Em meu ultimo artigo destaquei alguns aspectos do processo de envelhecimento da população mundial, onde alguns países já estão há décadas neste processo de transição demográfica, caracterizada primeiro pela queda abrupta dos índices de mortalidade geral e de mortalidade infantil, seguida por redução drástica das taxas de fertilidade e fecundidade, e, como consequência entre os dois fatos, um aumento das taxas se crescimento demográfico, para, finalmente, atingirem taxas moderadas de crescimento, estabilidade demográfica e começarem a experimentar o chamado crescimento negativo ou redução populacional.
Países da Europa e alguns na Ásia, com destaque para o Japão, já estão nesta última fase da chamada “revolução demográfica”, onde o número de pessoas com mais de 65 anos é superior ao da população entre zero (nascimento) e quatro anos de idade. Em termos mundiais é interessante notar que em 1950 a população entre zero e quatro anos era de 335 milhões de crianças e a população com mais de 65 anos era de apenas 131 milhões. Ou seja, para cada idoso existiam três crianças com menos de quatro anos.
Em 2020, as projeções da ONU e de outras instituições que se dedicam aos estudos de projeções demográficas indicam que o contingente de crianças com menos de quatro anos será de 601 milhões e o de adultos com mais de 65 anos será de 714 milhões de pessoas. Este fato terá diversas repercusões na produção/oferta de bens e serviços necessários para atender a demanda das diferentes faixas etárias, inclusive um grande impacto na estrutura do mercado de trabalho, de rendimentos, de jornada de trabalho e nos aspectos de aposentadoria e pensões.
Os países atualmente desenvolvidos conseguiram ao longo das últimas cinco ou seis décadas democratizar e quase universalizaram bens e serviços, pelos seus diferentes segmentos sociais e econômicos e relativamente bem distribuidos pelos respectivos territórios, garantindo um bom nível de vida e conforto para sua população, principalmente tendo em vista o perfil de distrubuição de renda, bem mais equânime do que nos países atualmente sub-desenvolvidos ou em processo de desenvolvimento. O Brasil está entre os dez países com pior distribuição de renda do mundo.
Alguns indicadores determinam o nível de longevidade/envelhecimento da população. Podemos destacar, por exemplo, os índices de mortalidade infantil (número de mortes de crianças com menos de um ano por grupo de mil nascimentos vivos). Esses índices variam de 1,92 no Japão (que ocupa o segundo lugar no ranking de 2011) para 52,9 na Índia (150a posição no ranking mundial, entre 190 países). O Brasil ainda ostenta uma posição bem incômoda 23,47 (109a posição no ranking mundial), abaixo da quase totalidade os países da América Latina e da Ásia.
Outro indicador é a expectativa de vida ao nascer, ou seja, qual a probabilidade que uma pessoa nascida em um determinado país irá viver. Este indicador é destacado em relaçao a ambos os sexos e uma média geral para o país. Mônaco é o país com maior expectativa de vida em 2011 com 85,8 anos, para homens, a China ocupa a 88a posição com 72,5 anos de vida e o Brasil, novamente continua feio na foto, 131a posição com 68,8 anos.
Diversos outros índices estão diretamente relacionados com a longevidade, tanto em termos de experiência individual quanto e principalmente sociais, como acesso a saneamento básico, cobertura vicinal, acesso a serviços básicos de saúde, taxas de mortalidade por violência e também níveis educacionais, de nutrição, condições de habitação, emprego e renda, enfim, qualidade de vida.
Para que a longevidade seja saudável os países devem combater fundamentalmente a pobreza, a miséria e os desníveis sociais, econômicos, setoriais e regionais. Enquanto isto não for feito, com certeza a pobreza , a exclusão social e a marginalização serão as grandes marcas do processo de envelhecimento. Longevidade, neste caso, será sinômico de prolongamento de um sofrimento que para milhões de pessoas vem desde os primeiros dias de vida!
Juacy da Silva, professor universitário, mestre em sociologia
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