sábado, 7/setembro/2024
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Dura realidade

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Muitas profissões são difíceis de lidar. Um jogador de futebol, por exemplo, o goleiro Moacir Barbosa da Seleção Brasileira, que ficou marcado pela torcida pela falha que cometeu na final da Copa do Mundo de 1950 contra o Uruguai, no Maracanã, por não conseguir defender o segundo gol na partida de 2×1, que deu o título mundial à seleção celeste. Um médico, que cuidou e curou centenas de pacientes, quando comete um erro, fatal, é punido severamente. Tudo isso, devido ao grau de importância, de emoção ou confiança que aquele ou esse profissional desperta nas pessoas.

Por mais de dois anos que convivo diretamente com o trabalho do policial militar, vejo que essa é outra profissão totalmente difícil de se lidar. No sentido literal da palavra. Sou jornalista e, no último sábado (21.01), tive que dar uma notícia triste a todos da instituição e, porque não, da sociedade. Sim da sociedade. Pois deixou de estar entre nós uma pessoa que tinha como profissão arriscar a vida em prol da segurança pública, ou seja, de todos nós.

Um policial que, acredito que como a maioria, procurava buscar coragem para enfrentar todo tipo de criminoso que assombra a sociedade em geral. Ladrões, assassinos, latrocidas, estelionatários, traficantes, estupradores. Enfim, todo ser desprovido de sentimento de bondade, irmandade, humanidade e remorso. Psicopatas. Pois é com esse tipo de gente que o policial militar tem que lidar diariamente. Gente que, nós trabalhadores comuns, teríamos pavor de estar frente a frente.

Eu que já vi, em operações noturnas que varam a madrugada, o trabalho de policiais sérios e compromissados, senti uma tristeza profunda ao noticiar a morte do policial Alex Oliveira Suzarte da Silva, de 32 anos, assassinado durante confronto corporal com um assaltante, enquanto cumpria seu dever. Emocionei mais ainda, após ler a carta que ele havia escrito dias antes de ser morto. Uma carta-poema que diz um pouco sobre o cotidiano de um policial militar. A angústia, o medo, o perigo, a coragem, o despudor, a confiança e a esperança de chegar mais um dia em casa. Feliz e realizado com mais um dia de trabalho cumprido.

Pelo fato de ser jornalista e assessora de imprensa da instituição já tive que noticiar e repassar informações à imprensa sobre policiais que desviam sua conduta, que se comportam e tomam atitudes como aqueles que vivem à margem da lei. E que por causa desses, os demais, comprometidos com a instituição, acabam sendo nivelados. Por isso, muitas vezes, comove, revolta, e nos deixam perplexos o foco como algumas notícias são veiculadas e que acabam influenciando na opinião das pessoas, especialmente as menos esclarecidas sobre as leis que regem o Brasil.

Em razão de conhecer e ver de perto que a grande maioria dos policiais é como Suzarte era, profissional que, mesmo sem conhecer, mesmo sem nunca ter visto a pessoa, está ali pronto para servir e proteger qualquer cidadão de bem. São por esses policiais valorosos e corajosos que deixo meu pesar à família de Suzarte e minha sincera satisfação em atender e servir à corporação.

Dana Campos – assessora de imprensa da Polícia Militar de Mato Grosso

Leia a carta escrita por Alex:
Enquanto todos dormem, eu estou em lugares inimagináveis, matagais intransponíveis, bueiros fétidos, casas abandonadas, entre outros lugares a que alguém normal se recusaria ir;

Enquanto todos dormem, eu estou em alerta máximo, tentando não apenas defender pessoas que nunca vi, nem mesmo conheço, mas também tentando sobreviver;

Enquanto todos dormem no aconchego de suas casas debaixo dos cobertores, eu estou nas ruas debaixo da forte chuva, com frio e cansado madrugada adentro;

Enquanto todos dormem, eu estou travestido de herói e mesmo não tendo superpoderes estou pronto para enfrentar o perigo, para desafiar a morte e, ‘quiçá, sobreviver";

Enquanto todos dormem, eu estou dividido entre o medo da morte e a árdua missão de fazer segurança pública;

Enquanto todos dormem, eu sonho acordado com um futuro melhor, com o devido respeito, com um justo salário, com dias de paz, mas principalmente com o momento de voltar para casa e de olhar minha esposa e meus filhos e dizer-lhes que foi difícil sobreviver a noite anterior, que foi cansativo e até frustrante, mas que estou de volta e que tenho por eles o maior amor do mundo.

Esse texto eu dedico a todos os policiais que, como eu, só desejam voltar para casa vivos.
Alex Oliveira Suzarte

 

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