Realizando alguns diagnósticos socioeconômicos em vários municípios do Estado de Mato Grosso, objetivando encontrar alternativas econômicas para melhorar a qualidade de vida dos seus munícipes, encontrava-me num município na região do Araguaia e, já próximo ao horário do almoço pedi a um morador que me indicasse um local para almoçar, e esse recomendou-me que fosse almoçar no distrito daquele município que ficava aproximadamente a uns 100 quilômetros, pois ali não havia um local para se fazer uma boa refeição. Resolvi tomar informações com outros que me disseram da mesma forma e por fim, outro me recomendou uma senhora que servia refeições, cujo paladar daquela simples comida de um sabor inigualável, retornando, por lá voltarei.
Em outra oportunidade em uma escola de ensino médio de um determinado município, fazendo uma fala sobre geração de ocupação e renda voltada para jovens, um dos ouvintes levantou-se e disse: “Aqui não tem jeito, aqui nada vai pra frente, a solução aqui é ir embora”. Este sentimento havia tomado conta não apenas daquele jovem, mas de considerável parcela dos moradores daquela cidade, onde fé, crença e otimismo vinham se perdendo no dia-a-dia daquele povo.
Recentemente, assisti a uma reportagem sobre um Documentário da cidade de Manari-PE considerada o pior lugar para se viver, segundo o PNUD ao divulgar o IDH(Índice de Desenvolvimento Humano) de 2000. A jornalista Valéria Fagundes, natural de Manari, buscou resgatar a auto estima de seu povo e o lado positivo de sua cidade no filme: “Manari – pra nunca mais esquecer”. O que mais me chamou atenção foi a menina Ângela, 11 anos, que ajuda os familiares a vender na feira, mostrando seu gosto pelo trabalho e por sua cidade, bem como, a dona Aristea, 94 anos, de memória impressionante, confeccionista de Chapéus de palha ao declarar: “Nasci em Manari, moro em Manari e vou morrer em Manari”. No IDH 2010, Manari ganhou 12(doze) posições e já não detém mais o título da pior cidade para se viver.
Em outro momento, tive a oportunidade de presenciar uma transação comercial, que ao término uma das partes perguntou para a outra: Você vai me passar cheques de qual Banco? A outra parte, tratava-se de um Gaúcho, que imediatamente respondeu: Só trabalho com o meu Banco! Meu cheque é da minha cooperativa! Meu cheque é do SICREDI. Parabenizo a iniciativa da CNM, pela campanha:“VIVA O SEU MUNICÍPIO – Você Nasceu aqui, não o deixe morrer”. Exercer a cidadania não se trata apenas de movimentos reivindicatórios, cobranças e exigências, mas efetiva participação, envolvimento e, sobretudo comprometimento. Oferecer sua parcela de contribuição somando às iniciativas das entidades organizadas da sociedade civil, participando da política e somando aos interesses coletivos da ordem social, econômica e ambiental de natureza sustentável. Já não conseguimos mais viver num processo de transferência de responsabilidades, chega de resgatar justiça de porta pra fora, façamos a nossa parte, e constituímos crédito para exigir o que cabe aos demais.
Despertar o sentimento de pertencimento constitui também num dos principais desafios para melhorar o desempenho das empresas. Para que uma pessoa sinta-se pertencente à organização, ela precisa de um ambiente propício para que possa ser estimulada a criar e inovar, que tenha responsabilidades e onde o relacionamento entre as pessoas seja baseado na confiança e no respeito. As Nacionais organizadas e as multinacionais são as que mais conseguem estimular o senso de pertencimento, elas proporcionam ao indivíduo a oportunidade de estar informado sobre a organização em que atua, desde o porteiro ao garagista conseguem repassar ao interessado, qual a atividade exercida pela empresa, volume de negociação, área de atuação, entre outras relações da empresa em que trabalha.
Contatos, trocas e maneiras de interpretar o ambiente compõem o amplo e diverso processo cultural e social de um indivíduo, constituindo sua cara, seu jeito, seus orgulhos. Assim, no município, o munícipe deve fortalecer o vínculo e a relação de pertencimento, de fazer parte de uma escola, de uma entidade, de uma cultura, de um povo. Você nasceu aqui, não deixe o seu município morrer, faça como a jornalista Valéria Fagundes, resgate a autoestima dos seus.
Hudson Saturnino é gerente de Desenvolvimento Econômico da Associação Mato-grossense dos Municípios