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Descrédito ou temeridade?

Claiton Cavalcante Contador Membro da Academia Mato-Grossense de Ciências Contábeis
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O conteúdo das linhas a seguir tem por objetivo ponderarmos sobre a quantidade de eleitores que, foram ou não, as urnas durante a eleição presidencial do primeiro turno e sobre a palavra que virou moda na política contemporânea, a polarização.

Então vamos lá! Pois são números a perder de vista. E visando facilitar a leitura, optei por sintetizar os números. Olha só:

De pouco mais de 156 milhões de eleitores aptos a votar nas eleições presidencial de 2022, o candidato Lula recebeu 57 milhões de votos e no outro polo o candidato Jair Bolsonaro foi merecedor de outros 51 milhões.

E pasmem! Outros 48 milhões de eleitores, optaram por uma “terceira via”.

Ou seja, votaram nos outros noves candidatos. Alguns anularam seu voto, outros votaram em branco.

E outros não foram as urnas. Mais de 20% dos eleitores aptos se abstiveram de votar. Para esses há de ficar claro que não cabe o direito de criticar ou tecer elogios seja para o ganhador ou o derrotado. Pois quem cala consente.

Curioso, isso, não?

Temos ouvido falar diariamente em polarização. Mas será que existe polarização em um cenário com três candidatos (Lula, Bolsonaro e terceira via), em uma disputa parelha como esta onde a diferença numérica do primeiro para o terceiro colocado foi de apenas nove milhões de votos?

A polarização, como o próprio nome diz, vem de polo. Neste nosso caso, está sendo a divisão de nossa sociedade em dois lados com convicções das mais diversas.

E se é polo – lado A e B – então não caberia espaço para um terceiro lado, que aqui no nosso texto leva o nome de terceira via.

Sobre a polarização, o sociólogo americano Paul DiMaggio defende que é tanto um estado como um processo. Como um estado, refere-se ao grau em que as opiniões sobre uma questão estão opostas em relação a um limite máximo a ser posto em prática. Como processo, refere-se ao aumento de tal oposição ao longo do tempo.

O sociólogo também afirma que a polarização pode ser benigna, natural, e democratizante, ou pode ser perniciosa, tendo efeitos danosos à sociedade e congestionando funções democráticas. Essa afirmação trazida aqui para os lados tupiniquins faz algum sentido para você?

Na atual conjuntura política que atravessa nosso país, não posso concordar que existe de fato a polarização. Não enquanto existir um universo de 48 milhões de cidadãos que ignoram os polos A e B da disputa presidencial.

 

O verdadeiro eleitor é perspicaz, por isso, penso que em razão da ideologia dos candidatos remanescentes na disputa presidencial, atrelado ao enorme desgaste político de ambos, é que esses outros 48 milhões de eleitores optaram, talvez, em dar um voto apaziguador para este labirinto antagônico de opiniões no qual nosso país está inserido.

Volto a afirmar que a polarização, no atual contexto, é uma palavra que não enxergo com bons olhos. Sabe por quê?

Porque se um candidato recebeu 57 milhões de votos, outro 51 milhões e outros que somam 48 milhões de expectativas diferentes das duas primeiras ideologias nós não podemos caracterizar isso como polarização. Afinal, que polarização seria essa que ao invés de dois polos possui três?

Para obtermos a resposta eu prefiro levar essa dúvida para o campo da estatística e aplicarmos as técnicas da análise de variância cujo objetivo fundamental é verificar se existe diferença significativa entre as médias das amostras e se os fatores exercem influência em alguma variável. Que variável seria essa? Os candidatos Lula, Bolsonaro e “terceira via”.

E para completar nossa análise estatística fictícia, aplicaríamos o teste ANOVA tendo como outras variáveis a quantidade de votos dos “três” candidatos que somaram, respectivamente, 57, 51 e 48 milhões e aí quem sabe poderíamos saber quem teria razão, isso no primeiro turno.

Ah! Já estava esquecendo: o teste ANOVA compara a média de três ou mais amostras e determina se ao menos uma delas se difere significativamente das demais.

Mas o que me deixa intrigado é que 48 milhões de cidadãos não estão satisfeitos com nenhuma das duas ideologias. É um número expressivo de descontentes.

Como dito no início, esta opinião tem por objetivo refletirmos sobre a quantidade de eleitores insatisfeitos com as duas ideologias. Prova disso foi o enorme percentual de abstenção no primeiro turno. Espero que no segundo turno seja diferente, embora o histórico das últimas eleições confirma maior índice de abstenção no turno final.

Em ótima iniciativa, com a pretensão de combater o grande número de eleitores faltantes, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou prefeituras e empresas concessionárias de todo o país a oferecerem transporte público gratuito no próximo dia 30.

Vamos torcer para o sucesso dessa ação do STF. Porque hoje, quem depende do transporte público para se deslocar até o local de votação fica muito mais caro do que não ir as urnas, pois a multa por cada turno de eleição em que não votou nem justificou é de R$ 3,51, ao passo que o valor médio de uma passagem de ônibus é de R$ 4,50.

Para o segundo turno que se aproxima, deixemos as ideologias de lado, deixemos também a figura dos dois postulantes. Deixemos o candidato Lula, deixemos o candidato Bolsonaro para focarmos nos projetos de governo dessas duas pessoas.

Pois é certo que muitas políticas públicas, seja do Lula ou do Bolsonaro nos agrada e fará bem ao nosso país. Porém, para 48 milhões de pessoas nenhuma das políticas são viáveis para satisfazer as vontades e os anseios de mais de 30% de cidadãos aptos a votar.

Vamos ficando por aqui na expectativa de que no próximo, dia 30, as estatísticas se equivoquem, pois sabemos que historicamente o não comparecimento às urnas no segundo turno é sempre maior do que no primeiro.

E para terminar, fica outra pergunta: E seria a “terceira via”, ou outra alternativa que se coloque entre os polos, a solução para o Brasil?

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