Por que os que a ela/dela (se)servem, não a valorizam e/ou não são devidamente valorizados? A quem serve a educação? A práxis pedagógica é de fato libertadora e emancipatória? Qual a concepção de educação do trabalhador e profissional da Educação? O que significa educar para a cidadania? Qual a concepção de trabalho? Ação humana para a liberdade ou para a servidão? Quais as condições estruturais das unidades escolares? E as contradições do contrato temporário?
Na perspectiva da Educação Bancária, transmissora de conteúdo, as respostas são as mais prováveis, entre elas, a caça às bruxas e aos culpados. Na perpectiva dialética, problematizadora, Segundo Kuenzer (2008/2009), a escola que unifica conhecimento, trabalho e cultura, é a formação de homens que se desenvolvem multilateralmente, que articulem sua capacidade produtiva à capacidade de pensar, relacionar-se, desenvolver sua afetividade, de estudar, de governar e exercer controle sobre seus governantes. Ou seja, trabalho na perspectiva da práxis humana e não apenas como prática produtiva, mas como uma das ações materiais e espirituais que os seres humanos individual e coletivo desenvolvem para construir condições da sua própria existência.
Educação de Qualidade não se alicerça/constrói tão somente em fundamentos comuns. Esse entendimento apenas legitima o papel de coadjuvante. Na condição de protagonistas, sujeitos históricos, de pertencimento, essa trama historicamente cruel, vil e ardilosa se desvela, numa dimensão ampla e complexa. O debate que por ora se trava, Valorização Profissional, Carreira e Qualidade na Aprendizagem, residem no FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO.
Aos Companheiros e Companheiras, trabalhadores e trabalhadoras da Educação, defensores de uma Sociedade promotora da Justiça Social; com uma formação política, consciente, de “classe”, cabe, numa perspectiva dialética e dialógica, construir historicamente, nos processos de luta, a problematização e compreensão, não apenas das conseqüências, pois, estas historicamente conhecemos.
Vivemos e sentimos tanto na contra mão da história, mas, principalmente das causas como princípio mobilizador e equalizador das nossas lutas e compromisso do exercício da Cidadania, que supera a dualidade dos espaços e “funções” as quais temporariamente ocupa.
A luta que se trava nesse cenário, demanda o debate das perdas e ampliação dos recursos da Educação conforme preconiza a lei, reforma administrativa, colaboração dos entes federados, combate à política de inserção fiscal, em essência, quem paga o ônus do serviço? Essa é a ordem em defesa de uma Educação de Qualidade para os filhos e filhas dos trabalhadore(a)s do nosso Pais.
Sueleide Alves da Silva Pereira é professora Efetiva da Rede Estadual de Mato Grosso, SINOP- MT