Há pouco mais de 40 anos Mato Grosso passou por uma grande crise política quando as forças que se opunham ao então governador Pedro Pedrossian, capitaneadas pela UDN, por pouco não conseguiram aprovar o “impeachment” do mesmo. Foram dias e semanas de muitos debates, manifestações, ofensas e isto, com certeza, repercutia negativamente na imagem de nosso Estado, quando o mesmo ainda não havia sido divido dando lugar `a criação de Mato Grosso do Sul.
Os tempos mudaram, o ciclo dos governos militares chegou ao fim, a “redemocrtização” já está completando quase trinta anos de governos civis, de diversos matizes políticos e ideológicos, mas a corrupção tem maculado esta democracia de fachada em que vivemos.
Conseguimos substituir governos autoritários por uma democracia corrupta, onde todos os anos, todos os meses, enfim, praticamente todas as semanas surgem casos e mais casos de denúnicas de quadrilhas de colarinho branco que assaltam os cofres públicos.
Inúmeras CPIs instaladas no Congresso Nacional, nas Assembléias Legislativas, nas Câmaras Municpais, com a colaboração de organismos policiais federais e estaduais, e dos aparelhos de repressão do Estado como Polícia Federal, ABIN, Polícias estaduais, polícias fazendárias, Ministério Público Federal e MP estaduais, CGU, TCU, TCEs e a imprensa ,com uma frequência que entristece e envergonha a sociedade brasileira, têm vasculhado residências, gabinetes de autoriades do primeiro e segundo escalões dos Governos Federal, Estaduais e Municipais e também dos Poderes Legislativos Federal, Estaduais e Municipais. Nem mesmo o Poder Judiciário e os organismos de controle da União, dos Estados e Municípios têm escapado desses vexames.
Com certeza não pode haver um vexame maior do que os recentes acontecimentos em Mato Grosso, quando as mais altas autoridades e praticamente todos os organismos e instituições públicas acabaram sendo objeto de busca e apreensão por parte da Polícia Federal. Além da prisão de um Deputado Estadual e um ex-secretário que até então gozava de muito prestígio e poder, também o Governador passou por um grande constrangimento ao quase ter que ficar preso por posse irregular/llegal de uma arma de fogo, além de outras denúncias que pesam contra ele e alguns de seus “auxiliaries” próximos.
Mesmo que as prisões que figuras de destaque do mundo politico tenham sido relaxadas, as investigações continuam e a cada dia, seja fruto das analise de dados e informações contidas nos materiais apreendidos pela Polícia Federal ou os constantes dos meios eletrônicos ou até mesmo em anotações e rabiscos que são bem parecidas com a “contabilidade” do crime organizado, das quadrilhas, bicheiros e outros delinquents comuns, esses materiais estão possibilitando `a Polícia Federal e ao Ministério Público Federal desvendarem o que realmente se passava e com certeza ainda acontece nos porões, não da ditadura tão condenada pelos atuais detentores do poder, mas sim, nos porões de uma democracia, relativamente muito “jovem”, como costumam enfatizar os atuais donos do poder, mas sim nos porões fétidos de uma democracia que aos poucos está sendo corroida pela corrupção e pela impunidade.
O que está acontecendo em Mato Grosso não difere em nada do que há anos tem sido denunciado e acontece em todos os Estados e municípios. Um Presidente da República, Ministros, Senadores, Parlamentares Federais, Estaduais, municipais, secretários de Estado e de municípios tem sido denunciados pelos mais variados crimes, a grande maioria ligados a corrupcção ativa ou passiva, formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão temerária e fraudulenta, fraudes em licitações, superfaturamento, enfim, os constantes e eternos ralos por onde escoam a cada ano entre 5% e 10% do PIB nacional.
Vários políticos nesses últimos anos foram presos, algemados e conduzidos a Brasília, onde alguns gatos pingados cumprem pena na Papuda ou em alguns outros Estados. Diversos representantes da chamada classe política renunciaram para escaparem da perda dos mandatos e direitos políticos. Alguns, usando o poder econômico e seus currais eleitorais conseguem retornar ao Congresso e ainda fazem pose de honestos.
Estamos nos aproximando das eleições gerais. Diferente do que o ufanismo pode indicar, fica difícil ao povo escolher seus futuros governantes, principalmente porque quem define os candidatos são os partidos, os quais são práticamente propriedade de alguns caciques e sujeitos aos mesmos esquemas que vez por outra a Polícia Federal consegue desbaratar, mas que a impunidade reinante em nosso país teima em deixar tudo igual ou pior do que está.
Resta ao povo apenas demonstrar sua indignação pelas mais variadas formas, inclusive os protestos e movimentos de massa. Todavia, a paciência e resignação do povo e das massas tem limites, basta ver o que tem acontecido em diversos países pelo mundo afora, inclusive na vizinha Venezuela.
Se os mecanismos democráticos não conseguem colocar um paradeiro na corrupção, um dia a casa cai e aí, não adianta “chorar pelo leite derramado”. O que aconteceu no Egito, na Libia ou está acontecendo na Tailândia, ou na Ucrânia também pode ocorrer em qualquer país, inclusive no Brasil !
Não é justo e nem correto que o povo trabalhe de sol a sol, pague uma enorme carga tributária para que os governantes dilapidem os cofres públicos. A maxima de que “lugar de bandido e de ladrão é na cadeira” também pode ser aplicada aos criminosos de colarinho branco!
Juacy da Silva, professor universitário, titular e aposentado UFMT, mestre em sociologia.
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